Inverno Amazônico transforma seca histórica em enchentes em menos de seis meses

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A Região Norte do Brasil enfrenta uma mudança climática drástica: em menos de seis meses, saiu de uma seca histórica para enchentes que já afetam milhares de pessoas. Essa virada é resultado do chamado Inverno Amazônico.

O que é o Inverno Amazônico?

Esse é o período em que as chuvas se intensificam na Região Norte do Brasil, geralmente a partir do final do ano, quando começa o verão no Hemisfério Sul, e se estendem até maio. Esse aumento no volume de precipitação é provocado pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), uma faixa de nuvens formada na região equatorial do planeta devido ao encontro dos ventos alísios, que sopram dos hemisférios Norte e Sul. Quanto mais ativo esse sistema meteorológico, maior é o volume de chuvas na região.

Em Porto Velho (RO), o rio Madeira passou de 19 centímetros de profundidade, em outubro de 2024 — o menor nível já registrado — para 16,67 metros nesta sexta-feira (4). A cheia causada pelo Inverno Amazônico já impacta quase 9 mil pessoas.

O rio Machado, também em Rondônia, apresentou comportamento semelhante. Entre o fim de 2024 e o início de 2025, passou de 6,04 metros, seu menor nível, para 11,34 metros. A maior cheia do rio foi registrada em 2019, com 18,85 metros. Em Santa Luzia D’Oeste (RO), as aulas foram suspensas por tempo indeterminado, pois alunos da zona rural não conseguem chegar às escolas.

No Acre, o rio Acre transbordou no início de março e afetou mais de 31 mil pessoas em Rio Branco. O Parque de Exposições Wildy Viana foi transformado em abrigo para as famílias desabrigadas. Com a diminuição do nível do rio na última semana, algumas famílias começaram a retornar para suas casas.

No Pará, a cheia do rio Xingu levou o governo federal a declarar situação de emergência em São Félix do Xingu. Os rios Tocantins e Itacaiúnas também transbordaram, isolando comunidades nas cidades de Marabá e Oeiras do Pará.

No Amazonas, cinco rios apresentaram níveis acima dos registrados no mesmo período do ano passado. Ao todo, 23 dos 62 municípios do estado estão em alerta. Apesar disso, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) prevê que as cheias deste ano não devem atingir recordes históricos.

Comunidades ribeirinhas enfrentam extremos

Amazônico

Os ribeirinhas são os que mais sentem a intensidade e os efeitos das oscilações. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

As populações ribeirinhas, que vivem próximas aos rios e dependem diretamente deles, têm sentido com mais intensidade os efeitos das oscilações causados pelo Inverno Amazônico. Em São Félix do Xingu, no Pará, moradores relataram que muitas famílias ficaram isoladas e precisaram usar barcos para sair das áreas alagadas.

Também há dificuldades no acesso à educação. Moradores dizem que, muitas vezes, as crianças não conseguem frequentar as aulas por causa da chuva, já que o trajeto se torna intransitável com buracos e lama.

No ano anterior, moradores da comunidade Terra Firme, em Porto Velho, sofreram com a seca severa. A pesca foi prejudicada pela falta de peixes, o que afetou diretamente a renda de quem depende do extrativismo. Agora, com a cheia repentina, muitas produções estão sendo perdidas nas águas do rio.

De acordo com a Defesa Civil de Porto Velho, 29 comunidades estão diretamente atingidas pela cheia do rio Madeira, e outras 36 estão em estado de alerta. Em trechos da BR-425, a água já cobre completamente o asfalto.

Além dos impactos sociais e econômicos que o Inverno Amazônico trás, as oscilações repentinas dos rios amazônicos trazem consequências ambientais graves.  As cheias inesperadas podem prejudicar a navegação, causar perdas na agricultura, comprometer o saneamento e aumentar o número de deslizamentos. Ele também ressaltou o risco elevado de incêndios florestais durante a estiagem, que afetam diretamente as comunidades locais.

Mudanças climáticas e impactos da ação humana

O Norte do Brasil possui apenas duas estações definidas: o inverno amazônico, de chuvas e cheias, e o verão amazônico, caracterizado por estiagem e secas. Roraima, por estar no hemisfério norte, apresenta comportamento climático oposto.

Destaque são os rios como o Madeira, o Purus e o Solimões são diretamente influenciados pelo volume de chuva na bacia amazônica. Além disso, eventos climáticos oceânicos, como o El Niño e o La Niña, também interferem na intensidade das secas e das cheias.

As secas dos anos anteriores estiveram ligadas ao aquecimento anormal das águas do Pacífico, provocado pelo El Niño. Já entre o fim de 2024 e o início de 2025, a presença do La Niña, com águas mais frias, favoreceu a formação de nuvens e intensificou as chuvas na região, contribuindo para a elevação rápida dos grandes rios.

Além dos fenômenos naturais, a ação humana tem agravado a instabilidade climática. As queimadas registradas na Amazônia em 2024, por exemplo, enfraqueceram a capacidade da floresta de captar carbono, tornando-se uma fonte de emissão de gases de efeito estufa.

Os desmatamentos tem influência direta sobre o regime de chuvas na região. A floresta, além de produzir umidade e micropartículas de água que formam nuvens, atua como reguladora do ciclo das águas. Quando esse sistema se desequilibra, os impactos são sentidos pela população.

Os desmatamentos continuam na região, afetando milhares de pessoas. (Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Moradores que enfrentam o risco de perder tudo, expressam preocupação com o futuro incerto causado pelo Inverno Amazônico. Caso a água não abaixe, continuarão tendo que viver temporariamente na casa de outras pessoas.



Fonte: ICL Notícias

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