O grupo de empresários do agronegócio brasileiro que foi à China na semana passada numa comitiva organizada pelo governo federal incluiu representantes de companhias que devem mais de R$ 32 milhões em multas ambientais ao IBAMA. A principal devedora é a JBS, com 37 multas pendentes com o órgão ambiental que somam R$ 26,7 milhões. A Suzano aparece com uma infração de R$ 5 milhões.
O levantamento foi feito pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data, por encomenda do Observatório do Clima. A pesquisa usou dados da Receita Federal, segundo a piauí.
“A gente quer saber quando é que a JBS, em vez de ir para a China com multas ambientais na bagagem, vai apresentar seu sistema de rastreamento ambiental finalizado e entregar a certeza de que não contribui para o desmatamento”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
A comitiva de empresários foi montada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a pedido do presidente Lula. Incluía 102 representantes de vários setores do agronegócio, mas alguns desistiram ao saber que Lula não iria. O objetivo da comitiva era facilitar oportunidades de negócios entre empresários brasileiros e chineses.
Em um evento na China, uma declaração do presidente da APEX Brasil, Jorge Vianna, sobre o desmatamento na Amazônia causou mal-estar entre os representantes do agronegócio e um embate entre governo e oposição no Brasil. Vianna associou o desmatamento à expansão das áreas utilizadas para a agricultura e pecuária. “Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para quê essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária, 6 milhões para agricultura de grãos e 15 milhões [são] de florestas secundárias”, disse.
Vianna tentou relativizar sua acusação, dizendo que houve um “mal-entendido” em sua fala. Mas a pressão do agronegócio sobre os biomas do país, em especial sobre a Floresta Amazônica, é amplamente conhecida. E recorrente.
Prova recente vem de uma operação do IBAMA no sul do Amazonas. Nos municípios de Humaitá, Lábrea, Manicoré, Apuí e Canutama, produtores rurais e criadores de gado estão sendo notificados pelo órgão ambiental para que retirem todos os animais de áreas embargadas e os levem a pastos regularizados pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), informa o BNC. As medidas pretendem cessar a degradação ambiental e permitir a recuperação da área degradada.
Outro sinal desse pouco compromisso veio da IV Feira Internacional para a Indústria de Processamento de Proteína Animal e Vegetal (EXPOMEAT), um dos maiores eventos do setor no Brasil. Segundo ((o))eco, esta foi a primeira vez que a feira abriu espaço para falar da produção de carne livre de desmatamento. Um estande mostrava frigoríficos e supermercados com maior controle e transparência na produção da carne que comercializam. Houve também palestras sobre pecuária sustentável.