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A personalidade de IZA dá o tom a AFRODHIT, o trabalho mais feminino da artista

Cantora percorre múltiplos gêneros nas 13 faixas autorais que refletem sua intimidade com os sons que ecoam pelas ruas das cidades

IZA apresenta o aguardado AFRODHIT, o álbum — considerado pela própria cantora — como o mais feminino e pessoal da carreira. Para tanto, ela descartou músicas quase prontas ao julgar que não representavam seu momento presente e, em fevereiro deste ano, recomeçou o trabalho do zero, com uma identificação maior com temas jamais ditos e que, agora, soam naturais e nada incômodos para ela. “Eu me sinto mais confortável para ser quem eu quero e falar coisas que não disse antes”, explica. IZA chega ao novo projeto não só abraçada com sua independência feminina, como no auge de um domínio artístico impulsionado por superações emocionais conquistadas recentemente.

Se a etimologia do nome Afrodite ainda é um mistério, o mesmo não se aplica a AFRODHIT, inspirado no conceito de um ser que nasceu do centro da Terra e caiu no universo urbano, passando a viver as conquistas e agruras, os desamores e recomeços. AFRODHIT aterrissa para descobrir todos os prazeres e aflições que permeiam os relacionamentos. Esse olhar para a realidade surge nas mais variadas versões — sempre fortemente orientadas para o afrobeat — que conduzem IZA a ritmos que vão de R&B, rap, lovesong até funk, extrapolando os limites da MPB, resultado de sua vivência nos palcos, nas telas e no presente. A cantora e compositora comanda todo o corre, mesmo quando é preciso se adaptar a gêneros mais “inesperados”; nota-se tranquilamente que percebeu as inúmeras possibilidades para a própria voz, que se reinventa e se molda à proposta.

O álbum é, em grande parte, uma imersão nas questões femininas, para a qual a protagonista IZA convidou parceiras para lá de especiais, mulheres que crescem ombro a ombro com ela, para dividir essa caminhada repleta de descobertas. São abordadas temáticas pelas quais as mulheres se reconhecem em IZA, que, por sua vez, reconhece-se em si mesma. E, perpassando o álbum, o recado vai sendo dado: hoje, IZA já não encontra dor em deixar o passado no passado e mirar corajosamente um futuro independente — de certo, um movimento de transformação de dentro para fora, que, em AFRODHIT, irrompe em novas e audaciosas habilidades adquiridas ao longo desses anos.

Não significa que a cantora e compositora esteja travando uma batalha contra o sexo oposto, longe disso. Os que chegam para acrescentar são muito bem-vindos, como Arthur Verocai, na faixa de abertura, “Nunca Mais”; Russo Passapusso, em “Mega da Virada”; L7nnon, em “Fiu Fiu”; e Djonga, em “Sintoniza”. As escolhas demonstram o radar apurado de IZA e reforçam sua versatilidade, ao fazê-la embarcar em uma jornada destemida com representantes da música brasileira que reinam nas ruas de todo o Brasil. São faixas arrebatadoras, cada uma a seu modo: em “Nunca Mais”, o desabafo de IZA é contundente, porém amenizado pelo luxuoso arranjo de cordas do maestro Verocai. A festa de “Mega da Virada” é invocada pela cantora e endossada pelo líder do BaianaSystem, Russo Passapusso. Já “Fiu Fiu” traz a naturalidade com que as gerações mais jovens lidam com o sexo, desmistificando os desejos no trap classudo de L7nnon, com o toque marcante do concorrido beatmaker Papatinho. Com arranjo do premiado produtor Nave, “Sintoniza” é um convite melodioso cheio de malícia para o flow incisivo do rapper Djonga.

Mas também não deixa de ser verdade que AFRODHIT traz um coro feminista tão baseado em experiências reais que deixa as teorias no chinelo. Para a divertida “Fé nas Maluca”, a cantora convida MC Carol, outra líder negra, para dividir os vocais ou, melhor dizendo, para se unir e confabular sobre o poder da união entre as mulheres. A funkeira, nascida e criada nas favelas do Rio de Janeiro, é considerada uma importante voz feminista da quebrada, com suas letras de cunho pessoal e relatos de experiências sexuais. Aqui ganha o aval de IZA, reforçando que qualquer padrão estabelecido para as mulheres é uma grande bobagem e deve ser combatido com uma boa dose de sororidade. Assumidamente fã de Tiwa Savage, IZA compartilha uma faixa com a nigeriana e confortavelmente se equipara à rainha do afrobeat. Na dançante “Bomzão”, com a mescla de ritmos, vozes e idiomas, elas se complementam e transportam o flerte para a pista, satisfazendo o desejo dos fãs que estiveram no festival Back2Black torcendo por esse feat.

Crédito: MarVin

Tomando a característica cativante de “Que Se Vá” como referência, não se espante caso uma, duas, três faixas, ou até mesmo todas, tornem-se hits imediatos assim que AFRODHIT estiver disponível. “Que Se Vá” é um basta ao que não é mais tolerado no universo feminino e, nas palavras da cantora, “uma música de libertação”. Embalada por uma sonoridade irresistível, a composição é claramente um grito, um desabafo, uma virada de página — da qual IZA sai ainda mais forte e às gargalhadas.

Cantarolar não só é permitido, como um convite pessoal de IZA. Vai resistir?

