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Pais querem dar vida melhor ao filho, mas reproduzem práticas antigas

“Quero dar a meu filho tudo o que não tive”. Essa frase é dita por muitos pais. Muitos deles referem-se a bens materiais, regalias, conforto e outros benefícios. Já outros, em número menor, buscam estar mais presentes na vida do filho, ensinar valores e princípios que, no entender deles, faltaram na própria infância. Todos querem oferecer aos filhos uma vida melhor do que a que tiveram.

Reproduzido de UDEMO.ORG.BR – Artigo de Rosely Sayão

Entretanto, essa lógica parece não se aplicar quando os filhos desobedecem, fazem o que os pais já avisaram para não fazer, vão mal na escola, abusam dos horários estipulados, não cumprem as pequenas obrigações que lhes são impostas, desrespeitam pais e outros adultos da família etc.

Quando algo desse tipo ocorre, a primeira ideia que ocorre aos pais é o que eles já experimentaram quando foram crianças: o castigo. E, em geral, o castigo surge como punição, ou seja, algo que provoca sofrimento à criança ou ao jovem. Os castigos que ouço pais contarem que aplicam não variam muito: vão das palmadas e safanões ao ato de retirar do filho algo de que ele gosta muito.

Falemos dos castigos físicos. Não há uma única vez em que, ao conversar com pais e explicar os motivos que temos para não aplicar castigos físicos, eu não ouça algo do tipo: “Eu apanhei na infância e esse fato não me impediu de crescer bem”. Aí eu me pergunto: onde fica a lógica da oferta de uma vida melhor aos filhos nessa hora?

É inegável: castigo físico não combina com vida boa. Por quê? Porque provoca sofrimento físico, moral e emocional em crianças e adolescentes.

Bater em uma criança ensina o quê a ela? Que a violência física é um modo aceitável de relacionamento interpessoal, que o autocontrole não é algo importante, que a autoridade pode ser imposta dessa maneira etc. Esses não são bons ensinamentos para quem pretende colaborar tanto com a vida pessoal do filho quanto com a possibilidade de ele melhorar o mundo no futuro, certo?

Retirar temporariamente da vida do filho coisas que ele faz com gosto também não combina com vida boa: provoca raiva, mágoa e sofrimento, por exemplo, mas ensinar, não ensina nada.

Muitos pais insistem na ideia de aplicar o castigo como ato educativo. Aliás, parece ser sempre a primeira estratégia a surgir quando há encrenca com os filhos.

Que fique claro: não sou –nenhum profissional – contrária ao castigo, desde que ele tenha conexão com o comportamento do filho, que não seja exagerado, que respeite a etapa de vida da criança e, principalmente, que não desrespeite a criança ou o jovem. Mas, em geral, esses princípios nem sempre são considerados quando alguns pais aplicam os castigos em seus filhos.

O excesso de regras aos mais novos leva à desobediência, e a ausência de tutela adulta leva a transgressões. Considerando isso, quero deixar a você, caro leitor, um trecho de Fernando Savater que está no livro “O Valor de Educar”.

“(…) Não são as crianças que se rebelam contra a autoridade educacional, são os adultos que as induzem a se rebelar, precedendo-as nessa rebelião que os desvencilha da tarefa de lhes oferecer apoio sólido, cordial mas firme, paciente e complexo, que as ajudará a crescer adequadamente no sentido da liberdade adulta.”


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de “Como Educar Meu Filho?” (Publifolha)

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