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Condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) fugiu do Brasil. A parlamentar afirma que saiu do país para realizar um tratamento médico e que irá solicitar licença do mandato.
No dia 17 de maio, Zambelli foi condenada, de forma unânime, pelos ministros do STF por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica. Segundo a acusação, ela orientou o hacker Walter Delgatti Neto a invadir o sistema e inserir documentos falsificados, entre eles um falso mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Além desse processo, Zambelli também responde por porte ilegal de armas e constrangimento ilegal. Na véspera das eleições de 2022, a parlamentar sacou uma arma e perseguiu um homem pelas ruas do bairro Jardins, em São Paulo, episódio que também se tornou símbolo de sua trajetória marcada por controvérsias.
A carreira política de Carla Zambelli começou no ativismo de rua e transitou por diferentes movimentos, desde pautas feministas até sua consolidação como figura de destaque do bolsonarismo. Nos últimos anos, enfrentou desgaste e perda de prestígio, inclusive entre antigos aliados.
Relembre a trajetória de Carla Zambelli

Manifestações do movimento Nas Ruas foram frequentes em 2013 (Foto: Reprodução)
2011: Fundação do movimento Nas Ruas
Carla Zambelli fundou, em 2011, o grupo Nas Ruas, que se destacou nos protestos contra o governo Dilma Rousseff em 2013. Após os atos, ela seguiu participando ativamente de manifestações de direita e, mais tarde, se tornou uma das principais vozes do bolsonarismo.

Carla Zambelli, a direita, já fez parte do grupo feminista Femen, famoso pelos seus protestos mundo afora (Foto: Reprodução)
2012: Participação no grupo feminista Femen
Antes de se consolidar na direita, Zambelli fez parte do grupo feminista Femen, conhecido por protestos topless e manifestações de cunho radical em defesa dos direitos das mulheres. Em 2012, ela participou de atos usando a tradicional coroa de flores do movimento e chegou a protestar em frente ao MASP, em São Paulo, com a frase “quero nascer em casa” escrita no corpo. O Femen encerrou suas atividades no Brasil em 2013, após divergências internas.

Carla Zambelli integrou um grupo de oito pessoas que se acorrentaram em uma pilastra na Câmara dos Deputados, em 2015, contra o governo Dilma (Foto: Reprodução)
2015: Acorrentada na Câmara pelo impeachment de Dilma
Em outubro de 2015, Zambelli participou de um protesto dentro da Câmara dos Deputados, no qual se acorrentou a uma pilastra no Salão Verde junto a outros manifestantes. O objetivo era pressionar o então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O pedido foi acolhido dois meses depois, desencadeando o processo que culminou na cassação de Dilma em 2016.

Em 2018 foi eleita deputada (Foto: Reprodução)
2018: Eleição como deputada federal
Na onda do bolsonarismo, Zambelli foi eleita deputada federal por São Paulo em 2018, acompanhando o fortalecimento das forças políticas ligadas a Jair Bolsonaro. No Congresso, ela se destacou como vice-líder do PSL e do governo, além de presidir a Comissão de Meio Ambiente da Câmara.

Joice Hasselmann e Zambelli eram muito próximas, mas afastamento de Joice do bolsonarismo fez elas romperem (Foto: Reprodução)
2019: Rompimento com Joice Hasselmann
Aliada de primeira hora de Joice Hasselmann, com quem fez campanha em 2018, Zambelli rompeu com a colega após Joice se afastar do bolsonarismo. O fim da aliança virou uma troca pública de ataques, com discussões constantes nas redes sociais.

Moro foi convidado para ser padrinho de casamento de Zambelli, mas logo se afastaram (Foto: Reprodução)
2020: Sergio Moro padrinho de casamento
Zambelli se casou em fevereiro de 2020 com o coronel Aginaldo de Oliveira, tendo como padrinho o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro (União-PR). Moro chegou a declarar que aceitou o convite “por constrangimento”, pois não mantinha relação pessoal com ela. Pouco tempo depois, veio o rompimento, após Moro deixar o governo Bolsonaro ao denunciar tentativas de interferência na Polícia Federal. Na ocasião, Moro revelou mensagens em que Zambelli sugeria que ele aceitasse a troca de comando da PF em troca de uma indicação ao STF.

Mesmo perdendo um pouco de popularidade, Carla Zambelli se reelegeu com terceiro maior número de votos (Foto: Reprodução)
2022: Reeleição
Nas eleições de 2022, Zambelli foi reeleita deputada federal com 946.244 votos, sendo a terceira mais votada do país, atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG).
Porém, em janeiro de 2025, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassou seu mandato por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao disseminar fake news nas eleições. A decisão a tornou inelegível por oito anos.

Momento em que Carla Zambelli persegue Luan Araújo (Foto: Reprodução)
2022: Armada e perigosa nas ruas de São Paulo
Na véspera do segundo turno das eleições de 2022, Zambelli sacou uma arma e perseguiu um homem negro, Luan Araújo, nas ruas do bairro Jardins, em São Paulo. As imagens repercutiram negativamente e foram apontadas, inclusive por Jair Bolsonaro, como um dos fatores que prejudicaram sua campanha à reeleição. O STF aceitou a denúncia da PGR, tornando Zambelli ré pelos crimes de porte ilegal de arma e constrangimento ilegal.

De amigos íntimos para afirmações de ‘traidora’ por parte de Bolsonaro (Foto: Reprodução)
2025: Bolsonaro a responsabiliza pela derrota nas eleições
Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., em março de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro culpou Zambelli pela derrota na eleição de 2022. Segundo ele, a cena dela perseguindo um homem armado teria gerado desgaste na campanha e levado parte dos eleitores a anular o voto, além de ter falado para interlocutores que foi traído pela deputada.

Condenação foi de forma unânime pelo STF (Foto: Reprodução)
2025: Condenação no STF por invasão hacker
Em maio de 2025, a Primeira Turma do STF condenou, por unanimidade, Carla Zambelli a 10 anos de prisão por invasão aos sistemas do CNJ e falsidade ideológica. O hacker Walter Delgatti também foi condenado a 8 anos e 3 meses. A investigação revelou que a deputada encomendou ao hacker a criação de documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
O STF também declarou que a conduta da deputada demonstra total descompromisso com as responsabilidades do cargo, além de sua disposição para praticar atos ilícitos.
Com a condenação, Zambelli corre risco de perder definitivamente seu mandato na Câmara dos Deputados e ficará inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, caso o resultado se confirme após análise dos recursos.
Fonte: ICL Notícias