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Esporte é Vida. Os 26 anos do projeto desenvolvido pelo Clube Agenor Alves de Jiu-Jitsu que salvou dezenas de jovens em Manaus

Por Nailson Castro – Jornalista – Manaus-AM
Em meados da década de 1990, quando a Zona Franca de Manaus perdia força com a abertura do comercio brasileiro para as exportações e os problemas econômicos causavam severos estragos em milhares de lares da capital amazonense, a força e disciplina dos esportes agiu como remédio social, principalmente onde as ações governamentais não chegavam ou surtiam efeitos positivos. Dentre as ferramentas mais eficientes, o Karatê, o Judô, o Taekwondo e principalmente o Jiu-Jitsu, que salvou e orientou muitos jovens.

O Projeto Esporte é Vida nasceu, como não poderia deixar de ser, em cima de um tatame. Um grupo de professores de Jiu-Jitsu, capitaneados pelo Mestre Ulisses Paixão, decidiu adotar uma nova metodologia de trabalho na academia Clube Agenor Alves. Ao invés de abrirem as portas e esperarem pelos alunos que podiam pagar pelas aulas, passaram a ir em busca da criançada que tinha vontade de aprender a Arte Suave, mas poucos recursos para as mensalidades. Crianças e adolescentes que viviam à margem da sociedade e que estavam expostas a todos os tipos de mazelas.

Espaço para as aulas, conhecimento, propósito. Mas era preciso quebrar barreiras e trazer, além dos jovens, as famílias, como numa espécie de tratamento coletivo. E foi com foco e persistência que os professores foram trazendo um a um. Garotos que sonhavam em ser jogadores de futebol, mas que nunca receberam a atenção necessária para se desenvolverem no esporte mais popular do mundo. Pelo menos 160 deles migraram para o Jiu-Jitsu, cresceram e se desenvolveram, ajudaram suas famílias e se tornaram exemplo para as gerações que os sucederam.

Assim, com centenas de academias de Jiu-Jitsu e projetos como o Esporte é vida, Manaus se transformou no maior celeiro de lutadores de Jiu-Jitsu do mundo, chegando a ter atletas de Manaus como campeões mundiais em varias categorias de peso na faixa preta, fazendo valer a fama de guerreiros do Norte do Brasil.

No registro histórico, alguns dos protagonistas do Jiu-Jitsu amazonense na década de 1990 Ulisses Paixão, Alex Feitoza e Rildo Heros

Planejamento que salvou vidas forjou campeões

O Professor Alex Feitoza, que nas horas vagas dedicava-se a ensinar os alunos mais jovens do projeto, lembra com orgulho do trabalho social, feito por meio do Jiu-Jitsu, arte na qual ele é Faixa Preta 4º Dan. “Diante de tantos problemas que víamos os jovens se meterem, demos inicio ao projeto. No inicio foi um pouco difícil, pois tínhamos a empolgação da garotada, ao mesmo tempo que precisávamos providenciar quimonos para todos. Mas graças a Deus o trabalho conjunto de muitas pessoas conseguiu salvar muitos jovens dos maus caminhos”, enfatiza Alex.

Um desses atletas que saiu de Manaus para ganhar o mundo foi  Marcos Alexandre de Almeida Matos, o Alexandre Capitão, apenas um, de muitos exemplos de sucesso do projeto “Esporte é Vida”, desenvolvido pela academia de Jiu-Jitsu “Clube Agenor Alves”, no Conjunto 31 de março, bairro Japiim, zona Sul de Manaus. Sob a orientação do mestre Ulisses Rodrigues Paixão, pelo menos 160 crianças e adolescentes passaram a treinar diariamente, ocupando o tempo ocioso e aprendendo com disciplina, a importância dos estudos, da Palavra de Deus e do respeito. Muitas famílias agradecem aos responsáveis pelo projeto, que livrou das mazelas sociais tantos jovens.

Alexandre Capitão, que se tornou destaque nas competições de jiu-jitsu em Manaus,  adentrou ao mundo do M.M.A. e alçou vôos mais altos. “O Alexandre é um entre nossos alunos que ganharam o mundo por meio do esporte. Aproveitou a oportunidade do projeto Esporte é Vida, se dedicou e se tornou campeão. Qual chance de esses jovens de família de baixa renda, alunos de escola pública,  viajarem por tantos países e até constituírem família na Europa e Estados Unidos? Só o Jiu-jitsu fez e continua fazendo isso pelos jovens amazonenses”, garante Feitoza, professor e técnico de Alexandre Capitão ainda hoje, nos Estados Unidos, onde moram.

