Antiga conhecida dos produtores, a traça-do-tomateiro volta a causar prejuízos na safra 2022

0
267

Foto: Eduardo Pinho

A traça-do-tomateiro ataca a cultura durante todo o ciclo de produção, causando danos às folhas, aos ramos e aos frutos, que são broqueados pelas lagartas e perdem o seu valor comercial.

  • Produtores do DF e de MS relatam perdas de até 50% nas lavouras de tomate por causa da praga e ataques têm se tornado mais severos a cada ano.
  • Produtores do Paraguai também relatam infestação 40% maior do que em anos anteriores.
  • A traça-do-tomateiro é mais comum nos períodos mais quentes e secos do ano.
  • Pesquisadores recomendam ações como a limpeza do material usado e a destruição de restos culturais como medidas de controle.
  • Praga foi detectada pela primeira vez em 1917, no Peru.

 

 

Produtores de tomate do Distrito Federal têm relatado perdas de até 50% na safra 2022. A causa de tantos prejuízos é uma antiga conhecida, a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), praga originária da América do Sul, detectada pela primeira vez em 1917, no Peru. “Este ano a infestação está muito superior à do ano passado”, avalia o produtor Maurício Severino Rezende (foto à direita), que também é presidente da Cooperativa Agrícola da Região de Planaltina (Cootaquara).

De acordo com ele, em 2021 as perdas com a traça-do-tomateiro não chegaram a 10%. “Este ano eu perdi metade da produção, e alguns plantios tiveram que ser abandonados, porque economicamente não era viável colher”, relata Rezende.

A situação se agravou por conta do baixo preço oferecido pelo tomate. “No plantio anterior os preços estavam altos e, por isso, o mercado conseguia absorver um produto de qualidade um pouco inferior. Nesta safra, com o preço quatro vezes menor – R$ 40,00 a caixa contra R$ 160,00 do ano passado – a seleção teve que ser muito mais rigorosa”, explica. Com isso, boa parte da produção virou ração animal ou, simplesmente, foi descartada.

Manejo adequado pode evitar perdas

O entomologista Alexandre Pinho de Moura (foto à esquerda), pesquisador da Embrapa Hortaliças (DF), observa que esses picos de infestação pela traça-do-tomateiro têm sido recorrentes no País. “Há cerca de três anos tivemos uma situação semelhante no Brasil, mas ainda não foi possível identificar os fatores que determinam essa sazonalidade”, ressalta.

Moura destaca que as infestações são mais comuns nos períodos mais quentes e secos do ano, quando a praga completa seu ciclo mais rapidamente e é possível a obtenção de várias gerações em um curto período de tempo.

A traça-do-tomateiro ataca a cultura durante todo o ciclo de produção, causando danos às folhas, aos ramos e aos frutos, que são “broqueados”, ou seja, lesionados pelas lagartas e perdem o seu valor comercial.

Mas o pesquisador explica que perdas tão elevadas, de até metade da produção, não são comuns. “De modo geral, é possível manter um controle razoável. Eventualmente pode ocorrer algum desequilíbrio na cultura, por conta da aplicação equivocada de agrotóxicos, por exemplo, o que causa a explosão populacional da praga.”

Também é importante que o produtor adote alguns cuidados, inclusive entre safras. “Algumas medidas são bem simples, como a destruição dos restos culturais contaminados e limpeza de todo o material utilizado na plantação, além dos cuidados durante toda a safra, como monitoramento da infestação e escolha correta dos produtos a serem aplicados”, recomenda o entomologista. Ele informa, ainda, que o uso associado de defensivos químicos com um inimigo natural da praga trouxe bons resultados em experimentos (veja quadro abaixo).

Inimigo natural ajuda no controle da praga

Recentemente, Moura finalizou um projeto de pesquisa que avaliou o controle da traça-do-tomateiro por meio do uso exclusivo de agrotóxicos e pelo uso de agrotóxicos seletivos associado a um inimigo natural (controle biológico) da Tuta absoluta, um parasitoide de ovos chamado Trichogramma pretiosum.

“O tratamento utilizando somente agrotóxicos foi eficiente, mas, quando associado ao uso do parasitoide, a redução da praga foi mais significativa, mantendo a infestação próxima dos níveis de controle – 20% de folhas atacadas e 5% de frutos ‘broqueados’”, relata o pesquisador.

O experimento foi conduzido em dois segmentos de uma casa de vegetação na Embrapa Hortaliças, utilizando o tomate híbrido BRS Kiara. A divisão da casa de vegetação foi feita de acordo com o tipo de controle utilizado: uma parte com agrotóxicos recomendados à cultura do tomateiro e a outra utilizando o parasitoide T. pretiosum aliado a agrotóxicos seletivos.

Nas duas partes foram dispostos 210 vasos, espaçados um metro entre fileiras de plantas e 0,30 m entre plantas. Na última avaliação realizada dentro o estudo, foi constatado um índice de infestação de 0% em folhas para ambos os tratamentos. No caso dos frutos, as porcentagens de ataque foram de 6,67% para o tratamento com utilização conjunta de agrotóxicos seletivos e T. pretiosum, e de 20% para o tratamento apenas com agrotóxicos.

Para fazer o acompanhamento e saber o momento exato de adotar medidas adicionais de controle, foi feito um monitoramento semanal da população da praga durante o estudo – nas folhas no estágio vegetativo da planta e nos frutos no período de frutificação. “Recomenda-se que o produtor faça o mesmo na propriedade”, afirma Moura, lembrando que a aplicação do agrotóxico em conjunto com o inimigo natural tem que ser feita de forma compatível, por meio de produtos seletivos, que são eficientes no controle da praga, mas não causam nenhum dano ao inimigo natural.

