Redes aéreas de abastecimento de água levam dignidade e saúde a moradores de palafitas em bairros da orla da cidade
Todo morador de Manaus está acostumado a ver casas palafitas na orla da cidade. Essas habitações estão presentes na paisagem urbana pelo menos desde 1920 com o que ficou conhecido na época como “Cidade Flutuante”. No entanto, esse tipo de moradia, que surgiu com a ocupação acelerada da cidade ao longo do último século, coloca em risco a saúde das pessoas. Mas com disposição e criatividade, os moradores dessas regiões estão tendo acesso a medidas de saúde e dignidade através da tecnologia.
Desde julho de 2018, a Águas de Manaus é a empresa concessionária de saneamento básico da capital do Amazonas. Pertencente ao Grupo Aegea Saneamento, a empresa traz em seu currículo cases de sucesso como a Águas de Guariroba, Águas de Holambra e Águas de Teresina. Em Manaus, a empresa está fazendo história com a implantação de redes de abastecimento em áreas de casas palafitas, becos, rip-raps e escadarias.
“Nossa prioridade é ter uma atuação o mais humana possível. Queremos levar dignidade e saúde a toda a população de Manaus, especialmente a parcela mais vulnerável”, destaca o gerente do programa de atendimento itinerante da Águas de Manaus, Vem com a Gente, Waldyr Villanova. “Uma medida importante para garantir o abastecimento com água tratada é adaptar tecnologias de acordo com a realidade encontrada na cidade. Em alguns locais, por exemplo, implantamos as ‘redes aéreas’ para abastecer regiões de palafitas”, explica Villanova.
No formato de redes aéreas, as tubulações de água tratada são colocadas em uma estrutura sobre as pontes de madeira, substituindo redes antigas irregulares, que tinham contato direto com as águas de sujas de igarapés. Assim, além de garantir que os moradores destas regiões de vulnerabilidade passem a contar com água limpa e tratada em suas casas, a empresa promove saúde e dignidade nestas regiões. Bairros como Cachoeirinha, Raiz, Redenção e Educandos já contam com a tecnologia das redes aéreas.
Desde que chegou na cidade, em junho de 2018, a Águas de Manaus já implantou mais de 50 quilômetros de redes de água nos 30 bairros visitados pelo programa “Vem com a Gente”.
Nem durante a pandemia a empresa diminuiu o ritmo de obras e ações. Em maio, por exemplo, a empresa fez um trabalho específico na orla de Educandos. Foram implantando 1.100 metros de novas redes de água tratada, substituindo redes antigas, instalação de hidrômetros, retirada de ligações irregulares e correção de vazamentos na região. Cerca de 1200 moradores de palafitas foram beneficiados com a intervenção da concessionária, recebendo água tratada de qualidade durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19.
Cidade flutuante
Há cerca de cem anos, em 1920, começou a se formar na orla de Manaus, a partir da Praça dos Remédios, uma grande cidade de casas de madeira que flutuavam sobre as águas do rio Negro, a Cidade Flutuante.
“Era flutuante, porque constituída de casas de madeira e a partir de uma solução bastante amazônica, assentadas sobre boias de açacu, que flutuam mesmo com bastante peso”, explica a historiadora formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Francisca Deusa Costa. “Elas se concentravam na entrada do Porto de Manaus e eram mais ou menos 1,2 mil flutuantes que comportavam 12 mil moradores, praticamente um bairro”, destaca Deusa.
A cidade flutuante começou na orla da praça dos Remédios entre 1920 e 1966 e chegou até o bairro dos Educandos. Segundo o ex-presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), Geraldo dos Anjos, ela foi formada por migrantes nordestinos que vieram trabalhar em seringais no período da II Guerra Mundial. “Não tendo onde morar, começaram a fazer suas casas em cima das águas do rio Negro e, assim, foi constituindo-se a cidade flutuante”, conta dos Anjos.
Sob as águas a Cidade Flutuante possuía o equivalente a ruas e estabelecimentos comerciais como farmácia, lojas de roupas e sapatos, boates, casas e quartos para alugar e luz elétrica. “As casas eram construídas em cima de toras de madeira e cobertas de palha ou telhas zinco. As moradias não apresentavam condições de higiene a seus habitantes constituindo um sério problema de saúde pública”, destaca Geraldo dos Anjos. Foi no governo de Arthur César Ferreira Reis (1964-1967) que a Capitania dos Portos removeu os moradores do local para conjuntos habitacionais nos bairros Raiz, São Jorge e Vila da Prata.
Para Geraldo, as palafitas que hoje existem em Manaus não são herança da cidade flutuante, mas têm origem no mesmo problema. “Hoje, estas casas flutuantes representam a falta de moradias para esta população carente”, avalia. “Elas existem porque o poder público não tem uma política habitacional para estas populações carentes”, acrescenta dos Anjos.
Um século depois da criação da “cidade flutuante”, o trabalho para regularizar o abastecimento de água e melhorar as condições de saúde em áreas de palafita na cidade vem sendo desenvolvido diariamente pela concessionária Águas de Manaus. “Quando a empresa chega em uma área de palafita, implanta novas redes e leva água tratada até os moradores, estamos levando, qualidade de vida dignidade e mais do que nunca, saúde até a casa destas pessoas. Em pouco mais de dois anos, implantamos 50 quilômetros de rede apenas em áreas de palafitas. É um olhar para uma parcela da população que não contava com esse serviço por décadas e que hoje tem mais saúde e dignidade. A empresa tem ido de porta em porta nos bairros, comunidades, becos e ouve as demandas de quem mora ali. Assim, podemos trabalhar de maneira mais precisa, para resolver as demandas e melhorar a qualidade de vida nestes locais. Queremos garantir que todas estas pessoas tenham acesso a água de qualidade na torneira e a benefícios como a tarifa social”, declarou o diretor-presidente da Águas de Manaus, Renato Medicis.
Prêmio da ONU – A criação das redes aéreas rendeu à concessionária Águas de Manaus o reconhecimento internacional com o prêmio Pacto Global das Nações Unidas, uma plataforma da ONU, voltada para empresas alinharem suas estratégias à sustentabilidade. Intitulado de “De marginalizados a protagonistas: dignidade e inovação para as regiões de palafitas e ocupações irregulares em Estados do Norte e Nordeste do Brasil” o projeto fez o grupo Aegea vencer o Prêmio Cases de Sucesso em Água e Saneamento 2019.