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Por Bruno Ribeiro e Juliana Arreguy
(Folhapress) – Um relatório elaborado pela Secretaria Estadual da Fazenda contradiz a perspectiva de “oportunidades” descrita pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre os impactos do tarifaço do governo Donald Trump na economia paulista.
O documento -anexado ao projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) enviado à Assembleia Legislativa ao fim de abril- aponta que o cenário internacional é “movediço” e que a arrecadação do ICMS, principal tributo do estado, pode oscilar com o enfraquecimento do comércio global.
“O mundo ainda está se reorganizando e na expectativa sobre os efeitos da política de tarifas dos Estados Unidos sob a gestão Trump”, diz o relatório de riscos fiscais, que também cita guerras e tensões regionais como pontos de tensão.
Segundo o texto, esse ambiente instável gera volatilidade e incertezas que pressionam custos de produção, transporte e inflação. Embora o ICMS não incida sobre exportações, a Fazenda destaca que a atividade exportadora movimenta a cadeia produtiva e impulsiona salários e lucros.
O uso crescente de insumos importados pela indústria paulista também torna os preços internos mais sensíveis ao cenário externo, segundo do documento.
“Flutuações adversas na economia mundial são cada vez mais transmissíveis à economia paulista e, em especial, à sua base industrial”, afirma o relatório.
O que disse Tarcísio
Em sentido oposto, Tarcísio, que exaltou a eleição do republicano, afirmou à Folha, dias após o anúncio do tarifaço, que as medidas criavam “oportunidades”.
“Lógico que o americano está olhando o interesse dele. Isso desarruma um pouco o comércio internacional, mas a gente tem que saber aproveitar”, disse.
Segundo afirmou na ocasião, o Brasil teria “toda a chance de tirar proveito da situação”.
“Se a gente souber usar isso como oportunidade, vai ganhar muitos mercados na Europa, na Ásia”, afirmou.
O governador, afilhado político de Jair Bolsonaro (PL), celebrou em janeiro a posse de Trump com um vídeo nas redes em que veste o boné com a frase “Make America Great Again” (“faça os Estados Unidos grandes de novo”), emblema do republicano.

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no vídeo em que celebrou a vitória de Donald Trump (Foto: Reprodução / Redes Sociais)
No início de abril, quanto Trump anunciou uma tarifa de 10% para produtos brasileiros nos EUA, Tarcísio vinha ignorando o tema. Ele falou sobre o assunto após um evento no Palácio dos Bandeirantes para exaltar a industria cafeeira -cuja exportação deu a base financeira para o desenvolvimento do estado.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações de São Paulo, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Em 2024, o estado vendeu US$ 13,6 bilhões (R$ 77 bilhões) aos EUA, com destaque para aviões, equipamentos de engenharia e sucos de laranja. Para a China, o valor foi de US$ 8,3 bilhões (R$ 47 bilhões). Considerando-se o Brasil como um todo, a China é o principal parceiro comercial.
Além de elogiar o presidente americano, Tarcísio também apoiou a postura do governo Lula (PT) diante do tarifaço, classificando-a como “cautelosa”.
Por meio de nota, o Palácio dos Bandeirantes negou que haja contradição entre o discurso político do governador e análise técnica da Fazenda. As duas manifestações “não são divergentes, e sim complementares”, diz o texto.
“A conjuntura geopolítica pode impactar na dinâmica econômica, o que é considerado para adoção de estimativas conservadoras na elaboração das peças orçamentárias, considerando as regras fiscais e altos níveis de vinculação do orçamento público no Brasil”, segue a nota. “Ainda assim, ela pode também ser um catalisador para a ampliação de acordos e negociações com novos mercados”, conclui o texto.
Fonte: ICL Notícias