Não ! Absolutamente NÃO !
A classe média brasileira existe, em formas embrionárias, desde o início do século XX, mas ganhou força e tamanho principalmente a partir dos anos 1950, com a industrialização e a urbanização. Seu auge de expansão aconteceu entre 2003 e 2013, mas desde então enfrenta um período de reconfiguração e fragilização.
Entre os anos de 2017 e 2022, a classe média brasileira passou por um período marcado por instabilidade, retrocessos e redefinições. Esse grupo social, historicamente associado à estabilidade econômica, acesso a bens de consumo, educação e serviços de qualidade, enfrentou uma série de desafios que alteraram sua estrutura e percepção no país.
A recuperação tem sido lenta, mas perceptível do ponto de vista do CONSUMO, que aumentou e vem garantindo ao Brasil, recordes nos índices econômicos nacionais.
Contexto Econômico e Político
O ano de 2017 marca um momento de recuperação econômica lenta após a recessão de 2015–2016. A economia brasileira ensaiava uma retomada, com inflação sob controle e taxa de juros em queda. No entanto, o crescimento foi insuficiente para gerar empregos de qualidade e recuperar a renda das famílias, especialmente da classe média. A incerteza política agravada pelo processo de impeachment de 2016 e pela instabilidade institucional pós-Lava Jato minou a confiança de consumidores e investidores.
Impacto da Pandemia (2020–2021)
O avanço da pandemia de Covid-19 em 2020 acentuou desigualdades e afetou severamente a classe média. Muitos trabalhadores formais e autônomos perderam renda ou empregos, e os pequenos empreendedores enfrentaram uma crise de crédito e demanda. Setores como turismo, educação privada, comércio e serviços foram diretamente impactados.
A classe média, que muitas vezes não se qualificava para auxílios emergenciais ou benefícios sociais, mas também não possuía reservas financeiras robustas, acabou ficando em uma “zona de vulnerabilidade econômica”. Muitos brasileiros que antes integravam esse grupo foram empurrados para a informalidade ou abaixo da linha da pobreza.
Reconfiguração do Consumo e Endividamento
Durante o período analisado, a classe média modificou seus hábitos de consumo. Houve cortes em despesas com lazer, viagens, educação privada e saúde complementar. A compra de bens duráveis foi adiada e o uso do crédito se intensificou, aumentando o nível de endividamento das famílias.
De acordo com dados do IBGE e do Banco Central, o comprometimento da renda familiar com dívidas atingiu níveis recordes em 2021 e 2022. Muitos passaram a depender de cartões de crédito e empréstimos consignados para manter padrões mínimos de consumo.
Educação, Trabalho e Mobilidade Social
O acesso à educação, historicamente um motor de ascensão social para a classe média, também sofreu impactos. O fechamento prolongado das escolas e universidades durante a pandemia comprometeu a formação de milhões de estudantes, com consequências mais graves nas instituições privadas de menor custo, geralmente frequentadas por jovens da classe média.
No mercado de trabalho, houve uma reconfiguração. O crescimento do home office beneficiou alguns profissionais, mas acentuou a exclusão de trabalhadores menos qualificados. A chamada “uberização” do trabalho informal atingiu muitas pessoas que antes tinham estabilidade.
Enfraquecimento da Classe Média Tradicional
Estudos de instituições como o Ipea e a FGV mostram que, entre 2017 e 2022, houve uma retração da chamada “classe média tradicional” (aquela que vive com renda mensal entre 2 e 10 salários mínimos). Milhões de brasileiros deixaram essa faixa para integrar as camadas mais pobres da população, refletindo um fenômeno de descida social (“descida da pirâmide”).
Conclusão: Um Grupo em Transição
A classe média brasileira entre 2017 e 2022 viveu um processo de fragilização e transição, enfrentando os efeitos combinados da crise econômica, da pandemia e das mudanças estruturais no mercado de trabalho. Embora ainda represente uma parcela significativa da população, esse grupo passou a conviver com maior insegurança financeira, perda de direitos e incertezas quanto ao futuro.
Mais do que nunca, o fortalecimento da classe média dependerá de políticas públicas robustas nas áreas de educação, emprego, proteção social e crédito responsável, além da retomada do crescimento econômico com inclusão social.
A classe média no Brasil não tem uma data exata de origem, mas seu surgimento pode ser compreendido como um processo histórico gradual ligado às transformações sociais, econômicas e políticas do país. Abaixo, está uma visão geral de quando e como a classe média brasileira começou a se formar:
📜 Início do Século XX – Os Primeiros Traços
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Décadas de 1910 a 1930: Com o processo de urbanização e industrialização inicial, especialmente em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, surge uma camada social intermediária formada por funcionários públicos, profissionais liberais, pequenos comerciantes e técnicos.
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Essa população começa a se diferenciar da elite agrária e das massas operárias, com acesso crescente à educação, moradia urbana e consumo de bens culturais.
🏭 Era Vargas e o Crescimento Urbano (1930–1950)
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O governo Vargas (1930–1945) promoveu a industrialização e fortaleceu o Estado como empregador, o que favoreceu a formação de uma classe média urbana, composta por:
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Servidores públicos;
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Técnicos industriais;
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Professores e bancários.
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A consolidação das leis trabalhistas (CLT) ajudou a criar direitos e estabilidade para esse grupo.
📈 Milagre Econômico e Expansão da Classe Média (1960–1980)
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Durante o regime militar (1964–1985), especialmente nos anos do chamado “milagre econômico” (1968–1973), houve grande crescimento econômico e urbanização.
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A classe média cresceu impulsionada por:
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Empregos formais;
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Expansão do funcionalismo público;
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Acesso ao crédito e ao consumo de eletrodomésticos, carros e imóveis.
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📉 Crises Econômicas e Estagnação (1980–1990)
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A década de 1980 (conhecida como “década perdida”) trouxe inflação alta, desemprego e instabilidade, o que impactou fortemente a classe média, que passou a conviver com perda de poder aquisitivo.
📊 Reconfiguração e Expansão (2000–2013)
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Entre 2003 e 2013, a classe média cresceu significativamente graças a:
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Programas sociais (como o Bolsa Família);
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Aumento do salário mínimo;
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Acesso facilitado ao crédito;
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Inclusão educacional.
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A chamada “nova classe média” (classe C) surgiu nesse período, com milhões de pessoas saindo da pobreza e entrando em um novo patamar de consumo e expectativas sociais.
⚠️ Crises e Desafios (2014–presente)
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A partir de 2014, com a crise econômica, escândalos políticos e a pandemia da Covid-19, houve retração da classe média, aumento da informalidade e queda de renda.
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Muitas famílias que haviam ascendido à classe média voltaram à condição de vulnerabilidade.