‘No parlamento, não podemos dizer que há genocídio em Gaza’, diz deputado comunista de Israel

0
1


ouça este conteúdo

00:00 / 00:00

1x

Por Michel Gherman

Deputado comunista em Israel, Ofer Cassif tem posições que são consideradas provocativas e estão fora do consenso israelense. Nesse contexto, muitas vezes ele sofre ameaças e até agressões. Em abril de 2021, Cassif foi agredido por agentes da polícia num protesto contra os despejos de palestinos no bairro Sheikh Jarrah,  em Jerusalém Oriental.

O fato gerou forte debate na opinião pública israelense. Por causa deste acontecimento, diversos políticos se posicionaram. Descreveram o a agressão a Cassif como “um golpe assassino ao parlamento e à imunidade parlamentar”. Ele também foi investigado por supostamente ter agredido primeiro um policial.

Em 7 de janeiro de 2024, Cassif anunciou a sua intenção de se juntar à África do Sul como terceira parte nos processos judiciais movidos pelo Estado sul-africano contra Israel instaurados com fundamento na Convenção do Genocídio de 1951 por causa dos atques do governo israelense a Gaza.

“Meu dever constitucional é para com a sociedade israelense e todos os seus habitantes, não para com um governo cujos membros e sua coalizão defendem a limpeza étnica e até mesmo o genocídio. São eles que prejudicam o país e o povo, são eles que levaram a África do Sul a recorrer a Haia, não eu e meus companheiros”, afirmou.

Em resposta a estes comentários, 85 membros do parlamento de Israel (dentre 120 membros totais) assinaram uma petição para expulsar Cassif do Knesset, acusando-o de traição . A medida foi votada em 19 de fevereiro de 2024, e Cassif conseguiu articular votos que evitaram sua expulsão do Parlamento.

Em uma entrevista dada ao jornal Haaretz em fevereiro de 2019, Cassif proclamou-se “um anti-sionista explícito”. Nessa entrevista, Cassif declarou: “Oponho-me à ideologia e prática do sionismo… é uma ideologia e prática racista que defende a supremacia judaica.”

Em março de 2019, ele foi proibido pelo Comitê Eleitoral Central de Israel de disputar as primeiras eleições previstas para o mês seguinte por causa de declarações em que ele teria chamado a ministra de extrema-direita, Ayelet Shaked, de “escória neonazista”. Esta decisão do órgão eleitoral israelense acabou sendo posteriormente anulada pela Suprema Corte de Israel.

O deputado comunista nasceu na cidade israelense de Rishon LeZion em 25 de dezembro de 1964. Frequentou uma das escolas de elite da cidade, o Ginásio Reali, onde estudou junto com futuras referências da politica e da academia em Israel.

Os pais de Cassif eram ativistas do partido trabalhista de Israel, Mapai, e o próprio deputado se juntou à juventude da legenda aos 16 anos de idade. Dois anos depois, ele se alistou nas Forças de Defesa de Israel, tendo atuado no programa Nahal e na brigada de pára-quedistas Nahal.

Offer Cassif se aproximou do Partido Comunista de Israel ao trabalhar como assessor parlamentar de Meir Vilner, que era representante do Hadash (Frente da qual o Partido Comunista faz parte) no Knesset (parlamento unicameral de Israel). Neste momento, ele começou a atuar na esfera política influenciado pelas perspectivas socialistas de orientação marxista. Aos poucos, se aproximou da atividade eleitoral do partido. Durante as eleições para o Knesset de abril de 2019, ele ficou em quinto lugar na lista conjunta do Partido Comunista com outro Partido Social democrata árabe,  Hadash-Ta’al.

Após isso, Offer Cassif acabou ingressando no parlamento israelense para preencher a reserva de vagas destinadas à população judaica na Frente Hadash com a aposentadoria do deputado Dov Khenin.

Cassif entrou em definitivo no Knesset quando a aliança conquistou seis cadeiras, e na sequência foi reeleito em setembro de 2019, de 2020 e de 2021.

Estudou Filosofia e Ciência Política na Universidade Hebraica de Jerusalém e na London School of Economics, onde fez uma tese sobre nacionalismo e marxismo. Durante esse entrevista concedida ao ICL Notícias e à revista Adorno, ele estava suspenso do parlamento por ter apoiado o processo por genocídio movido pela África do Sul e por ter denunciado crimes de guerra de Israel em Gaza.

