Mujica enfrentou o desencanto de uma geração abalada pelo golpismo

0
20

[ad_1]

ouça este conteúdo

00:00 / 00:00

1x

Por Lucas Rocha

A morte de José ‘Pepe’ Mujica me remete a 26 de agosto de 2015. Naquele dia, há quase dez anos, o líder uruguaio participou de um histórico encontro com a juventude brasileira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele havia deixado a presidência do Uruguai em maio e vinha ao Brasil em um momento de grande turbulência política.

Naquela altura, este que vos escreve ainda não havia completado a maioridade, estava no segundo período do curso de jornalismo da UFRJ e fazia parte de uma geração que acreditava estar vivendo uma mudança de fase na América Latina. Com a chamada “onda rosa”, experiências progressistas pipocavam na região e pareciam enterrar de vez o fantasma do neoliberalismo.

Parecia que a América Latina, unida, poderia, enfim, reagir aos séculos de dominação, combater desigualdades e construir um Outro Mundo Possível, como pregavam os zapatistas e aqueles que construíram o Fórum Social Mundial. Mujica foi um dos líderes mais carismáticos daquele período. Segundo o historiador Gerardo Caetano, “o uruguaio mais viral da história”.

A vida simples, o firme discurso anticapitalista de Mujica e as reformas implementadas por seu governo o tornaram uma espécie de “ícone pop” progressista, principalmente entre a juventude. O ex-guerrilheiro uruguaio era muito mais do que isso, era um exemplo de que a política valia a pena e de que era possível avançar sem abrir mão de pautas caras como o fim da guerra às drogas e a descriminalização do aborto.

Acontece que, de repente, ‘el nacimiento de un mundo se aplazó por un momento’, como diria Pablo Milánes. Uma geração que sonhou que estava vivendo uma revolução e lutava para aprofundar processos foi forçada a despertar diante do pesadelo do golpismo.

Em agosto de 2015, ocasião da visita de Mujica, o processo de impeachment de Dilma Rousseff não havia sido formalmente iniciado no Congresso, mas o que viria já estava bem desenhado. Como ter esperanças diante de um cenário de drástica inflexão política e derrota das esquerdas? Como bom velho militante, Pepe falou contra o derrotismo e pregou a unidade diante daquela plateia de 10 mil jovens que lotavam a Concha Acústica da Uerj. A foto do evento, inclusive, foi escolhida pela BBC Brasil como uma das imagens marcantes do ano de 2015.

“Vocês têm que seguir levantando a bandeira. Na vida temos que defender a liberdade. E ela não se vende, se conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E sem solidariedade não há civilização”, discursou.

“Tenho dificuldade para entender, no momento, o que se passa aqui, porque não me corresponde. Porém, se tenho que ser claro, aventura com o uniforme dos milicos, por favor! Golpe de Estado, por favor! Este filme já vimos muitas vezes na América Latina. Esta democracia não é perfeita, porque nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”, reforçou o líder uruguaio.

Enquanto o Brasil mergulhava na espiral golpista, Mujica olhava pra frente e mantinha acesa uma faísca de esperança em uma juventude desencantada que parecia não ter mais onde se apegar. Quando a dura conjuntura tratou de frustrar os planos de uma geração, Mujica, tal qual Chico Buarque reescrevendo a música de Milánes, mostrou que a História é um trem riscando trilhos e abrindo novos espaços.

[ad_2]

Fonte: ICL Notícias

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui