Pelos últimos três meses, a Califórnia tem recebido visitas inesperadas: peixes-remo, ou regalecos, foram encontrados nas areias de praias norte-americanas. Essas aparições passariam despercebidas não fosse a lenda urbana por trás desses animais: a ideia de que eles seriam presságios de eventos ruins.
Com quase 3 metros, esse peixe foi encontrado no dia 6 de novembro nas margens de Grandview Beach, uma praia da cidade de Encinitas, por Alison Laferriere, do Instituto de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego, de acordo com uma postagem do instituto no Facebook.
O espécime foi recuperado pelo Serviço Nacional de Pesca da Administração Oceânica e Atmosférica e enviado ao Centro de Ciências Pesqueiras do Sudoeste para análise.
O encontro marcou a terceira aparição do animal em terras californianas em um pequeno intervalo de tempo. O primeiro foi encontrado em La Jolla Cove em agosto, o segundo veio em setembro, em Huntington Beach.
O que é esse peixe?
Carinhosamente conhecido como “serpente marinha”, os Regalecus glesne são pouco estudados pelos cientistas, explica a Ocean Conservancy. Isso porque eles prosperam em um ecossistema difícil de explorar: a zona mesopelágica, que se encontra cerca de mil metros abaixo da superfície do oceano, das zonas oceânicas temperadas até as zonas tropicais.
Justamente pela escolha de endereço, raramente eles chegam à superfície com vida, e, quando chegam à praia, morrem por conta da despressurização. Além disso, quase nenhuma corrente passa por lá, logo o corpinho esbelto desses peixões não conta com muitos músculos – para eles, qualquer correnteza seria mortal.
Ele pode alcançar 11 metros de comprimento e 200 kg, e possui uma característica bizarra: na água, flutua na vertical. Por ser prateado, nadar “em pé” funciona como uma técnica de disfarce: o peixe usa reflexos da luz na água para passar despercebido. Mas não é por isso que é mais conhecido.
O regaleco ganhou fama mundial em 2011, quando um grande terremoto seguido por uma tsunami atingiu a região japonesa de Tohoku e deixou mais de 15 mil mortos. Um ano antes, vários espécimes foram encontrados encalhados após tempestades nas praias do Japão, o que lhe rendeu o apelido de “peixe do juízo final”. A crença popular era que as aparições raras desses bichos antecipavam desastres naturais.
A “hipótese” dessa crença popular dizia que, logo antes desses eventos, os movimentos das placas tectônicas matavam os peixes – e por isso tantos acabavam na superfície.
Contudo, o mito desmentido em 2019 com um estudo que mostrou que não existia nenhuma relação entre as aparições e os fenômenos naturais. A pesquisa analisou a linha do tempo dos desastres e dos encontros do peixe e descobriu que havia poucas coincidências.
No demais, os peixes que chegaram à costa californiana serão estudados. “Este peixe-remo apresenta uma rara oportunidade de obter amostras frescas para análise genômica, permitindo-nos estudar as adaptações evolutivas que levam essa espécie a prosperar em ambientes de águas profundas,” disse Dahiana Arcila, bióloga marinha do Instituto de Oceanografia, em um comunicado.
A causa dessas aparições permanece incerta e pode estar relacionada a múltiplos fatores, explicou Ben Frable, também da equipe do instituto, mas as mudanças nas correntes marinhas e na temperatura das águas podem contribuir para o aumento de visitas à superfície.