ICL Notícias/Adorno – Você é um deputado pelo Hadash (Frente democrática de paz e igualdade), a frente do Partido Comunista junto com partidos árabes. Agora, um partido árabe. Você está ocupando a função que foi de Meir Vilner, de quem você foi assessor parlamentar. Depois de Tamar Gozansky E de Dov Khenin. E hoje você é deputado, mas não está exatamente no Parlamento. O que aconteceu com você? Qual sua situação formal no Knesset hoje?

Offer Kassif – Primeiramente, não é exatamente como você disse. Se eu puder dizer por favor que eu não tenho a função que tinham esses nomes. O Partido Comunista existe desde 1919 sob nomes diferentes, mas sempre foi um valor muito importante para nós, como parte da Internacional Comunista, que esteve ou funcionou como um movimento de esquerda ou socialista internacionalista. E por isso, palestinos, judeus ou ambos juntos ao longo dos anos, como um valor, não como um cargo meu, ou de outro. Isso faz parte do valor da estrutura do partido. E, como você disse, também da Frente, cuja base é essa, uma Frente democrática pela paz e a igualdade, e essa é a base: o Partido Comunista.

E sempre foi difícil.

Nós temos deputados desde 1948, desde o primeiro dia em que houve eleições em todo o território de Israel, com Israel como um Estado que existe desde 1948.Claro, sempre tivemos deputados e sempre estivemos na oposição.

Somos os únicos que nunca estivemos em um governo ou em uma coalizão.

Há muitos partidos no Knesset ao longo dos anos, e houve muitas lutas.

Nós somos os únicos que nunca estivemos na coalizão ou no governo e a razão é que nós acreditamos que não podemos estar em uma coalizão quando há ocupação, discriminação, racismo, etc. E também porque eles não nos querem lá.

Os partidos no governo, seja o trabalhista, Likud ou qualquer outro, não querem se sentar juntos em um governo ou coalizão com comunistas e antissionistas como nós. E claro, o racismo também. Eles não querem se sentar com palestinos, mesmo sendo 21% da população dentro de Israel. Esses 21% não vivem nos territórios ocupados, mas também são palestinos. E normalmente não os querem. Agora, a situação é muito pior. Muito pior porque nunca houve tal nível de demonização, de desumanização como se fôssemos demônios.

E nós, especialmente sob este governo, desde o primeiro dia, mas especialmente desde o massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, desde esse massacre e o genocídio em Gaza, a limpeza étnica na Cisjordânia e o processo de fascismo dentro de Israel. O nível de humanização e demonização é mais alto, muito mais alto.

E quase não conseguimos falar dentro do Knesset.

Fora, depende.

Talvez depois eu fale algo sobre isso também, se quiser. Mas dentro do Parlamento é muito mais difícil do que nunca foi.

Por exemplo, você disse antes que eu estou suspenso. Por seis meses. Isso significa que eu só posso votar no plenário e nas comissões. Não posso fazer mais nada. Não posso falar, não posso participar nem mesmo nas comissões. Não posso participar das comissões. Só posso entrar para votar. E no plenário, também não posso. E por quê? Porque eu disse que há genocídio em Gaza e porque assinei uma petição para apoiar o movimento da África do Sul em Haia.Por isso.

E isso significa que também os deputados da esquerda, e infelizmente nós somos os únicos verdadeiros esquerdistas no parlamento, não podemos falar livremente. Porque esta é a segunda vez que estou suspenso. E outra camarada, uma deputada do meu partido, também foi suspensa há um ano

Havia uma tentativa de impeachment para me expulsar do Parlamento. Apenas porque assinei essa petição da África do Sul. Dentro do Parlamento, não podemos dizer livremente que há um genocídio em Gaza. Ou limpeza étnica, não podemos.

E se algum deputado no plenário e recebe a palavra, na sua vez, não gritando no plenário, mas se falar na sua vez, se disser algo sobre o genocídio, em um segundo ele está fora.

É ainda mais difícil…

E claro que fora do Knesset, do parlamento. Para os cidadãos em geral, a situação é muito pior. Por isso, não são apenas os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade que o governo de Israel comete em Gaza e na Cisjordânia. Mas também o fascismo dentro desse sistema.

