Negra e lésbica, vereadora é alvo de ‘ataques coordenados’ na Câmara de Curitiba

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Por Gabriel Gomes

Dominada por parlamentares de direita e extrema direita, a Câmara de Vereadores de Curitiba foi palco, nesta terça-feira (22), de mais um episódio de ataque ao mandato de uma parlamentar de esquerda. Trata-se de Giorgia Prates (PT), que tem sido alvo de “ataques coordenados”, segundo relata. Giorgia é a única vereadora negra e lésbica da Câmara curitibana.

Enquanto se discutia o projeto de lei que cria o Dia Municipal dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores, os CACs, o vereador Eder Borges (PL), um dos autores, utilizou a Ku Klux Klan, grupo supremacista branco, como argumento a favor da lei, que foi aprovada. O parlamentar afirmou que a KKK foi uma resposta dos brancos ao “empoderamento” dos negros, “que estavam se armando”.

A fala foi rebatida pela vereadora Giorgia Prates. “Usar uma dor histórica para justificar uma cultura armamentista é desonesto e fake news”, disse a parlamentar. Giorgia, porém, foi alvo de ataques de Eder Borges enquanto fazia o pronunciamento na tribuna da Câmara de Curitiba. A parlamentar teve que ouvir diversos insultos como “louca”, “mau caráter” e “mentirosa”.

“Ouvir aquilo me causou bastante espanto, esse vereador já vem fazendo isso recorrentemente, tendo posturas racistas em vários momentos, mas pelo fato de que não houve nenhuma manifestação da Casa, os vereadores até ficaram meio atônitos. Mas ninguém se pronunciou”, relata a parlamentar.

Esse ataque não foi um fato isolado no mandato da vereadora Giorgia Prates (PT), que, desde a sua chegada na Câmara, em 2021, tem sofrido ataques de parlamentares da extrema direita e da direita, o que se agravou na atual legislatura com o crescimento do número de vereadores extremistas.

Um dos ataques partiu do vereador Olimpio Araujo Junior (PL), que também chamou a parlamentar de “mentirosa” em uma sessão da Comissão de Economia. Giorgia é alvo constante de adjetivos como “violenta”.

Em outra ocasião, o mesmo Eder Borges, após homenagens por iniciativa da vereadora Giorgia Prates, acusou o movimento hip hop de estar ligado à criminalidade, utilizando termos pejorativos como “malandro”, “criminoso”.

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Eder Borges (PL) e Olimpio Araujo Junior (PL) (Foto:CMC)

A parlamentar relata, ainda, que todos os seus projetos de lei apresentados tem sido barrados em uma articulação dos extremistas com a base do governo Eduardo Pimentel (PSD). Recentemente, uma homenagem ao ator Alexandre Nero, nascido em Curitiba, proposta por Giorgia foi rejeitada na Câmara por posturas políticas do ator.

“Não está sendo fácil, eu percebo que há um ataque coordenado à minha pessoa na Câmara, pelo que eu represento, por ser uma mulher negra, periférica, LGBT. Eu sinto que é essa população que eles querem atacar. Eu tenho sofrido ataques reiterados”, diz Giorgia Prates.

Vereadora enfrenta dificuldades em Conselho de Ética dominado pela direita

Um dos meios possíveis para recorrer contra os ataques, o Conselho de Ética da Câmara de Vereadores de Curitiba também é dominado por parlamentares de extrema direita e da base do governo municipal. Giorgia Prates já fez diversas representações contra os ataques que vem sofrendo e todas, segundo a parlamentar, foram arquivadas. Após o episódio de terça-feira, a vereadora vai entrar com uma representação contra Eder Borges (PL).

“Todo mundo percebe que há uma seriedade no assunto. Vou entrar com a representação contra esse violador, estou buscando todos os direitos possíveis porque ele ofendeu toda a população negra. A gente agora tem que buscar os direitos também fora da Casa porque, dentro da Casa, as coisas estão bastante complicadas para a gente buscar o que é certo”, relata Giorgia.

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Giorgia Prates (PT). (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Na quarta-feira (23), após a repercussão da fala sobre a Ku Klux Klan e os ataques à Giorgia, Eder Borges foi à tribuna da Câmara e afirmou que a parlamentar “feriu a honra” dele ao pedir respeito. Eder disse que vai entrar com uma representação no Conselho de Ética contra Giorgia Prates.

“Pode ser que eu me prejudique, pela forma como eles ocuparam esse espaço”, diz a parlamentar. Giorgia Prates relata que também tem sido alvo de ameaças constantes de representação no Conselho de Ética, além da feita agora por Eder.

Vereadora é a primeira LGBT na Mesa Diretora

Mesmo diante dos ataques, Giorgia Prates, no início da atual legislatura, foi eleita para ocupar a quarta secretaria da Câmara de Curitiba, sendo a primeira mulher negra e LGBT a ocupar um posto na Mesa Diretora da Casa. Nas eleições para o cargo, sete vereadores da extrema direita, incluindo Eder Borges e Olimpio Araújo Junior, se negam a votar em Giórgia, apesar de um acordo.

Giorgia Prates (PT). (Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

O vereador Olímpio, ao final da votação, chegou a chamar Giórgia Prates de “racista”. Ele disse, ao se abster, que não votou na petista em homenagem às suas filhas que, segundo ele, também são negras. “Eram votos que eu não queria mesmo”, ironizou Giorgia.

“Se estou incomodando, é porque de fato tenho cumprido um papel que me propus e que quero cumprir, que é de ajudar realmente a população, trazer a visibilidade para a situação da a população mesmo, então tenho feito meu trabalho”, rebate Giórgia Prates.





Fonte: ICL Notícias

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