O sucesso dos óleos essenciais da Amazônia. Você conhece ?

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Por Rafael Wallendorff para o Valor Econômico
Foto: Arquivo Idesam

Não são poucos os perigos encarados diariamente pelos extrativistas para vencer a densa floresta amazônica, reconhecer as árvores nativas da região e extrair os frutos e resinas que garantem a sobrevivência de homens e mulheres de comunidades ribeirinhas e unidades de conservação do Amazonas.

O desafio aumenta com a logística para carregamento e beneficiamento da matéria-prima, que depois é transformada em óleos essenciais de copaíba, andiroba, café verde e breu nas mini usinas locais para uso cosmético e medicinal. Do coração da selva, são mais de mil quilômetros, por estradas precárias e rios, até os produtos chegarem a Manaus e dali partirem para os centros consumidores dentro e fora do Brasil.

Desde 2018, um projeto financiado pelo Fundo Amazônia fomenta a produção e a comercialização desses óleos, com foco em gestão e na melhoria das condições de trabalho e de vida dos extrativistas. E para aumentar a rentabilidade e atrair os consumidores, foi desenvolvida uma marca coletiva de óleos essenciais da Amazônia, a Inatú.

Já vendida também em Belém, no Pará, na capital paulista e com as exportações começando a engrenar, a marca poderá render até R$ 2 milhões por ano às 14 associações de produtores – que reúnem 2,5 mil pessoas de sete municípios amazonenses – atendidas pelo Cidades Florestais, iniciativa coordenada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam).

“Isso faz a floresta em pé ter valor econômico, gera renda e melhora a qualidade de vida da população”, diz André Vianna, gerente do Idesam e responsável pelo projeto. As boas perspectivas em relação à marca coletiva lançada em agosto são fruto dos resultados individuais das associações, que venderam R$ 1,4 milhão de meados de 2019 para cá. Foram 28 toneladas de óleos vegetais comercializados. “A marca coletiva é uma forma de vender melhor o produto e ajudar as associações”.

Exemplo desse sucesso é o óleo essencial de breu, feito a partir da resina do tronco das árvores para uso cosmético, vedação de embarcações e como incenso. Um litro desse óleo, produzido e envasado pelos extrativistas com a nova marca, foi vendido por R$ 1,6 mil e enviado à Flórida, nos EUA. “Foi surpreendente alcançar esse valor”, diz Diana Prado, presidente da Associação dos Agroextrativistas das Comunidades da Reserva RDS do Uatumã (AACDRSU).

Até então, o breu era encarado apenas como um produto de menor valor agregado, produzido em forma sólida e vendido uma vez por mês nas cidades. Algumas vezes era usado como moeda de troca pelo “rancho”, a compra mensal de mantimentos. “Um quilo de breu bruto é vendido a R$ 5, basicamente para calafetar embarcações. Estamos empolgados com o óleo, algo novo que o projeto apresentou”, afirma Diana.

“Com a Inatú, esperamos consolidar as cadeias produtivas e atender melhor o mercado, além gerar mais valor”, ressalta André Vianna, do Idesam. Inicialmente, haverá quatro produtos da marca, feitos a partir de copaíba, andiroba, café verde e breu. Mas a previsão é que até o fim do ano sejam lançados óleo de açaí, azeite de buriti, creme de tucumã e manteiga de murumuru, espécies de palmeiras típicas da região.

Hoje, as associações já fornecem produtos para empresas como Natura, Beraca, Chemyunion e doTERRA. Elas recebem lotes de até 50 quilos de óleos. As usinas das associações envasam em embalagens de um a cinco litros e os repassam para revendedores e empresas de pequeno e médio portes, que fazem o processo de análise exigido pela vigilância sanitária para comercialização em frascos menores.

Com R$ 12,2 milhões do Fundo Amazônia, do BNDES, o Cidades Florestais investiu na construção de duas mini usinas para beneficiamento dos óleos e na compra de máquinas e equipamentos, como tratores, quebradores, destiladores, filtros prensas e ecoserras para ampliar a capacidade de produção.

O projeto também custeia consultoria técnica e de gestão, como a contratação de contabilistas para cada associação, localizadas na região de Lábrea, Silves, Carauari, Apuí e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã.

Ao todo, os produtores da Inatú têm hoje cinco usinas, cada uma com capacidade média para processar três toneladas por mês de óleos fixos (gorduras, óleos e manteigas) e até 90 litros de óleos essenciais. Como a safra da maioria dos produtos é no início do ano, as estruturas têm capacidade de armazenamento e de processamento o ano inteiro. E acabam por estimular cultivos como o café em sistemas agroflorestais.

O projeto bancou também a instalação de torres de internet nas usinas e desenvolveu um aplicativo no qual os extrativistas podem registrar o local exato da floresta de onde retiraram os produtos. As informações são armazenadas e o óleo que chega ao consumidor conta com um QR Code com toda a rastreabilidade da produção.

A melhor organização das associações, com contratos futuros de fornecimento, já se reverteu em maior rentabilidade. Em uma delas, os extrativistas passaram a receber R$ 37 pelo quilo da copaíba contra R$ 19 antes. Os resultados vão além disso. Nas regiões atendidas o desmatamento caiu até 80%. “Hoje os caboclos têm consciência de preservar a floresta. Se sentem mais motivados porque é daqui que vamos tirar nosso sustento e o dos nossos filhos”, resume Diana Prado.

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