Os crimes em Gaza e na Cisjordânia são terríveis. É algo horrível. Os pogroms, a violência na Cisjordânia, mas me parece que se fala pouco, aqui no Brasil, sobre o avanço do fascismo na sociedade israelense. Acompanhei os discursos sobre você como um exemplo. E eu queria ouvir sua opinião. Essas suas falas que te levaram a suspensão do Knesset são tratadas como falas antissemitas. Há uma questão aqui que é a utilização, a instrumentalização do antissemitismo, um fenômeno importante, mas que a direita está utilizando para silenciar a esquerda. Nos Estados Unidos, isso é muito forte. No Brasil também, mas mais também em Israel. Pessoas como você, e não só você, mas também pessoas da esquerda sionista, são consideradas antissemitas. O que você acha dessa situação?

Isso é uma manipulação muito feia. Por um lado, há o governo de Israel Não só o governo, como a maioria da oposição no parlamento. Sempre dizem que qualquer crítica à política do governo de Israel ou resistência ao governo de Israel é automaticamente apresentada como se fosse antissemita, o que é mentira. Mas, ao mesmo tempo, outra face da moeda, ele repete o argumento dos próprios antissemitas! Os negacionistas do Holocausto que chegam a dizer que os judeus são culpados pelo próprio genocídio.

Existe uma espécie de parceria secreta. Não é para mim uma surpresa que, por exemplo, em poucas semanas Israel sediará uma conferência com os partidos mais fanáticos e fascistas da Europa. Em Israel! As vítimas do Holocausto se revirariam em seus túmulos. É como se os mortos não tivessem paz. Sim, mas veja…Nós temos… nós somos…Temos uma luta contra o antissemitismo, assim como contra todas as formas de racismo. O racismo é uma doença. O racismo é um crime. E o antissemitismo, uma forma de racismo.

É um crime também.

Se estamos lutando contra o governo de Israel pelos seus crimes, se estamos lutando pelo bem, se estamos lutando pela democracia, pela igualdade, pela justiça, então também devemos lutar contra o antissemitismo.

Ou seja, a ocupação, o genocídio, e até mesmo o sionismo, são crimes também. Minha luta contra o sionismo, contra a ocupação e contra o genocídio é parte da minha luta geral contra tudo que é maligno, incluindo o antissemitismo. Isso não pode ser e com certeza, isso não é uma ideia da esquerda.

Se alguém acredita que deve lutar contra a ocupação, o genocídio em Gaza, a limpeza étnica na Cisjordânia, o fascismo dentro de Israel etc. e ao mesmo tempo apoia o antissemitismo, isso não faz sentido.

Ataques israelenses interrompem trégua em Gaza e deixam mais de 400 mortos Israel

Benjamin Netanyahu

Como é possível que partidos e grupos neonazistas, como os da Hungria, os seguidores de Trump nos EUA, que é um grande antissemita, falem tanto sobre isso? E a extrema direita na Alemanha, a extrema direita na Áustria, e aqui no Brasil, com Bolsonaro, que é claramente antissemita, também fala muito sobre isso como pode ser que, hoje, o governo de Israel esteja iniciando alianças com grupos de extrema direita? Como você me explica a situação atual em que o aliado mais forte dos partidos de extrema direita no mundo é o governo de Israel?

Existem duas razões. A pergunta é: Por que tantos fascistas e antissemitas apoiam Israel? O governo de Israel, não o país, o governo que é contra Israel como um país, como um povo. Antes de tudo, infelizmente, os muçulmanos e árabes são as vítimas mais diretas dos movimentos fascistas, racistas e nazistas ao redor do mundo, especialmente na Europa, mas também na Índia e no Brasil, como você sabe, na Argentina e em muitos outros lugares ao redor do mundo, as vítimas do racismo e do fascismo.

E no contexto do Oriente Médio em geral, e na relação entre Israel e Palestina em particular, quando o Nethanyahu defende que o conflito é essencialmente religioso, ou seja é entre os judeus e os muçulmanos, o que claramente é falso. Mas ao dizer isso o governo de Israel faz coro com fascistas e racistas da Europa. E nazistas também, nazistas também!

A outra coisa, e é algo que precisamos entender (lamentavelmente, eu não vi nada sobre isso na imprensa ou em um livro novo) é algo que Yehuda Bauer disse.Ele faleceu recentemente, há duas ou três semanas, tinha 95 anos. Era um professor de história, um historiador, mas era um historiador do Holocausto e ele disse há um fenômeno que se chama “antissemitismo reverso”.