Alex Feitoza depois de alguns anos voltou a fazer o que mais gosta, dar aulas de jiu-jitsu, dessa vez nos Estados Unidos. Ele é o responsável pelo aperfeiçoamento da “parte de chão” de Alexandre Capitão, e sonha em poder dar aulas para jovens com sede de aprendizado. “Eu sempre gostei de trabalhar com crianças carentes pois acredito que o esporte pode salvar e mudar a vida de muita gente. Precisamos semear sempre, para termos bons exemplos no futuro. Podemos fazer isso em qualquer lugar do mundo”, afirma.

ALEXANDRE CAPITÃO O JOVEM QUE VIROU EXEMPLO. UM ANO DE REDIRECIONAMENTO EM UM AMBIENTE CADA VEZ MAIS COMPETITIVO NO MUNDO DAS LUTAS

Ao mesmo tempo em que precisa ser duro com os oponentes, Alexandre Capitão, atleta do P.F.L. (Professional Fighters League) pratica diariamente a suavidade do Jiu-Jitsu, dentro de casa, junto à família. Nascido em Manaus, mas residindo nos Estados Unidos, o lutador manauara, dono de um longo e vitorioso currículo, passa pelo momento em que os mais velhos chamam de “a virada da maturidade”.

Além das emoções positivas, como o casamento, o nascimento das três filhas e as mais de 20 vitórias, com conquistas de cinturões, Alexandre já passou por turbulências que fazem qualquer super herói de quadrinhos, tremer nas bases, como a suspeita de um aneurisma , alguns anos atras. Foi quando o medo de parar de lutar tornou-se maior do que os sonhos que tinha. É por esses e outros motivos que o “trintão” já não age na impulsividade e planeja bem todos os passos que dá na carreira.

Residindo em Las Vegas, Capitão aproveita toda a estrutura e tecnologia para melhorar sua performance como atleta , mas com grandes cuidados com o corpo, seu instrumento de trabalho e sob os olhares atentos do professor, técnico e amigo Alex Feitoza. “Antes eu não pensava nessas coisas. Pra mim, nada aconteceria comigo. Hoje eu sei que se não tiver cuidado, posso me machucar e ficar fora de um evento, por exemplo. Então, tudo o que faço, todos os dias é planejado”, afirma.

Alexandre Capitão, da periferia de Manaus para o topo. Em 2020 conquistou o cinturão na Liga Profissional de Lutadores, nos Estados Unidos da América

Projeto Esporte é vida. História viva na cidade de Manaus
Apesar do grande alcance e serviços sociais que os esportes prestam à sociedade amazonense, nem todos conseguem o reconhecimento justo. Fazendo frente com o futebol em todo o estado do Amazonas, o Jiu-Jitsu é uma verdadeira potência esportiva, pois alcança todos os municípios e continua produzindo campeões hoje, já com aqueles que foram alunos dos projetos desenvolvidos em Manaus há 10, 20 ou 30 anos atras.

Para Rildo Heros, Faixa Preta 1º Dan de Judô, Faixa Preta em Jiu-Jitsu e uma das maiores autoridades na história do JiuJitsu brasileiro, tendo sido condecorado pelo Instituto  Kodokan do Japão, projetos sociais esportivos não podem ser mensurados, pois os resultados dos trabalhos desenvolvidos durante alguns anos em determinado local, perduram por décadas, como é o caso do PROJETO ESPORTE É VIDA. Rildo Heros deu aula de Judô em diversos projetos e desenvolveu o primeiro projeto de lutas junto aos alunos do Abrigo Moacir Alves. “Aquilo que foi semeado no PROJETO ESPORTE É VIDA por todos os professores, cresceu e se multiplicou. Aquelas crianças se tornaram grandes atletas manauaras,  amazonenses , brasileiros. Isso faz parte da nossa história e precisa ser enaltecido sempre. Parabéns ao ESPORTE É VIDA e todos aqueles que o colocaram em prática”, finalizou.

Mestre Pina, um dos GRANDES do Jiu-Jitsu amazonense, em dia de treinos no PROJETO É VIDA. Alexandre Capitão, com a Faixa Verde.

 

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