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Relatório da Comissão Pastoral da Terra, divulgado na quarta-feira (23), mostra que o Brasil teve o maior registro de contaminação por agrotóxicos na década, com 276 casos em 2024, um aumento de 762% em relação ao ano anterior (32 casos). Do total de casos registrados, 228 ocorreram no Maranhão.
Segundo a CPT, comunidades tradicionais do Maranhão estão sendo atingidas pela pulverização aérea de agrotóxicos na região. O alerta já havia sido feito pela CPT em relação divulgado no fim do ano passado.
Na ocasião, Ronilson Costa, da coordenação da CPT, disse que um dos fatores que explicava o aumento de casos registrados de contaminação foi o crescimento das denúncias realizadas por comunidades afetadas pelo problema.
“Os casos que aconteceram em 2022 e 2023 foram muito visibilizados. Quanto mais se comunicou esses fatos, mais as pessoas consideraram uma situação grave e passaram a denunciar”, disse.
Outro estudo recente, publicado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), revelou que a água da chuva em pelo menos três regiões do estado de São Paulo está contaminada por venenos agrícolas, incluindo substâncias proibidas no Brasil. Foram encontradas 14 moléculas de agrotóxicos em amostras coletadas em Campinas, Brotas e na capital paulista. Entre elas, a atrazina, usada em larga escala pelo agronegócio no país, foi identificada em 100% das coletas.
Agrotóxicos e mais ameaças de morte
O relatório da CPT também indica que houve 2.185 casos de conflitos em 2024, uma queda de quase 3% na comparação com o ano anterior, quando o país bateu um recorde nesse tipo de ocorrência. Contudo, ainda é o segundo maior da série histórica, que teve início em 1985.
O relatório aponta que o número de assassinatos diminuiu em 58% na comparação com 2023, com 13 vítimas. Do total de mortes, cinco foram de indígenas, as principais vítimas desse tipo de ocorrência.
Também foram assassinados 3 trabalhadores sem-terra, 2 assentados, 1 posseiro, 1 quilombola e 1 pequeno proprietário.
Dos 13 assassinatos registrados, 8 aconteceram nas regiões de Exploração das Fronteiras Agrícolas (62% dos casos). A área abrange parte do Nordeste, do Norte, do Cerrado e o Matopiba (formado pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O estudo constatou que 46% dos crimes foram comandados por fazendeiros e 31% tiveram policiais como executores.
Se houve queda no número de assassinatos, as ameaças de morte foram as maiores da década, com 272 casos registrados, uma alta de 24% frente ao ano anterior.
As disputas envolvem, por exemplo, luta por terra, água, direitos e pelos meios de trabalho ou produção.
Em 2024, as categorias das ocorrências foram disputas por:
- terra (78% dos casos);
- água (12%);
- trabalho (6%); e
- resistência (4%).
Incêndios e desmatamento
O relatório apontou aumento de 11% dos incêndios (194) e 39% de crescimento do desmatamento ilegal (209) na comparação entre 2024 e 2023.
De acordo com a CPT, a região mais afetada pelo desmatamento e pelo fogo é a Amazônia Legal, com destaque para o Mato Grosso, responsável por 25% dos casos de incêndios registrados no território nacional, e o Pará, que concentra 20% dos registros de desmatamento ilegal.
Trabalho escravo
Em 2024, cresceu o número de resgates de trabalhadores em situação análoga à escravidão, segundo o relatório. O aumento foi de 39%, o que corresponde a 1.622 trabalhadores resgatados. Já o número de casos caiu 40%, com o total de 151 registros.
A Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica, organiza publicações sobre conflitos no campo desde 1985.
Fonte: ICL Notícias