Criado através da Lei Estadual 4.768/2019, o Março Lilás, que acontece no mês alusivo à saúde da mulher, busca sensibilizar a população sobre o câncer de colo uterino, que no Amazonas, tem um número estimado para cada 100 mil mulheres quase três vezes maior que a média brasileira, apontam dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). O presidente da Liga Amazonense Contra o Câncer (Lacc), médico mastologista Jesus Pinheiro, alerta para a necessidade de se intensificar as campanhas educativas voltadas à prevenção e rastreio da doença, que é considerada 100% prevenível.
A estimativa mais recente do INCA, que é vinculado ao Ministério da Saúde (MS), mostra que, enquanto no Brasil, a taxa bruta ajustada (aquela para cada grupo de 100 mil mulheres) fica em 15,38, no Amazonas, o número sobe para 40,18. Os dados são de 2020. Pinheiro explica que, além de fatores de risco habituais, há também o início precoce da atividade sexual entre a população feminina, sem a devida orientação sobre como se proteger das DSTs, entre outras doenças.
Na estatística geral para o Estado, são aguardados 1400 casos de câncer de colo uterino para cada biênio no total, 500 a mais que os casos projetados de câncer de mama, o mais incidente no Brasil e no mundo, mas que no Amazonas, figura em terceiro na lista de neoplasias malignas em mulheres, perdendo para o câncer de colo de útero, que fica em segundo, e para o câncer de pele não melanoma, cuja estimativa é de 1420 casos para mulheres a cada dois anos.
Prevenção
Segundo Jesus Pinheiro, o uso do preservativo durante as relações sexuais, a realização anual do Papanicolau ou de exames similares que busquem analisar o colo uterino, além da adesão à vacina contra o HPV, são as principais armas de combate à doença, assim como a informação.
“É muito comum que mulheres façam o exame preventivo, e que não retornem para buscar o resultado. É importante frisar que o principal agente causador do câncer de colo uterino, responsável por quase 100% dos casos, é o HPV (Papilomavírus Humano). Mas, quando ele causa uma lesão denominada pré-cancerosa, e ela é detectada cedo, não chega a evoluir para câncer com o tratamento adequado”, explicou.
O HPV, segundo o especialista, é considerado uma DST (Doença Sexualmente Transmissível) e boa parte da população em idade sexualmente ativa, já teve contato com o vírus. “Isso não significa que a pessoa que teve contato com o HPV, vá desenvolver uma lesão pré-cancerosa ou mesmo um câncer. No caso das mulheres, o Papanicolau ou exames como o de citologia em meio líquido, são capazes de detectar na secreção uterina que é coletada, a presença do HPV. Se der positivo, o ideal é que haja um acompanhamento anual, para o caso de haver lesão futura”, explicou.
Jesus Pinheiro destaca que existem centenas de subtipos de HPV e apenas a minoria é capaz de causar o câncer. “Mas, quando se chega ao estágio do câncer, a evolução da doença pode ser rápida se não houver tratamento em tempo hábil. Assim, as chances de óbito aumentam e as de cura, são reduzidas”, destacou.
Óbitos
Dados da FCecon (Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas), disponibilizados pelo Sistema de Informações do Amazonas, mostram que 161 mulheres morreram de câncer de colo uterino na unidade hospitalar, em 2021, o equivalente a 23% do número de casos estimados para 12 meses pelo INCA.
“Precisamos estabelecer uma cultura de autocuidado entre a população feminina, para que exames como o preventivo, a mamografia, entre outros, indicados por faixa-etária, sejam feitos de forma periódica, não apenas nos meses em que as campanhas educativas são realizadas. Assim, propiciaremos o diagnóstico precoce e, consequentemente, a preservação de vidas. Erradicar o câncer de colo uterino tem que ser uma das metas do poder público”, concluiu.