Faixa a faixa por IZA
1 – “NUNCA MAIS”
(IZA, Carolzinha, Caio Paiva, Douglas Moda, Jenni Mosello e King)
“Um R&B que comecei a criar imaginando como seria uma faixa que unisse Sade e Kali Uchis.” Ainda nas palavras da própria cantora, “é uma música a respeito da intensidade dos relacionamentos”.

2 – “FÉ NAS MALUCA” – FT. MC CAROL
(IZA, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello, King, Nine, Nox e Mc Carol)
Um manifesto da união entre as mulheres, mesmo diante de situações questionáveis. “É uma mistura de irmandade e amizade. Acho que [“Fé nas Maluca”] descreve muito sobre nós [mulheres].”

3 – “QUE SE VÁ”
(IZA, Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello, Lucas Vaz e King)
Se é pra lavar roupa suja, eu tô te devolvendo até o pregador” — esta é apenas uma das frases da música que resume a “ação em si”: “O momento em que eu entendi que eu tinha virado página”.

4 – “TÉDIO”
(IZA, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Nox, Nine, Beasi)
Uma franca narrativa de uma convivência que chegou ao limite. “Às vezes, a gente é obrigada a acreditar que aquilo é o normal (…) mas não deveria ser.”

5 – “MEGA DA VIRADA” – FT. RUSSO PASSAPUSSO
(IZA, Douglas Moda, Pablo Bispo, Ruxell, Gondim, Multi, Tállia, Romeu, Klismman, André Vieira, Breder, Wallace Vianna, Russo Passapusso)
Não por acaso, é uma das faixas mais festivas do álbum. IZA sempre expressou a predileção em cantar reggae, e este vem coroado com a potência de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem. Honrada com a participação, já que é admiradora da genialidade de Russo, IZA se joga como se estivesse no centro da tradicional roda da banda: “Um pagodão meio reggae que canto já imaginando como será no show”.

6 – “BATUCADA”
(IZA, Carolzinha, Jenni Mosello, Douglas Moda, Lucas Vaz, King)
O baixo de Jerry Barnes (do Chic) imprime um tom elegante ao batuque proposto por IZA“Ele mandou três linhas diferentes, e a gente construiu algo em cima disso.”

7 – “BOOMBASSTIC” – FT. KING
(IZA, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, PEP)
Promessa da música nacional, a cantora King Saints também marca presença como compositora em boa parte do álbum. Em “Boombasstic”, a artista negra da baixada fluminense ganha não só o espaço, como o aval de IZA para expandir sua personalidade vibrante. “A faixa é sobre curtição, dançar… A vibe é bem Viaduto de Madureira. Remete ao hip-hop dos anos 2000. Acho que muita gente vai gostar.”

8 – “TERÊ”
(IZA, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Papato)
Papatinho tem a brilhante sacada de samplear “Tereza Guerreira”, de Antonio Carlos & Jocafi, para potencializar a história que IZA queria contar usando como referência a música “Vacilão”, de Zeca Pagodinho. “Sempre quis musicar uma historinha, e escolhi minha tia Terê como personagem, porque ela é muito peculiar.”

9 – “FIU FIU” – FT. L7
(IZA, Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Papato, L7)
A voz rouca e sensual de IZA é o fio condutor para um jogo de flerte que vai muito além, com o reforço do habitual traquejo sedutor de L7nnon: “É uma faixa quase sexual. Muito gostosa de ouvir”.

10 – “SINTONIZA” – FT. DJONGA
(IZA, Hodari, King, Luccas Carlos, Nave, Djonga, Cyclope, Red)
IZA abusa do poder para propor uma parceria musical que sugere segundas intenções. A consequência é um R&B repleto de insinuações calorosas. “É um som super-radiofônico, um R&B pra lá de romântico.”

11 – “BOMZÃO” – FT. TIWA
(IZA, Jenni Mosello, Douglas Moda, Lary, King, Twia Savage, Mystro, Jweezy, Twins)
Admiradora de Tiwa Savage de longa data, IZA nunca deixou de sonhar com a possibilidade de uma colaboração com a rainha do afrobeat. Porém, aos olhos da carioca, a parceria pareceu ficar ainda mais distante depois que a nigeriana entrou no projeto Black Is King (2020), de Beyoncé. “Ainda não acredito que rolou a parceria com a Tiwa. Foi tudo de forma orgânica e rápida. A música é sobre estar apaixonada e muito gostosa para dançar.”

12 – “EXCLUSIVA”
(IZA, Vitão, Carolzinha, Jenni Mosello, Douglas Moda, King)
A faixa é sobre o reencontro com o amor: “A gente fala: ‘Nunca mais vou querer me envolver sério com alguém’, mas as coisas acontecem. E eu fiquei encantada com essa situação, por isso quis escrever a respeito.”

13 – “UMA VIDA É POUCO PRA TE AMAR”
(Pedro Baby, João Moreira, Pretinho da Serrinha, Rachel Luz)
A música escrita por Pedro Baby e Pretinho da Serrinha transporta IZA para um sarau com Os Tribalistas que, com programação e samples de Nave, faz a canção soar como uma valsa. “É uma faixa que mostra mais textura na minha voz. Além disso, tem o arranjo de cordas do Arthur Verocai. Vou falar disso para sempre porque acho o Verocai muito sofisticado.”

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