O uso do ácido hialurônico em pacientes em tratamento radioterápico, para o combate ao câncer de colo uterino, se mostrou bastante eficaz na prevenção à cistite actínica, efeito colateral comum à exposição de radiação. A conclusão partiu de uma pesquisa desenvolvida no âmbito da Fundação Cecon (Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas), realizada com a coordenação do cirurgião urologista e doutor em saúde coletiva, Giuseppe Figliuolo. De acordo com o especialista, a incidência desse tipo de alteração, tanto durante o tratamento, quanto de forma tardia, foi bastante reduzida com a utilização do produto.
A cistíte actínica é uma inflamação caracterizada por uma série de alterações, tais como hematúria (sangramento na urina), dor durante ao urinar, incontinência urinária (perda involuntária da urina), hidronefrose (dilatação do rim), diminuição na capacidade de armazenamento vesical e maior propensão a infecções urinárias.
A pesquisa, segundo Figliuolo, incluiu 35 pacientes com câncer de colo uterino e foi realizada entre os anos de 2015 e 2016, a partir da metodologia chamada de “estudo clínico randomizado”. De acordo com o cirurgião urologista e membro ( titular)da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), durante a análise, o grupo selecionado foi dividido em dois subgrupos, sendo um de controle, que não utilizou o medicamento, e outro que recebeu a medicação de forma aleatória, ambos com início simultâneo do tratamento radioterápico, facilitando a análise posterior.
“O acompanhamento incluiu a avaliação da toxicidade da ( radioterapia) na bexiga durante as sessões e com 3, 6 e 9 meses após o término da radioterapia. O resultado revelou que, dentre os 35 pacientes, os que receberam instilações de ácido hialurônico, não apresentaram sintomas urinários de cistite actínica. Já entre entre os que não usaram o medicamento (grupo controle), três (16,67%) apresentaram cistite aguda (sintomas que se desenvolvem durante ou até três meses após a radioterapia) e cinco (27,7%) tiveram cistite subaguda (os sintomas se desenvolvem entre 3 e 6 meses após a radioterapia)“, destacou.
Como não houve ocorrência da cistite actínica no grupo que recebeu a medicação, a expectativa é que o estudo seja ampliado para pacientes acometidos por outros tipos de câncer, como os de ânus, reto e especialmente os de próstata, todos localizados na região pélvica, destaca o médico. “No caso do câncer de próstata, especialmente, a abordagem seria de extrema importância, considerando que trata-se de um dos tipos da doença de maior incidência entre homens no Amazonas e no brasil, com previsão mais de 500 e de 65 mil casos, respetivamente, conforme projeção do INCA (Instituto Nacional do Câncer), número considerado bastante significativo”, explicou.
Giuseppe Figliuolo explica, ainda, que o tipo de câncer escolhido para a abordagem inicial, levou em conta o fato de as neoplasias de colo uterino estarem no topo da lista dos cânceres em mulheres no Amazonas, o que eleva a preocupação com a ampliação do leque terapêutico.
A radioterapia é utilizada de forma isolada ou combinada para o tratamento do câncer de próstata, apresentando eficácia relevante e sendo mais um modelo terapêutico em casos, geralmente, iniciais.