Ou seja, às vezes sob as circunstâncias após a Segunda Guerra Mundial, e especialmente desde os anos 70, há pessoas que acreditam no antissemitismo clássico, que os judeus são mais ricos, que têm mais força ou poder, que têm mais influência, que controlam o mundo. Mas se no passado muitos dos antissemitas diziam que por isso era necessário matar ou deportar, expulsar os judeus de um país, agora eles acreditam que têm que trabalhar com os judeus.

É como em hebraico há uma frase e pode ser traduzida e em inglês também: Se não pode ser contra, junte-se a eles.

E isso você pode ver, por exemplo, com Orban, na Hungria, com Modi na Índia, com Bolsonaro no Brasil e com Milei na Argentina. E com muitos na direita de toda a Europa, que acreditam que porque os judeus têm mais força, controlam o mundo — os judeus e o país dos judeus, que é Israel –, então eles são o caminho mais seguro isso é muito importante.

É um “filossemitismo” antissemita. Precisamos entender essa frase de Yehuda Bauer. Em hebraico, se chama “antissemitismo reverso” ou “antissemitismo positivo”. É como o antissemitismo, antissemitismo ao contrário ou antissemitismo positivo. Isso não quer dizer que o antissemitismo é positivo como valor. Claro que não. É dizer que, para o antissemita, deve-se trabalhar com os judeus. Não porque temos simpatia por eles. Ao contrário, são antissemitas, odeiam os judeus, mas acreditam que não podem vencer. Isso não é menos perigoso e terrível.

Falamos por telefone, Ofer, sobre o golpe de Estado, o golpe contra as estruturas democráticas que ainda existiam em Israel pelo Instituto Kohelet que é um modelo para a direita. Ou seja, há um grupo de fato, um grupo acadêmico, um juiz penal ultraliberal neofascista que está impondo uma perspectiva em Israel e que notamos que há outros lugares onde essa perspectiva neo-sionista cresce. Você acredita que o golpe contra a democracia em Israel seja um modelo para golpes contra a democracia em outros lugares, ou não?

Por um lado o governo de Israel, especialmente Netanyahu, estudou os exemplos da Hungria, ou da Polônia e da Índia, das Filipinas e outros lugares. Mas você sabe que em “Anna Karenina” há uma frase que cada família é miserável à sua maneira, e é a mesma coisa aqui. Cada sociedade é fascista de forma particular. E claro que há conexões e um Estado estuda de outro, mas sempre há coisas locais que são diferentes e particulares.

O governo de Israel e Netanyahu estudaram o de Orbán, por exemplo. Acho que é o exemplo mais importante para Netanyahu. E outros países estudaram Netanyahu e o governo de Israel. Lamentavelmente há uma onda nos últimos anos de fascismo em todo o mundo e há muitos exemplos também na Europa. E também o que que acontece nos Estados Unidos. É claro que é mais perigoso, por causa da força e do poder que tem, mas certamente há como um pacto dentro dos fascistas, incluindo Netanyahu.

Ofer Cassif (AFP)

Você acha que há alguma possibilidade de Netanyahu deixar o poder?  Porque a partir do absurdo que aconteceu em 7 de outubro, no massacre do Hamas, Netanyahu já estava no governo. O  que mais precisa acontecer para que saia do poder?  Há alguma possibilidade de otimismo na sociedade israelense, na unidade árabe-israelense? Há alguma possibilidade que você está vendo agora?

Veja, Antonio Gramsci disse que nós, como socialistas, temos que ter pessimismo do intelecto e otimismo da vontade ou do coração. E para mim, é um momento da minha vida em que estou muito pessimista quando penso sobre a situação agora e sobre a situação no futuro próximo. Mas estou otimista, pelo futuro mais distante. O que não é apenas uma frase

Estou otimista porque não há possibilidade de que a situação como está agora possa permanecer assim. Não, não pode ser. Não é porque seja como em um filme de Hollywood. As pessoas não podem viver assim. Elas podem viver assim por um ano. Talvez dez anos? Mas para sempre, não.

