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A maior emissora de TV do país tem no setor de jornalismo alguns dos melhores profissionais do mercado. Também dispõe de recursos de ponta para a produção de reportagens que, na maioria das vezes, são muito bem aproveitados pela equipe talentosa.
Apesar da excelência dos jornalistas e do equipamento top disponível, em momentos cruciais da história a TV Globo decidiu errar deliberadamente, esconder a verdade ou simplesmente contar mentiras ao seu público.
A Ditadura Militar, que por 21 anos perseguiu, torturou e matou opositores, deve muito de sua longa duração ao apoio da emissora. A julgar pelos programas daquela época, os brasileiros viviam no paraíso — na realidade, era o inferno. O próprio grupo de comunicação da família Marinho reconheceu que ficou do lado oposto ao dos democratas nesse período.
Houve vários outros momentos em que a Globo usou o peso de sua marca para tirar o Brasil do rumo da igualdade social. Está nessa lista o esforço feito para eleger Fernando Collor de Melo presidente em 1989 — incluída aí a vergonhosa manipulação do debate entre Collor e Lula, admitida candidamente pelo chefão da época, Boni.
Em outro episódio escabroso, há alguns anos a emissora foi a porta-voz da criminosa Operação Lava Jato, a maior farsa jurídica já ocorrida no país. Foi graças à exaustiva exposição na telinha da Globo que Sergio Moro e seus asseclas passaram a gozar do status de heróis e o antipetismo atingiu o ápice.
Apesar desses graves exemplos de transgressão das regras do jornalismo, nada se compara ao que assistimos agora, na cobertura do genocídio que o governo de Israel empreende em Gaza.
Até pelo número de vítimas: desde outubro de 2023, mais de 54 mil palestinos foram assassinados pelos militares israelenses, 70% mulheres e crianças.
Israel bombardeou residências, escolas, universidades, hospitais lotados de doentes graves. Por várias vezes, militares de Israel atiraram e mataram palestinos famintos que se amontoavam à espera de um mínimo de comida, executaram socorristas que estavam em ambulância, assassinaram funcionários da ONU, fuzilaram jornalistas, exterminaram crianças… a quantidade de barbaridades é imensa.
O governo Netanyahu destruiu a estação de tratamento de água de Gaza, impediu por semanas que a ajuda humanitária entrasse com comida, enquanto milhares de adultos e crianças morriam de fome.
Os numerosos assassinatos diários perpetrados por Israel são reportados no principal noticiário da Globo, o Jornal Nacional, sempre seguidos de uma justificativa ou desculpa do governo israelense. Já os dados do morticínio em Gaza são sempre levados a público com a ressalva de que o número de mortos é informado pelo Hamas (um jeito maroto de colocar em dúvida a informação).
Apesar de Israel ter matado 54 mil pessoas e o Hamas cerca de 1,5 mil, o tempo gasto pelo JN para mostrar a dor dos israelenses é muitíssimo maior que a exposição do sofrimento palestino.
E a palavra final sempre cabe a alguém de Israel — seja o parente de algum refém que está nas mãos do Hamas ou pior: do próprio Netanyahu.
Governantes de potências europeias já deixaram de lado o apoio incondicional ao governo israelense e passaram a criticá-lo. Entidades e personalidades independentes de várias nacionalidades fizeram o mesmo. As ruas de vários países estão cada vez mais cheias de manifestantes que pedem paz para Gaza.
Mas na Globo o massacre não tem nem o beneficio da falsa equivalência: a linha editorial pende nitidamente para Israel. Não é uma opinião. Quem duvidar que o jornal escolheu um dos lados e achar que a crítica se baseia em noções subjetivas pode usar um parâmetro bastante objetivo, fácil de medir: a minutagem. O tempo dado às versões de Israel sempre é incomparavelmente maior.
O que acontece em Gaza é um marco histórico. Agir como cúmplice ou simplesmente tolerar aquele genocídio sem marcar uma posição é desumanizar o que ainda resta de humano em nós.
É isso que a Globo está ajudando a fazer a cada noite, quando o JN toma o lado de Israel. Sua responsabilidade nesse processo é proporcional à audiência gigantesca que mantém há anos.
Ironicamente, depois do noticiário os apresentadores dão “boa noite” e dizem: “Assista agora a Vale Tudo”.
Talvez sem se dar conta de que o vale-tudo ali já tinha começado antes.
Fonte: ICL Notícias