‘Você vende pra caramba e só manda isso aí?’

A Polícia Federal obteve conversas entre o traficante de drogas e armas Phillip da Silva Gregório, o Professor e a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro que incluem negociação de propInas e pedidos de favores. As informações sobre a investigação Dakovo, da PF, são de reportagem de Marco Antônio Martin do site G1.

Na conversa, que aconteceu durante o dia 27 de fevereiro de 2022, o “Professor”, apontado como um dos chefes da facção criminosa Comando Vermelho e foragido desde 2108, discute com PMs sobre o valor pago semanalmente. Os policiais dizem que o valor é baixo e ameaçam retomar as operações na comunidade caso o valor não aumente.

No arquivo das mensagens, um policial escreve: “Outra parada, você sabe quanto você manda para a gente lá pelo engenho? A gente nn está acostumado com esse valor baixo nn mano, vc vende pra caramba, favela grande e só manda isso aí. 1.200 (R$ 1,2 mil) mano. É melhor ficar indo aí do que pegar esse valor… Para melhorar essa sintonia, vc tem que começar a melhorar esse valor.”

O traficante responde: “Mano, tá me ameaçando? Tá falando que vai começar a entra na favela. Aqui é papo de homem. Valor é 1.200 se quiser aumentar o seu tenho que aumentar todos agora… Vida do crime tô nessa maior tempão. Vem nessa de melhorar sintonia não. Não quer não pega. Tem que saber falar comigo. Vc tá falando com Professor, mano. Não é nenhum bola rasteira não. Trato geral no respeito e geral respeita minha palavra. Aprende a falar.”

Reprodução de mensagens de texto trocadas entre o Professor e PMs (Foto: Reprodução)

PM pede ajuda para achar carro roubado

Na troca de mensagens entre Professor e policiais do RJ, entre 2022 e 2023,  o traficante também recebeu pedidos para a devolução até de um carro roubado por integrantes do Comando Vermelho. Os investigadores suspeitam que o contato seja feito por um policial. Ao traficante, ele diz que liga à pedido de “uma coronel da PM”.

De acordo com uum telefonema de 23 de março de 2023, o veículo foi devolvido, com a chave no interior do carro. O policial que faz contato com Professor é identificado apenas como Hulk.

Policial: A coronel tá ligada. Ela pediu para te ligar. Ela falou insistir aí vê se ele ajuda.
Professor: Mandei devolver tudo pra não roubar nada. Tá tudo dentro do carro
Policial: Pode deixar.
Professor: Puder ficar o máximo entocado, melhor. Nós já deu um papo geral. Vai dá uma sumida na hora. Eles mandou também.
Policial: Tá maluco. Esse carro é de um político aí. Nem sei quem é esse pica. Mais (sic) para ela mandar te ligar essa hora. Já mandou agradecer.

O Professor também chegou a ter acesso a um documento interno da polícia. Em 18 de maio de 2022, um  Boletim Interno da PM, publicou novas lotações de policiais nas Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs. A reprodução de tela com o documento, em que constam nomes e RGs dos PMs, é enviada ao traficante. Ou seja, policiais e suas identidades expostas a um dos chefes de uma das maiores facções criminosas do país.

O traficante Professor é apontado como responsável por adquirir fuzis e pistolas para o Comando Vermelho.
Os contatos do criminoso são constantes com vendedores de armas no Paraguai, Bolívia e Colômbia. Ele foi preso pela Polícia Federal em março de 2015 numa das poucas vezes em que deixou o Complexo do Alemão. Em 23 de setembro de 2018 recebeu um benefício da Justiça para visitar a família e não retornou mais.