O Banco Central deve aprovar a aquisição do banco Master pelo BRB (Banco de Brasília). Na avaliação dos dirigentes das duas instituições financeiras, as chances de reprovação pela autoridade monetária são mínimas, apesar das notícias informando que o BC deve vetar a operação. As informações foram publicadas em reportagem da Folha de S.Paulo.
A operação de aquisição de 58% do banco Master pelo BRB foi assinada na última sexta-feira (28) pelas duas instituições, mas ainda depende da aprovação do Banco Central.
De acordo com a reportagem, fontes envolvidas nas negociações com o BC disseram que, se não houvesse segurança da aprovação do negócio pelo BC, o acordo de entendimento não teria sido assinado na sexta.
A Folha informou que, na segunda-feira (31), em uma declaração aos funcionários do banco, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, previu prazo de três a seis meses para análise da operação pelo BC.
Ele ainda teria dito aos funcionários que os inimigos “vão falar mal do BRB” porque o banco do governo do Distrito Federal vai subir da 14ª para a 9ª maior instituição em ativos de crédito. Segundo ele, o Master “provavelmente” vai se chamar BRB Corporate Bank.
O presidente do BRB se reuniu ontem com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, para tratar do assunto. Também participaram do encontro os diretores de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, e de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Gomes.
Antes da reunião, Galípolo se encontrou com o chairman e sócio sênior do Banco BTG Pactual, André Esteves, na sede do BC.
Nesta terça-feira (1º), Galípolo deve se reunir com o dono do Master, Daniel Vorcaro, em Brasília.
O Banco Central tem até 360 dias de prazo para analisar a operação, mas a avaliação interna é que o caso avance mais rapidamente, segundo apurou a reportagem.
Se aprovada a operação, o novo banco passará a ter R$ 112 bilhões de ativos totais, R$ 72 bilhões de carteira de crédito e mais de R$ 100 bilhões em captações. Vorcaro continuará com o controle societário do Master.
Mercado financeiro vê motivação política na compra do Master pelo BRB
Pelo acordo assinado na sexta-feira, o BRB pretende comprar 58% do capital total do Banco Master, por cerca de R$ 2 bilhões.
Parte do mercado financeiro interpretou o acordo como uma operação de resgate, mais política do que técnica ou empresarial. Em entrevista, o presidente do BRB insistiu que não se trata disso.
De acordo com reportagem da Folha, profissionais do setor financeiro estão preocupados pelo fato de a operação envolver um banco público, que também é de pequeno porte.
Causou estranheza também o fato de o BRB querer absorver a instituição privada com atuação considerada um tanto extravagante.
Para essa fatia do mercado, as negociações entre BRB e Master contaram com ajuda de políticos.
Daniel Vorcaro é próximo do ex-ministro Ciro Nogueira e do presidente do União Brasil, Antonio Rueda. Augusto Lima, o sócio baiano do Master, é casado com a ex-deputada e ex-ministra do governo Bolsonaro Flávia Peres (ex-Arruda), que ainda mantém certa proximidade de Ibaneis Rocha, o governador do DF, controlador do BRB.
Um dos aspectos mais questionados é que, ao comprar 49% das ações ordinárias (com direito a voto), 100% das ações preferenciais (sem direito a voto) e deixar Daniel Vorcaro como controlador, com 51% de participação, o BRB não precisa de aval legislativo distrital e reduz as chances de cobranças do Ministério Público e do Tribunal de Contas, que seriam mais facilmente acionados caso houvesse a aquisição do controle.
Além disso, o volume de recursos em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) já ruma para R$ 60 bilhões, praticamente metade do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), hoje na casa de R$ 120 bilhões, que cobre eventuais perdas de investidores quando um banco enfrenta problemas.
O principal alvo de críticas são as operação com CDBs. O Master oferecia os certificados a taxas que chegaram a 140% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), enquanto o mercado mal encosta em 100%. Na posição de banco de pequeno porte, colocava o produto no mercado por meio de outras instituições, enquanto fazia empréstimos e investimentos em empresas consideradas problemáticas.
Sindicato dos Bancários de Brasília se manifesta
O Sindicato dos Bancários de Brasília também divulgou nota demonstrando preocupação com a operação.
“O Sindicato dos Bancários de Brasília manifesta sua profunda preocupação com a possibilidade de atos que podem caracterizar uma possível gestão temerária da atual diretoria do Banco de Brasília (BRB), diante da compra do banco master, no que tange diretamente o interesse público e a segurança econômica da instituição”, diz trecho do comunicado.
“A negociação para a compra de ações do Banco Master, amplamente noticiada pela imprensa, tem sido alvo de análises críticas por parte de especialistas econômicos e de outras instituições do Sistema Financeiro Nacional. Essa movimentação levanta sérios questionamentos sobre a responsabilidade na gestão do BRB e os possíveis impactos dessa decisão sobre o patrimônio público e a economia do Distrito Federal”, continua a nota.
“Ressalta-se que, em um passado próximo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou a concentração da carteira do Banco Master em precatórios, uma carteira sem liquidez, o que agrava as incertezas em torno da aquisição proposta pelo BRB. O Conselho de Administração do banco tem competência para decidir sobre a aquisição de uma nova instituição? Ou seria de competência da Câmara Legislativa do Distrito Federal?”, questiona.
Fonte: ICL Notícias