Considerada uma doença multissistêmica (que atinge vários sistemas do corpo humano), a Covid-19 tem chamado a atenção de especialistas de várias áreas da saúde, incluindo os da urologia, em função do aumento de problemas urinários em homens e mulheres acometidos pelo Coronavírus. A sequela virou tema de estudo desenvolvido pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (Hcfmusp), a partir da aplicação de questionários em pacientes internados em 2020, primeiro ano da pandemia no Brasil.
O cirurgião urologista da Urocentro Manaus, Dr. Giuseppe Figliuolo, explica que uma das causas prováveis para a alteração, considerada uma sequela da Covid-19, já que perdura por meses (ainda não se sabe por quanto tempo exatamente), é o comprometimento da inervação da bexiga.
O estudo abrangeu 255 adultos acometidos pela Covid-19, após seis meses de alta hospitalar. Entre eles, estiveram pacientes graves e que desenvolveram doença mais amena/moderada, o que mostra que a sequela no aparelho urinário independe da gravidade da Covid.
Figliuolo destaca que o funcionamento da bexiga é coordenado em diferentes níveis do sistema nervoso central (SNC). A inervação da bexiga vem do plexo hipogástrico inferior, também chamado de plexo pélvico (região pélvica, abaixo do abdome). A principal função da bexiga é armazenar a urina antes de sua eliminação pelo corpo.
“Se essa inervação é comprometida, acaba afetando a capacidade de armazenamento, de eliminação e até de segurar a urina por mais tempo. Por isso, alguns pacientes apresentam aumento da frequência urinária, por exemplo, e também, noctúria (aumento da ida ao banheiro durante a noite), além de incontinência urinária”, destacou o especialista, que é doutor em saúde coletiva.
Segundo Giuseppe Figliuolo, outra questão relacionada à urologia e à Covid-19, é a impotência sexual. “Também temos estudos recentes nesse sentido, para avaliar o que resulta em problemas dessa natureza, em pacientes que tiveram a forma grave da doença. Mas, o importante é buscar ajuda médica o quanto antes. A orientação é que, em caso de problemas no aparelho urinário e no sistema reprodutor masculino, o paciente seja submetido a uma avaliação minuciosa, com o suporte de exames de apoio ao diagnóstico (incluindo os de imagem), para que seja indicada a terapia correta para o seu tratamento”, disse.
Figliuolo explica que, muito embora essas sequelas estejam relacionadas à Covid-19, as alterações já existiam antes do coronavírus e há no mercado farmacêutico, tratamentos que têm se mostrado eficazes em outros cenários e que podem resultar em melhorias na qualidade de vida dessa parcela da população.
“Problemas como incontinência urinária, por exemplo, devem ser avaliados e tratados o quanto antes, pois afetam não só a saúde física do indivíduo, mas também a saúde mental. É algo que interfere na vida social e que leva muitas pessoas a ficarem reclusas sem a ajuda adequada”, ressaltou o especialista. O médico indica que, paralelo ao tratamento urológico, seja feito o acompanhamento psicológico.
“A Covid-19 ainda é algo muito recente e as pesquisas envolvendo o coronavírus devem perdurar por anos até que tenhamos as respostas definitivas para tais alterações relacionadas. Por isso, precisamos usar as ferramentas disponibilizadas pela medicina e pela ciência, para ajudar essas pessoas a retomarem a vida após passarem pela doença”, enfatizou.