Tive um primo católico, entretanto falecido que, nas vésperas de uma cirurgia, alguns anos antes de falecer pediu que chamassem um padre para se confessar.
Depois acabou por me contar que tinha um enorme sentimento de culpa por ter traído a esposa, havia muitos anos e nunca lhe ter contado o seu deslise.
O padre ouviu-o atentamente.
No meio da confissão ele acabou por perguntar ao padre o que seria mais correto: contar ou omitir o sucedido à esposa.
O padre respondeu-lhe prontamente: Não conte. Está a confessar-se a Deus e mostra arrependimento.
Contar à esposa, passados tantos anos só iria provocar-lhe um enorme sofrimento e não remediaria nada porque não iria desfazer aquilo que foi feito e já está enterrado. E ele não contou e ainda viveu alguns anos em harmonia com a mulher depois de ter sobrevivido à cirurgia.
No caso do seu pai, você não sabe se é uma ligação fugaz ou duradoura. O seu pai omite-a da sua mãe por alguma razão. Ele pode já não amar a sua mãe com amor carnal por razões que desconhece totalmente.
Mas ele ainda a ama o suficiente para lhe omitir o relacionamento extraconjugal que está a viver. Porquê? Porque ele não abandona a sua mãe e vai viver definitivamente essa paixão com a outra? Ele é livre de o fazer.
Mas o facto é que ele não abandonou a sua mãe e está a poupá-la a este desgosto.
Qual é o direito que um filho tem para interferir numa situação destas, sabendo de antemão que só vai provocar sofrimento e talvez forçar uma situação de rotura entre os seus pais que nem o seu próprio pai deseja?
Quando muito você pode ter o direito de abordar o seu pai em privado para obter dele algum esclarecimento dessa situação. Talvez seja apenas uma necessidade sexual que ele não consegue satisfazer em casa pela corrosão que o tempo provoca inevitavelmente em muitos casais.
Ele pode ou não sentir-se à vontade para satisfazer a sua curiosidade. Independentemente da reação do seu pai, um bom filho tem o dever de não interferir nesta situação.
Pense primeiro. Acha que vai conseguir melhorar nalguma coisa o relacionamento entre os seus pais? Ou, pelo contrário, já sabe de antemão a desgraça que vai provocar em casa e sente um prazer sádico para que tal aconteça?
Uma situação muito diferente seria a do seu pai já provocar uma grande conflitualidade com a sua mãe, submetendo-a a um sofrimento que ela vai suportando porque ainda o ama. Só neste caso é que poderia justificar-se a sua interferência alertando a sua mãe de que ela estava a sacrificar-se em vão para salvar um casamento quando já não existia a menor hipótese de tal acontecer.
Neste caso justificava-se que a tentasse livrar deste jugo fazendo-a ver que a sua submissão ao marido já não valia a pena e ela só teria a ganhar em livrar-se dele.
Como tentei fazê-lo ver existem muitas condicionantes na opção de denúncia do adultério do seu pai à sua mãe.
Repito. Pense muito bem. Em caso de dúvida o mais certo que tem a fazer é não interferir e deixar o tempo passar. Se o seu pai não abandonou o lar é porque este ainda é o seu porto seguro e um filho não tem o direito de o destruir.
Tudo isso serve para Irmão, Amigo, colegas, conhecidos. Antes de tudo pense no sofrimento da pessoa que você ama e proteja. Contar por contar, não vale a pena.