Em meu terceiro texto para teatro, uma peça que entrará em cartaz ainda neste semestre, chamada “Ânima” (que significa “alma”), tive a oportunidade de homenagear seis grandes mulheres da história. São elas: a filósofa e matemática Hipátia de Alexandria, uma culta investigadora que foi vítima do fanatismo de seu tempo; Marguerite Porete, a grande pensadora e mística do séc. XII, que nos legou a bela obra “Espelho das almas simples e aniquiladas que permanecem somente na vontade e no desejo do amor”, obra esta que lhe rendeu uma condenação à morte na fogueira; a inesquecível guerreira e idealista Joana D’Arc, que também teve seu fim condenada à fogueira; a especial escritora Helena Blavatsky, duramente condenada por seus contemporâneos por sua ousadia e originalidade; a brilhante Harriet Tubman, escrava foragida que libertou da escravidão a muitos outros companheiros, tão sofridos quanto ela, em um idealismo também não desprovido de mística e, por fim, a corajosa e autêntica filósofa francesa Simone Weil, dotada de uma capacidade ímpar de ver simbolicamente a vida e aprofundar-se em seus segredos mais íntimos.
Acredito que temos, com estas mulheres, um painel bem interessante do amplo leque de possibilidades femininas: buscadora do conhecimento, com a perseverança necessária para caminhar até ele; dotada de uma inclinação à espiritualidade, em muitos casos com uma sensibilidade e intuição notável; forte e guerreira, quando tem diante de si um ideal digno e caro ao seu coração; original e criativa, pois possui uma particular intimidade com a arte de dar vida, e a vida é, em si, o maior exemplo de criatividade; corajosa e resistente à adversidade, especialmente quando o amor e a compaixão estão em jogo e, por fim, mas não menos importante, com uma capacidade de aprofundar-se na compreensão da vida muito além das aparências.
Esta é uma bela “caixa de ferramentas” que, sem a pretensão de esgotar todo o potencial feminino, traz à lembrança um arsenal poderoso, capaz de preencher muitos dos “vazios” que tanto fazem sofrer à humanidade. Dizia o mago Merlin, no famoso ciclo arturiano, que o maior mal da humanidade é o esquecimento. Acredito que esta data, do Dia Internacional da Mulher, apresenta sobretudo uma oportunidade de resgatar do esquecimento nosso teto de possibilidades, ou seja, o quanto podemos crescer, pois devemos isso ao mundo e a nós mesmas.