‘Greve das redes’ propõe 24 horas sem mídias sociais nesta segunda (21)

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Por Fernanda Mena

(Folhapress) – Uma pausa de 24 horas sem nenhuma rede social a partir da zero hora desta segunda-feira (21). É o que propõe a campanha digital “Greve das Redes”, que quer alertar sobre o uso desenfreado dessas plataformas, a falta de regulação de seu modelo de negócio e o impacto que têm na saúde mental de crianças e jovens, mas também de adultos.

“Sem foco? Ansiedade? Doomscroll? Cérebro podre?”, provoca uma das peças da campanha, que faz referência ao que a ciência tem apontado como prováveis consequências do mergulho da vida contemporânea em algoritmos viciantes e uma profusão de conteúdos duvidosos. “Que tal uma greve? Uma pausa. 24 horas sem nenhuma rede social”, convoca, com a hashtag #blecautedasredes. E conclui: “Desliga e respira”.

O movimento orgânico surgiu do encontro da psicanalista Vera Iaconelli, colunista da Folha, e do designer e ativista Pedro Inoue, diretor criativo da Adbusters, a partir do debate público provocado pela série “Adolescência”, em que um garoto de 13 anos mata uma colega de escola num contexto de bullying digital e de disseminação de conteúdos de ódio online.

A comoção global gerada pela série da Netflix se deu meses depois de Mark Zuckerberg, presidente-executivo da Meta, anunciar que a empresa de tecnologia abandonaria parte da moderação de conteúdo e checagem de fatos no Facebook e no Instagram. E seis meses depois de lançado o livro “A Geração Ansiosa”, do psicólogo Johnathan Haidt, que compila dados indicativos de que a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais.

Coincidência ou não, a onda de debates sobre “Adolescência” também foi seguida por uma campanha publicitária do Instagram que afirma que a conta adolescente da plataforma é segura e que a empresa se preocupa com a proteção desses usuários -que, sabe-se, são mais vulneráveis aos conteúdos que circulam nessas redes e ao formato que prende a atenção para gerar lucro.

campanha propõe pausa nas redes sociais

Cena da minissérie com mais audiência em toda a história da Netflix, ‘Adolescência’

Reforçaram o debate as recentes mortes de crianças brasileiras em desafios que circulam em redes sociais. Entre elas, está Sarah Raíssa Pereira de Castro, 8, morta ao inalar desodorante por causa de um desses desafios.

“A gente já sabe que as redes sociais viciam as crianças e os adolescentes. A molecada está se matando e matando os outros”, aponta Iaconelli, que é diretora do Instituto Gerar de Psicanálise e autora de “Manifesto Antimaternalista” (editora Zahar).

“Precisamos de uma ação coletiva para nos regularmos internamente e exigirmos que o Estado regule as redes sociais para que possamos nos cuidar e cuidar das crianças”, avalia. “A internet é maravilhosa mas as redes precisam ser reguladas porque geram hábitos tóxicos aditivos com os quais você não consegue lidar sem uma ação consciente e coletiva.”

Campanha propõe pausa nas redes sociais

Apesar de a campanha ter ganhado vida própria, divulgada por influenciadores como o pediatra Daniel Becker e os professores Deivison Nkosi, Walter Lippold e Gustavo Henrique Aguera, além do perfil do Sleeping Giants e do diretor do Instituto Alana, Pedro Hartung, a psicanalista diz que fez questão de divulgar que ela e Inoue estão por trás da iniciativa para não parecer que trata-se de algo “que veio do nada”.

“Somos a última geração que tem a memória do mundo pré-mídias digitais e redes sociais. As novas gerações naturalizaram as transformações trazidas pela internet sem muitos questionamentos”, diz ela, para quem o surgimento de encontros e lugares em que não se pode usar celular de modo a incentivar as interações presenciais é um sinal dos tempos.

Para Iaconelli, a sensação de impotência de cada um diante de um fenômeno ancorado em corporações gigantescas, as chamadas BigTech, precisa de acordos coletivos para ser enfrentada. Os conteúdos são produzidos pelos usuários, em uma escala de trabalho que extrapola a já dura 6X1 para adotar um regime 7X0, ou seja, sem pausa.

“Somos explorados e dependentes dessas plataformas para nos informar, comunicar, trabalhar e existir socialmente. Mas temos um poder: parar”, diz o manifesto que acompanha a “Greve das Redes”.

As peças da campanha foram criadas por Inoue, da Adbusters. A fundação de mídia canadense é conhecida por campanhas como “Dia Sem Compras” (“Buy Nothing Day”) e “Occupy Wall Street” e, desde 2018, seus integrantes praticam o que chamam de Moondays, um ritual em que deixam os celulares desligados por 24 horas toda lua cheia.

Para Iaconelli, a importância da “Greve das Redes” é conscientizar. “Se você não conseguir ficar 24 horas fora das redes, mas a campanha o fizer pensar um pouco sobre o assunto e desnaturalizar um pouco esse comportamento, já é válido.”



Fonte: ICL Notícias

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