Por Nelson Bortolin, da Rede Lume — Ponte Jornalismo
O delegado Edgar Soriani arbitrou uma fiança de R$ 2 mil para liberar Vanessa Pereira da Costa, Wesley da Costa Bento e Taís Azevedo da Silva, detidos na noite de terça-feira (18/3), na Favela da Bratac, na zona oeste de Londrina. Vanessa é mãe de Wender da Costa, morto pela Polícia Militar dia 15 de fevereiro, no Jardim Santiago. Wesley é irmão de Wender e Taís é amiga da família.
Segundo moradores, a Polícia Militar do Paraná (PM-PR) teria agredido crianças e adolescentes da comunidade, gerando revolta no local. As três pessoas foram levadas de camburão para a Central de Flagrantes da Polícia Civil porque os PMs teriam se sentido ameaçados por elas.

Vanessa Pereira da Costa, mãe do jovem Wender da Costa, morto pela PM-PR em fevereiro, participa de ato por justiça em Londrina (Foto: Rede Lume)
A comunidade teve de reunir R$ 2 mil em espécie para liberar as três pessoas, o que só ocorreu próximo das 2 horas da madrugada de quarta-feira (19/3). Dezenas de moradores da Bratac, além de militantes de direitos humanos permaneceram no local até que todos fossem liberados. O caso, que foi noticiado pela Ponte em fevereiro, tem provocado uma mobilização inédita na cidade.
O coletivo Ciranda da Paz, que atua na Favela da Bratac, divulgou nota denunciando a opressão policial que prossegue na comunidade. Leia abaixo:
Nota de moradores da Favela da Bratac:
Nós, moradores da Favela da Bratac, em Londrina, viemos por meio desta nota denunciar a violência e opressão que temos sofrido por parte das forças de segurança da cidade. Desde o dia 15 de fevereiro de 2025, quando Wender e Kelvin — jovens de nossa comunidade, com um futuro promissor — foram brutalmente executados pela Polícia Militar de Londrina, a opressão se intensificou e a luta por justiça se tornou ainda mais urgente.
Hoje, 18 de março de 2025, mais um episódio de violência ocorreu. Crianças do nosso bairro foram covardemente agredidas por policiais militares, que desferiram tapas em seus rostos. Ao questionarem o motivo da agressão, Vanessa (mãe de Wender), Wesley (irmão de Wender, um trabalhador honesto) e Thais (outra moradora da comunidade) foram detidos arbitrariamente.
Não podemos mais aceitar essa realidade. Estamos sendo perseguidos, criminalizados e violentados simplesmente por existirmos. Vanessa, uma mulher evangélica, mãe de família e de fé, busca apenas justiça pelo assassinato de seu filho e agora também sofre a repressão do Estado. Além disso, não nos é permitido sequer o direito ao luto, pois nossa dor e perda são constantemente deslegitimadas e cerceadas.
Assim como Jesus foi injustamente martirizado pelo poder da época, Kelvin e Wender tiveram seus destinos traçados por um sistema opressor que ceifou vidas promissoras e se tornou símbolo de sacrifício. Suas mortes ecoam a dor de um povo que clama por justiça, enquanto a intensificação da opressão só reforça nossa determinação na luta contra a violência estatal e a negação de direitos básicos.
Diante disso, pedimos que a sociedade de Londrina não se cale! Precisamos da atenção da mídia, dos movimentos sociais e de todas as pessoas que acreditam na justiça. A dor de nossa comunidade não pode ser invisibilizada.
Favela da Bratac, Londrina, 18 de março de 2025.
*Reportagem publicada originalmente na Rede Lume
Fonte: ICL Notícias