Há um exemplo claro. Todos os sábados, há muitas manifestações contra o governo e contra a guerra em todo o País. Especialmente em Tel-Aviv, as manifestações vêm crescendo por muitos meses. Mais e mais gente está muito, muito brava. Furiosos contra o governo e contra Netanyahu porque o governo de Israel não tem nenhum interesse na vida e bem-estar dos reféns, não tem nenhum interesse pela segurança de Israel e dos israelenses, e claro pelos palestinos.

Só querem este golpe de Estado fascista e em seguida, um plano de Smotrich, chamado o plano de subjugação. Anexar todos os territórios palestinos ocupados, matar e deportar palestinos que não aceitarem isso. Eu falava isso já um dia depois do massacre, dia 8 de outubro de 2023. E por isso fui suspenso.

E agora a maioria dos cidadãos de Israel entendem que essa é a situação. Nós, como meus companheiros e eu, estávamos sozinhos, em outubro de 2023 e também agora, estamos sozinhos com nossas ideias.

Hoje,  as pesquisas dizem que quase 80% dos cidadãos de Israel pensam que o governo no geral e Netanyahu especialmente não tem nenhum interesse pela vida dos reféns e querem que continue esse genocídio em Gaza. Isso é motivo para ter otimismo, porque a sociedade muda. É muito polarizada. É muito polarizada porque há muitos fascistas. Como Netanyahu e piores que ele.

Mas, por outro lado, isso faz parte da definição de polarização. Hoje há milhões, não milhares, milhões de cidadãos contra o governo e contra o genocídio. É verdade que normalmente não por afeto aos palestinos, mas sim pelos reféns. Mas basicamente contra o genocídio e contra a continuidade guerra.

A sociedade muda muito devagar, muito superficial, mas muda. E eu acho que continuará mudando.

É impressionante porque é um governo que está sendo percebido por aceitar a morte dos reféns por um lado e por defender o genocídio por outro lado, é um governo homicida e suicida.

Absolutamente. Você sabe que há um pai de um refém que fala muito com a imprensa internacional. Ele também tinha reuniões com deputados do Hadassh e com os deputados dos Estados Unidos. Seu filho morreu em Gaza e ele disse com essas palavras que Netanyahu tem culpa não só pelo genocídio em Gaza. Mas também pelo genocídio em Israel. O pai de um refém.

O que você pode dizer para as pessoas de esquerda que hoje olham para a situação difícil em Israel e não sabem muito bem como se posicionar? Você tem algo a dizer para nossos colegas companheiros da esquerda brasileira?

Só para dizer novamente o que disse antes: primeiro de tudo, fazer uma distinção, uma diferenciação entre antissionismo e antissemitismo, os dois não são apenas diferentes, são contraditórios. Por exemplo, eu sou antissionista porque sou antirracista. E porque sou antirracismo, sou anti-antissemitismo. Todos deveriam adotar isso para mim porque se alguém é antissemita e acredita que todos os judeus são iguais, todos querem dinheiro, todos têm poder ou mal, e controlam o mundo, primeiro de tudo: isso é mentira, é bobagem. É uma teoria da conspiração muito estúpida, mas mais importante, moralmente, é absurdo.

É errado. É mau. E se alguém realmente estiver profundamente interessado na Injustiça, a justiça é universal. Não há uma justiça para um e outra justiça para os outros. A justiça é universal. E se alguém luta por justiça, os judeus têm direito de viver em justiça também.

Antissionismo é uma objeção a uma ideologia e prática. É totalmente legítimo. Antissemitismo, como todos os tipos de racismo, é contra pessoas, ou as raízes ou origens. Não podemos, como gente de esquerda, aceitar isso nunca, jamais. E para mim, é muito importante para todos entendam isso e nunca colaborarem e nunca colaborarem com racistas. E isso também quer dizer antissemitas. Nunca.

Para os judeus do Brasil ou da América do Sul, você tem algumas coisas para falar , já que também sofrem com as decisões do governo de Israel?

É novamente o outro lado da moeda, que não é culpa dos judeus por algo que o governo de Israel faz. Não é culpa de todos os judeus em Israel e claro que não é culpa dos judeus no mundo. Não há conexão. É uma política de um governo e temos que lutar contra a política deles, não contra a identidade deles.

E claro que os judeus que vivem no mundo não têm culpa, como os muçulmanos que vivem no Brasil, ou, não sei, na Holanda. Não têm culpa pelos crimes de, não sei, do ISIS.

É ridículo.

Veja a entrevista em vídeo:



Fonte: ICL Notícias

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui