O governo que presidiu o maior aumento histórico do desmatamento na Amazônia e que assistiu inerte a desastres ambientais como os incêndios no Pantanal e o vazamento de óleo no Nordeste promete agora ser um “exemplo” de proteção ambiental para o mundo. Para a sorte de Jair Bolsonaro & Cia., promessas não têm custo nem limite: o ônus está em quem se dispõe a acreditar nelas. Mas é aí que começa também o azar do governo – achar alguém disposto a dar esse voto de confiança é bastante difícil.
“O Brasil chega a Glasgow com uma distinção inglória: é o país do G20 que mais piorou sua meta de corte de emissões de gases que causam o aquecimento global”, lembrou Bernardo Esteves na piauí, onde destaca dados da análise divulgada nesta semana pelo PNUMA. Especialistas ouvidos pela reportagem foram unânimes: o tal plano de crescimento verde lançado pelo governo na 2ª feira passada é mais pirotécnico do que real, já que carece de metas, ações e cronogramas específicos.
Na Open Democracy, Juanita Rico ressaltou um aspecto problemático das promessas verdes de Bolsonaro: para que o desmatamento ilegal seja zerado em algum momento na segunda metade desta década, como o governo tem sinalizado, o ritmo de destruição precisa cair de maneira substancial a partir de agora. No entanto, a expectativa em torno dos próximos dados consolidados do sistema PRODES/INPE, que serão lançados no próximo mês, é muito ruim. Os números agregados do DETER para o último ano (agosto/2020 a julho/2021) antecipam um cenário complicado: nesse período, a floresta amazônica atingiu seu 2º pior índice da série histórica, atrás apenas da temporada 2019-2020. Como zerar o desmatamento se o ponto de partida começa em um nível de devastação tão alto?
No Estadão, Carlos Bocuhy foi seco em sua análise sobre as perspectivas da participação brasileira na COP e o impacto das novas promessas: “Com um portfólio vazio, a missão brasileira só poderá lastrear sua participação em discursos, não em fatos. Promessas já assistimos várias, desde a Cúpula do Clima convocada pelo presidente norte-americano Joe Biden, onde Bolsonaro desfiou intenções. No dia seguinte cortou duramente verbas destinadas ao ministério do meio ambiente.”