Agricultor morto na mesma região que Dorothy Stang denunciava invasões no Pará

0
1


ouça este conteúdo

00:00 / 00:00

1x

Famílias do assentamento agrário Virola Jatobá, em Anapu, no sudoeste do Pará, pedem Justiça pelo assassinato do agricultor Ronilson de Jesus Santos, de 53 anos. Liderança de 120 famílias no campo, ele foi encontrado morto com tiro na cabeça por volta das 14h20 da sexta-feira (18), logo depois que o filho caçula havia saído para comprar peixe para almoçarem.

Quatro dias antes do crime, Ronilson gravou na última segunda-feira (14) um vídeo denunciando a invasão de madeireiros e pistoleiros na região. No vídeo, ele relatou que invasores estavam entrando na área, construindo acampamentos e mexendo em plantações. “Os fazendeiros estão ali construindo barraco, tirando estaca, fazendo tudo, fazendeiro com pistoleiro dentro da área. Isso não pode acontecer”, ele dizia no vídeo.

Além de liderança no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola Jatobá, Ronilson também era dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil) e atuava na luta pela reforma agrária no Pará.

Vivendo na área desde 2016, os agricultores de Virola-Jatobá relatam que a situação estava escalando em tensão por disputa de terra. O ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) também divulgou um comunicado sobre o “covarde assassinato” de Ronilson de Jesus Santos.

O assentamento rural, que parte do princípio da necessidade de preservação da floresta amazônica para o desenvolvimento da agricultura familiar, fica na mesma região onde a missionária Dorothy Stang, agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), foi assassinada há pouco mais de 20 anos, em 12 de fevereiro de 2005.

Agricultor assassinado sofria ameaças de pistoleiros 

Dorothy foi morta por atrapalhar planos de grilagem a cargo de fazendeiros da região. Vinte anos depois, a região de Anapu e os assentamentos rurais existentes no curso da rodovia Transamazônica seguem marcados por violência na disputa pela terra.

Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo em 11 de fevereiro, por ocasião dos 20 anos do assassinato de Dorothy, mostrou que o PDS Virola Jatobá é um dos cinco assentamentos da região com conflitos mais recorrentes, segundo agentes da CPT.

A reportagem mostrou que a violência está mais perceptível no Virola Jatobá, com presença de invasores limpando áreas, ronda de pessoas ligadas a fazendeiros e grileiros, ação de madeireiros e atuação de posseiros com mais poder econômico que os assentados.

Agricultor assassinado sofria ameaças de pistoleiros

Segundo o Incra, o assentamento onde Dorothy foi assassinada e o PDS Virola Jatobá -criado em 2004, véspera da morte da missionária- não têm atos formais de consolidação, mas são considerados definitivos por força de um decreto de 2018, que considera um assentamento consolidado após 15 anos de implantação. Existe uma ação na Justiça relacionada ao assentamento, e o Incra tenta retirar invasores.

O agricultor Ronilson, segundo os relatos, sofria ameaças na região por parte de pistoleiros. Há pressão de madeireiros e grileiros pelas áreas, e também atuação de produtores de soja, conforme os relatos feitos. Uma tentativa de solução junto ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) estava agendada para maio, a ser capitaneada por Ronilson, conforme a CPT.

Integrantes da CPT afirmaram que o agricultor lavava roupas quando foi assassinado. Vizinhos dizem ter ouvido tiros, e não se sabe quantos disparos teriam sido feitos. O temor manifestado pela CPT é de que famílias do assentamento corram o mesmo risco.

Segundo o ministro Paulo Teixeira, Ronilson era líder na Contraf e tinha mulher e três filhos pequenos.
“A região é palco de conflitos entre agricultores e madeireiros. Estamos tomando providências para garantir que o crime não fique impune”, escreveu em sua conta no X.

O ministro do governo Lula (PT) disse ter conversado com Ualame Machado, secretário de Segurança Pública do Governo do Pará, de Helder Barbalho (MDB). “Conversei com o secretário para pedir investigação e proteção aos demais agricultores. Ele se comprometeu a enviar agentes ao local.”

O acampamento deve ser incluído em programa de proteção de defensores dos direitos humanos, conforme o ministro. “O crime atinge diretamente um território de luta e resistência da agricultura familiar e reforma agrária, e dos povos da floresta”, afirmou a Contraf.



Fonte: ICL Notícias

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui