A Amazônia é um bioma que ocupa mais de 40% da extensão territorial do Brasil. Uma floresta tropical repleta de diversidade, tanto de fauna e flora, quanto de população. Tudo o que compõe essa biodiversidade está de alguma maneira conectado: floresta, clima, povos, rios e terra. E para que esta pluralidade se mantenha conservada, é necessário o respeito com o tempo de cada etapa.
O que a natureza nos oferece, sejam frutos, sementes, folhas e extratos, é o resultado de um processo orgânico e único. Não tem comando, nem obedece a instruções precisas como uma máquina para escalonar ou produzir em massa, mas pode ser reproduzido de forma responsável por meio do manejo florestal sustentável e dos sistemas agroflorestais que, de modos distintos, utilizam técnicas para uso dos recursos da natureza sem agredi-la.
De acordo com a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o sistema tradicional de monocultura degrada o solo esgotando os seus nutrientes. Mas cultivar respeitando o tempo da natureza e suas diversidades é uma maneira de gerar renda sem causar desiquilíbrio. No ano de 2022, as organizações sociais que compõem a Inatú Amazônia coletaram 5 toneladas de buriti, 3 toneladas de resina de breu, 40 toneladas de resina de copaíba e 50 toneladas de caroço de murumuru, todos extraídos com respeito à floresta.
Para Socorro Rodrigues, líder da Usina de Óleos da Associação dos Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (Aspacs), em Lábrea, quem trabalha com produtos extrativistas deve estar preparado para as oscilações de safra, que podem ser diferentes de um ano para o outro, dependendo do clima e do ciclo natural das próprias plantas.
“A natureza tem seus métodos, seu tempo, floração, frutificação e coleta, que acontece quando os frutos caem da planta. Por isso, os produtos extrativistas são diferenciados, eles são feitos tendo em vista a manutenção da floresta, produzidos de forma tradicional na vida dos comunitários que vivem dessas práticas. Respeitar cada processo, gera uma economia sustentável e ajuda na qualidade de vida de todos os envolvidos nessas cadeias de valor”, afirmou.
A Inatú Amazônia é uma marca coletiva de gestão compartilhada. Em breve, receberá status de empresa com a criação de um CNPJ único. Esta é a solução que as comunidades amazônicas desenvolveram para que, por meio dos seus poderosos óleos ou peças em madeira, promovam a conservação ambiental e a melhoria em sua qualidade de vida, conectando produtos de origem e produção sustentável ao mercado. A Inatú Amazônia é a união entre as organizações sociais da Associação de Agroextrativistas da RDS Uatumã, APADRIT, APFOV, ASAGA e ASPACS, Movelaria ILC Cavalcanti e o Idesam.
Louise Lauschner, especialista em Acesso ao Mercado da Inatú Amazônia, comenta que comercializar produtos da floresta tem vários desafios, mas um deles é educar o comprador para que ele entenda que o planejamento de compras maiores precisa ser anterior à safra, para envolver todos os atores da cadeia, há tempo de se prepararem para entregar a encomenda. “Iniciamos o processo de venda em torno de 6 meses antes da safra e precisamos entender a necessidade anual do cliente. Dessa maneira, produzimos a necessidade que o cliente precisa até a safra do ano seguinte”, explicou.
Os desafios na extração de copaíba
Muitos são os fatores que interferem na dinâmica da extração e produção dentro das organizações sociais. Algumas delas, por exemplo, já sofrem os impactos das mudanças climáticas. Até as estações do ano influenciam diretamente no acesso à extração do óleo de copaíba que, apesar de estar disponível durante o ano todo, necessita de planejamento estratégico para ser coletado.
Rosivaldo Góes, líder da Associação Agroextrativista Aripuanã Guariba (Asaga), de Apuí, explica que o óleo da copaíba é retirado de forma extrativista, ou seja, em áreas de floresta nativa, portanto a maior dificuldade enfrentada é no deslocamento até essas regiões.
“A distância onde estão essas árvores é muito extensa e temos que ir bem longe para extrair uma quantidade boa de copaíba. No inverno, conseguimos entrar nos igarapés menores e o acesso terrestre diminui, dessa maneira fica mais fácil a extração do produto e em maior quantidade. Porém, na seca, não temos mais acesso a esses igarapés e as margens dos rios ficam mais estreitas, tornando mais longe a localização destas árvores”, contou.
Apesar dos desafios, a produção extrativista retorna para as famílias que dela vivem em forma de qualidade de vida e renda, fazendo com que as comunidades que fazem parte de associações de base se desenvolvam economicamente e contribuam com a conservação da floresta. Consumir esses produtos é incentivar modelos pautados pela bioeconomia e o protagonismo comunitário.
A Iniciativa Estratégica Produção Sustentável foi desenvolvida pelo Idesam para que, em parceira com organizações sociais do Amazonas, forneça um conjunto de processos de assessoria técnica e de gestão de cadeias produtivas florestais voltados para a conservação, fomentando a autonomia e a independência financeira das famílias extrativistas que trabalham com os produtos da sociobiodiversidade amazônica. A Inatú Amazônia recebe apoio técnico do Idesam por meio desta Iniciativa Estratégica.
Texto: Camila Garcêz/Idesam
Foto: Idesam