Em apenas 18 dias, o estado do Amazonas registrou 117 focos de incêndio, superando a média de 72 para todo o mês de junho, observada desde 1998. Esse dado é alarmante, pois a região amazônica está se aproximando da ‘temporada do fogo’, que atinge seu pico entre julho e outubro. A situação pode se agravar com a possível greve dos servidores do meio ambiente no Amazonas, que deve ser votada ainda este mês.
Os dados, disponíveis na plataforma de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram um aumento de 192,5% no número de incêndios nos primeiros 18 dias de junho, em comparação com os 40 registrados em maio.
Além disso, a mobilização dos servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pode contribuir para o aumento dos incêndios nos próximos meses. Dos 26 estados e do Distrito Federal, 17 aprovaram greve a partir de junho ou julho, após a rejeição da proposta final do governo (veja as pautas abaixo).
Segundo a Ascema Nacional, associação que reúne servidores federais do meio ambiente, outros estados devem decidir pela adesão à greve em assembleias. No Amazonas, a deliberação deve ocorrer ainda este mês.
“Alguns estados estão reorganizando suas associações. No Amazonas, o contato tem sido com o Sindicato dos Servidores Públicos Federais, que deve realizar a assembleia e votar a participação na greve”, comenta Leandro Valentim, diretor da Ascema Nacional e servidor do Ibama-RJ. Ele explica que o movimento está discutindo o impacto da greve nos órgãos federais, mas o objetivo é uma abrangência máxima, exceto em situações emergenciais.
“Em casos como rompimento de barragem, incêndio em unidade de conservação ou empreendimentos do Ibama que poderiam afetar a população sem licenciamento, atuaremos. Fizemos isso em paralisações anteriores e faremos novamente, mantendo um percentual de servidores”, explica Valentim.
Demandas dos Servidores
Os servidores pedem equiparação salarial com os funcionários da Agência Nacional de Águas, também vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Atualmente, o salário final de um analista ambiental é de R$ 15 mil, enquanto o de um especialista em regulação da ANA é de R$ 22,9 mil.
Além disso, os servidores querem reduzir a diferença salarial entre profissionais de nível superior e médio, que chega a 43%, segundo a Ascema Nacional. Outras pautas incluem a realização de concursos públicos para todos os níveis e a reestruturação orçamentária e de infraestrutura do Ibama e ICMBio.
Histórico
Em junho do ano passado, foram registrados 223 focos de incêndio, o maior número na série histórica do Inpe para o Amazonas. Entre agosto e novembro, Manaus e outras cidades amazônicas ficaram encobertas por fumaça de queimadas causadas por ações humanas.
O Painel de Queimadas do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) indica que os municípios com maior número de focos de incêndio em junho são: Lábrea (46), Manicoré (17), Novo Aripuanã (17), Apuí (6) e Guajará (4).
O aumento das queimadas também ocorre em outros estados da Amazônia Legal. Segundo o Inpe, nos primeiros 18 dias de junho, foram registrados 1.543 focos de incêndio em todo o bioma, próximo aos 1.670 focos registrados em maio.
Atuação
Em resposta ao aumento de incêndios no Amazonas, a reportagem questionou o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente sobre as ações em andamento para minimizar os danos durante uma possível greve, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto.
O Corpo de Bombeiros do Amazonas informou que a Operação Aceiro 2024, de combate a incêndios, foi antecipada com o envio de bombeiros para 12 municípios na região sul do Amazonas e na Região Metropolitana de Manaus. Mais de 300 agentes, incluindo bombeiros, brigadistas e homens da Força Nacional, participarão da missão nesta primeira fase, com aquisição de viaturas e novos equipamentos.