O Ministério Público Federal (MPF) pediu providências às autoridades federais e estaduais do Amazonas contra a ação ilegal de garimpeiros no rio Madeira. De acordo com imagens aéreas, estima-se que pelo menos 300 embarcações estejam operando próximas ao município de Autazes nos últimos dias, com dragas sugando seu leito em busca de ouro.
“Pelo porte da ‘invasão garimpeira’, a repressão eficiente da atividade exige, necessariamente, esforços coordenados de agências governamentais diversas, cada qual dentro de suas atribuições, com papel destacado para a atividade repressora e de policiamento ambiental dos órgãos integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente) – o IBAMA, em nível federal, e o IPAAM em nível estadual”, afirmou o MPF-AM. CNN Brasil, Estadão, Folha e UOL repercutiram a cobrança.
Enquanto isso, o g1 fez um balanço do que se sabe até agora sobre a ação predatória no Madeira e mostrou vídeos gravados pelos próprios garimpeiros explicando como acontece a extração de ouro no rio. Há pelo menos 15 dias, eles se instalaram na região e formaram uma espécie de “Serra Pelada fluvial”, atraídos por um boato de que haveria ouro naquele trecho específico do rio. A dimensão da ação garimpeira impressiona, mas a presença desses atores na região não é nova. “É a 1ª vez que vemos nesse volume. Mas em um número menor de barcas, o garimpo na região é comum. É uma atividade conhecida na área, principalmente no rio Madeira”, explicou Pedro Walfir, do MapBiomas, ao Poder360.
O site Amazônia Real destacou o temor de ribeirinhos em Autazes com a presença maciça dos garimpeiros. “Os comunitários se sentem apreensivos até de denunciar porque têm medo, mas eles trouxeram essas denúncias porque estão preocupados com o impacto que vão sofrer”, afirmou Elaine Galvão, bióloga e secretária de meio ambiente do município. A estimativa é de que pelo menos 1,8 mil garimpeiros tenham se deslocado para a região nas últimas semanas, com a expectativa de que esse número aumente caso não haja uma resposta efetiva e rápida do poder público.
Na Repórter Brasil, em setembro último, Sam Cowie mostrou o que tem atraído a atenção dos garimpeiros e de outras pessoas para a região: a valorização do ouro no mercado internacional trouxe a perspectiva de ganhos substanciais de dinheiro, o que encoraja até mesmo aqueles que não atuam diretamente no garimpo a se mudar para o entorno e aproveitar o boom econômico para melhorar sua renda.
O problema é o impacto ambiental que o garimpo ilegal, feito em condições precárias, pode trazer ao Madeira. André Borges destacou no Estadão um levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que calculou o tamanho do prejuízo socioambiental para o Brasil – uma bagatela de R$ 31,4 bilhões entre 2019 e 2020. Das 174 toneladas de ouro vendidas pelo país no mercado internacional nesse período, ao menos 49 saíram de áreas com irregularidades.