Igor Mello
No fim de sua sustentação no julgamento da admissibilidade da denúncia sobre o golpe de Estado, o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, destacou uma suposta colaboração do ex-presidente com a transição de governo para que o presidente Lula tomasse posse em janeiro de 2023.
“O fato concreto é que o acusado de liderar uma organização criminosa para dar golpe, socorreu o ministro da Defesa, nomeado pelo presidente Lula, porque o comando militar não o atendia. Foi o presidente que determinou a transição. Foi o presidente que determinou que eles atendessem o ministro da Defesa que assumia em 1 de janeiro”, afirmou ele.
O que o advogado Celso Vilardi não mencionou é que, na mesma época da transição, Bolsonaro convocou os comandantes das três forças para discutir a execução de um golpe de estado. O general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior admitiram as reuniões, em depoimentos à PF.
Além disso, Bolsonaro demorou 44 horas para fazer seu primeiro posicionamento público após a derrota no segundo turno de 2022. Na fala de apenas 2 minutos, defendeu as manifestações golpistas que interditavam rodovias em todo o país. E se recusou a reconhecer a vitória de Lula.
Ficou a cargo do senador Ciro Nogueira (PP), então ministro da Casa Civil, anunciar o início da transição, com a nomeação da equipe indicada pelo petista.
Bolsonaro e Forças Armadas
Vilardi citou uma declaração dada por José Múcio Monteiro, ministro da Defesa de Lula, que só teria sido recebido pelos comandantes das três forças após apelar por um auxílio de Bolsonaro.
Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Múcio falou sobre o episódio em fevereiro deste ano.
“A primeira dificuldade foi ser recebido pelos comandantes [das Forças Armadas]. Foi quando eu recorri ao presidente Bolsonaro, meu colega de muitos anos, sempre tivemos uma relação muito boa. E falei a ele: ‘Sou o novo ministro da Defesa e queria que você me ajudasse a fazer uma transição tranquila. Vai ser bom para o novo governo, vai ser bom para o seu governo, que está terminando’”.
Contudo, notícias publicadas em dezembro de 2022 davam conta de que a recusa em receber representantes de Lula foi combinada entre os comandantes das três forças e o próprio Bolsonaro.
No mesmo contexto, os três teriam se comprometido com Bolsonaro a entregar os cargos antes da posse de Lula, criando uma crise militar. O plano foi dissuadido, no entanto.
Ainda assim, Almir Garnier, comandante da Marinha, recusou-se a passar o comando ao seu sucessor nomeado por Lula, Marcos Sampaio Olsen. Ele é um dos denunciados pela PGR por ter se disposto a empregar tropas da Marinha para dar um golpe.
Fonte: ICL Notícias