Silas Malafaia subiu ao púlpito do templo sede de sua igreja, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec), com um sorriso de canto de boca para iniciar o ato principal daquela manhã de domingo, 8 de dezembro de 2024.
Ele recebeu uma plateia em êxtase após a apresentação da banda da igreja. A formação usa arranjos típicos do pop rock e conta com sete vocalistas. Quando começaram a cantar, as luzes da igreja se apagaram e o público se levantou.
A banda executou a música “Galileu, Jesus”, do astro gospel Fernandinho. A letra combina bem com a mensagem de submissão que Silas Malafaia repete em seus cultos. Logo antes do refrão, os vocalistas repetiram diversas vezes o verso: “Eu me rendo ao teu amor”.
A igreja de Malafaia mais parece uma casa de shows: comporta cerca de 6 mil fiéis confortavelmente sentados em cadeiras estofadas, distribuídas pouco abaixo do amplo palco onde ocorrem as pregações e em um mezanino. A estrutura conta ainda com um sistema de som e iluminação de última geração, além de três enormes telões de alta definição.
Há também um sistema de filmagem para a transmissão ao vivo dos cultos e o registro dos trechos que vão para o “Programa Vitória em Cristo”, atração apresentada por Malafaia na televisão desde 1982, com diferentes nomes. Uma reportagem da revista Época estimou que toda essa estrutura, construída após Malafaia assumir o comando da igreja, em 2010, tenha custado, na ocasião, R$15 milhões.
O pastor vestia um blazer moderno, preto quadriculado, com um lenço branco adornando o bolso da frente. A peça compunha o look com uma camiseta branca e uma calça jeans escura. Um visual mais próximo a conhecidos empresários, coaches e influenciadores.
Quando participa dos cultos no templo na Rua Montevidéu, na Penha, bairro suburbano na Zona Norte do Rio, Malafaia é adepto de pregações que duram horas. Aquele domingo marcava um culto da Santa Ceia, um dos principais na tradição da Assembleia de Deus. Malafaia passou 1 hora e 52 minutos de microfone em punho. Mas menos da metade desse tempo foi dedicado à pregação religiosa. No culto daquela manhã, acompanhado pelo ICL Notícias, a atração principal era a política.
Malafaia começou dando uma bronca nos fiéis que usam celulares e tablets para lerem a Bíblia. De cima do púlpito, ao apontar para um tablet que trazia consigo, disparou: “Você não pode tratar a palavra de Deus como um igual porque aqui também tem pornografia, mas a gente não acessa”.
A crítica aos dispositivos eletrônicos pode parecer estranha, mas o ICL Notícias verificou que ela está alinhada com os interesses comerciais do pastor, que, junto com sua esposa Elizete, é dono da Editora Central Gospel, especializada na venda de bíblias impressas. A empresa vem mal das pernas e estava encerrando um processo de recuperação judicial que se arrastava desde 2019, com dívidas que chegaram a cerca de R$ 30 milhões.
Na mesma época, porém, documentos encontrados pelo ICL Notícias apontam que as contas pessoais do pastor não demonstravam o impacto do problema da empresa. Malafaia, inclusive, se recusa sistematicamente a contar seu salário. Em entrevista exclusiva, chegou a dizer que nem padres ou a esquerda revelavam os valores.
Mas documentos inéditos obtidos pelo ICL Notícias ajudam a responder o que Malafaia quer esconder. Ele declarou à Receita Federal ter recebido, só em 2018, mais de R$ 962 mil de sua igreja. Mais de 70% de toda a renda que declarou naquele ano – ao todo R$ 1,35 milhão.
Com os dados exclusivos, foi possível constatar que, desde 2013, a renda anual do pastor ultrapassou R$ 1 milhão em, ao menos, três anos. Isso também aconteceu em 2013, quando ele declarou renda de quase R$ 1,2 milhão em seu IR. Uma situação semelhante ocorreu, em 2016, quando Malafaia informou à Polícia Federal que obtinha uma renda mensal de R$ 100 mil, o que, ao longo de um ano, alcançaria os mesmos R$ 1,2 milhão.
Esse são alguns dos dados exclusivos que o ICL Notícias apresenta no projeto “Império Malafaia” a partir desta quinta-feira (8), no site do ICL Notícias e, em um podcast de quatro episódios, disponível semanalmente a partir de 9 de maio no canal do ICL no Youtube e nas plataformas de áudio, e, ainda, em um documentário que estreará no dia 29 de maio, também no canal do ICL.
Fonte: ICL Notícias