Nas eleições de 2018 e 2022 os pastores midiáticos, quase na totalidade, apoiaram a candidatura do Bolsonaro e se mantiveram devotos como base política durante o seu governo.
Especula-se a debandada da base de apoio do bolsonarismo no contexto da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) aceita pela Primeira Turma da Corte do Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira, 26 de março, que tornou réu o ex-presidente Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Precisamos distinguir boatos de bastidores das manifestações públicas oficiais. Não há notas formais dos tais pastores que foram cabos eleitorais do bolsonarismo nas eleições de 2018 e 2022 se declarando escandalizados com a trama golpista.
O noticiário sobre prováveis rachas da base evangélica bolsonarista fica como especulação, expressão de desejo, boato e projeções do futuro. O fato é que até hoje, os líderes evangélicos que ungiram Bolsonaro como o escolhido de Deus permanecem firmes nos seus propósitos, e ao que tudo indica, pretendem repetir a liturgia eleitoral em 2026.
Para tanto, os pastores bolsonaristas estão empenhados nos seus púlpitos como defensores da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro. Os devotos bolsonaristas acreditam que é possível reverter a condição de inelegível, até 2030, e assim, ungir o Messias Bolsonaro na próxima eleição.
O pastor Silas Malafaia, Presidente da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, dispõe de grande visibilidade midiática e vocaliza o discurso de ódio, diz ele que é em nome de Jesus, para a glória e honra do Bolsonaro. Malafaia mantém ascendência sobre o mandato do Deputado Federal Sóstenes Cavalcante, líder do Partido Liberal (PL) na Câmara.
José Wellington Bezerra da Costa, pastor presidente do Ministério do Belém e presidente de honra da Confederação Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB). Um dos grandes nomes do pentecostalismo no Brasil. Nas eleições de 2022, o filho do José Wellington, Paulo Freire (PL-SP), foi eleito para o quarto mandato como deputado na Câmara Federal.
Samuel Câmara, pastor presidente da Igreja Assembleia de Deus em Belém do Pará, é o proprietário da Rede Boas Novas, uma das mais potentes redes de comunicação evangélica do país. Para os pleitos eleitorais ele indica reiteradamente o seu irmão, Silas Câmara (Republicanos-AM, no sétimo mandato) e sua cunhada, Antônia Lúcia (Republicanos-AC, no segundo mandato). O deputado Silas Câmara é um dos principais líderes da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional.
Bispo Edir Macedo, líder máximo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Detentor de uma extensa e poderosa rede de comunicação que vai além do público evangélico. O deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente nacional do Partido Republicanos, é o principal articulador político da Igreja Universal. Nas eleições de 2018 e 2022, a Iurd ungiu o Messias Bolsonaro como o escolhido de Deus.
Missionário R. R. Soares, televangelista, fundador e líder máximo da Igreja Internacional da Graça de Deus. Além de ser proprietário de rede de comunicação de abrangência nacional, aluga espaço na TV aberta em horário nobre para transmitir O Show da Fé. A representação política do grupo religioso na Câmara Federal é assegurada pelos seus dois filhos: deputado Marcos Soares (União Brasil-RJ, segundo mandato) e deputado David Soares (União Brasil-SP, segundo mandato).
Apóstolo Valdemiro Santiago. Televangelista que lidera a Igreja Mundial do Poder de Deus e a Rede Mundial de TV e Rádio.
Apóstolo Estevam Hernandes. Fundador e líder da Igreja Renascer em Cristo. Proprietário da Rede Gospel.
Bispo Rodovalho. Fundador e líder da Igreja Evangélica Sara a Nossa Terra. Possui a Rede Gênesis de TV e a Rede Sara de Rádio.
Não são os únicos, mas certamente os nomes citados são representativos de um tipo específico de evangélico caracterizado como pastores midiáticos que figuram como “grandes eleitores” ou cabos eleitorais do bolsonarismo.
Entre esses líderes evangélicos que se prestam ao papel de cabos eleitorais há diferenças e eventualmente ocorrem entre eles hostilidades e disputas. No entanto, possuem em comum, em diferentes escalas, cinco características: estrutura eclesiástica com templos espalhados pelo país; redes de comunicação com abrangência nacional; desenvolvem estruturas empresariais/financeiras paralelas as igrejas; dispõem de representação política no legislativo e influem nas eleições para os cargos majoritários; e, até o presente, apoiam a PL da Anistia na Câmara.
Fonte: ICL Notícias