Foto: Eduardo Pinho

Problema vai além do DF

Em Mato Grosso do Sul, o produtor Uilson Júnior, do município de Angélica, relata perdas semelhantes às do presidente da Cootaquara no Distrito Federal. “De cada 20 caixas, dez são jogadas fora e dez eu consigo vender, só que por um preço bem mais baixo. Já perdi uma estufa inteira e agora estou perdendo a segunda. Aplicar veneno não resolve o problema mais. A única solução é arrancar tudo e começar a plantação do zero”, informa o produtor sul-mato-grossense.

No Paraguai, segundo o engenheiro-agrônomo José Sevian (foto à esquerda), coordenador de projetos do Centro Tecnológico Agropecuario del Paraguay (Cetapar), a infestação pela Tuta absoluta nas plantações de tomate este ano é pelo menos 40% maior do que em anos anteriores, causando elevadas perdas aos produtores.

Fabiano Ibraim Regis Carvalho, representante da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) na área de atuação da Cootaquara, conta que esse percentual de perdas não foi uniforme em toda a região. “Algumas lavouras tiveram de ser arrancadas antes da colheita, mas outros produtores conseguiram manter a produtividade. Vai muito do manejo que cada um adotou”, ressalta.

Um fato, porém, é inegável na avaliação do extensionista: o ataque da traça-do-tomateiro tem se tornado mais severo a cada ano.

 

YouTube video player

 

Um problema mundial

A partir dos anos 1960, a Tuta absoluta se dispersou do Peru para outros países da América do Sul, como Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai. A praga foi detectada pela primeira vez no Brasil em 1979, no estado do Paraná, e após três anos já estava presente em todas as regiões produtoras de tomate do País.

Nos anos 1990, a traça-do-tomateiro atingiu a Região Nordeste com tanta intensidade, especialmente o Submédio do Vale São Francisco, que boa parte das indústrias de tomate processado tiveram que fechar suas portas e migrar para outras regiões, por causa da drástica redução na oferta de matéria-prima.

Em 2006, a T. absoluta foi detectada na Europa, na província de Valência (Espanha), e logo se disseminou para outras regiões da África e da Ásia. Ainda não há registros oficiais da entrada da praga na China, maior produtor de tomate do mundo, mas a traça-do-tomateiro já foi encontrada no sul da Índia em 2014 e, dois anos depois, em fazendas do Nepal e do norte de Bangladesh.

De acordo com Moura, apesar de a capacidade de voo da mariposa de T. absoluta ser pequena, podendo ser potencializada pelo vento, a dispersão da praga pelo planeta se dá, principalmente, por conta da globalização do comércio mundial. “Basta uma fêmea fertilizada em uma caixa de tomates para levar a praga a outro continente”, afirma.

Fotos: Eduardo Pinho

 

O mercado do tomate

O Brasil produziu 3.679.160 toneladas de tomate em 2021, numa área de 51.907 hectares (ha), o que representa uma produtividade média de 70.880 kg/ha. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor estimado dessa produção é de R$ 6.478.833,00, sendo São Paulo o maior estado produtor do País.

Ainda segundo o instituto, o valor estimado da produção vem crescendo ano após ano no Brasil, saltando de R$ 4.354.465,00, em 2017, para o valor registrado no ano passado; um incremento de quase 50% em apenas cinco anos.

Nativo da região Andina  – englobando o Peru, norte do Chile, Equador e as Ilhas Galápagos – o tomate é hoje produzido em mais de uma centena de países e está presente na mesa da população sob diversas formas, desde a mais simples salada até produtos industrializados, como molhos e extratos.

Sua importância alimentar e nutricional se caracteriza pela alta concentração de licopeno, um poderoso antioxidante, que ajuda a proteger o organismo contra os radicais livres e, até mesmo, o câncer.

No Brasil, o tomate figura como um dos principais produtos hortícolas, produzido em todas as regiões, com destaque para os estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais, que concentram mais da metade da área e da produção nacional, e onde se encontram as principais indústrias processadoras de tomate. Boas condições de solo e clima são os fatores principais da concentração do cultivo nesses estados.

Há uma ampla variedade de tomates ao redor do mundo, desde os tradicionais, com epiderme do fruto na cor vermelha, até os verdes e roxos. A forma e tamanho também é variada: redondos, oblongos, achatados e minitomates.

A utilização de híbridos já está consolidada e atende todos os mercados para a produção de tomate, principalmente dos dois grandes grupos, tomates para a indústria e tomates de mesa.

As cultivares de tomate destinadas ao consumo in natura podem ser divididas em quatro grandes grupos:

• Cereja: as variedades apresentam frutos pequenos, com pencas de 12 a 18 cachos, formato periforme e coloração vermelha a amarela, com elevados teores de sólidos solúveis. Utilizados na ornamentação de pratos e couvert, este grupo vem apresentando grande demanda pelos consumidores, alcançando preços compensadores no mercado.

• Santa Cruz: são os mais conhecidos no mercado, tendo preço mais baixo e sabor ligeiramente ácido. Tradicional na culinária, utilizado em saladas e molhos. Frutos oblongos, com peso variando de 80 a 220 gramas.

• Italiano: frutos compridos (7 – 10 cm), em alguns casos pontiagudos e oblongos. Polpa espessa com coloração intensa, firme e saborosa. Utilizado principalmente para molhos, podendo ainda fazer parte de saladas. Embora se tenha observado aumento frequente na demanda, muitos consumidores ainda não o conhecem.

• Salada: também conhecido como tomatão ou gaúcho. Seu formato é globular achatado, os frutos são bem graúdos podendo chegar até a 500 g, com coloração vermelha ou rosada. Apresentam pouca acidez.

Apesar de ser classificado como um fruto, o tomate é estudado dentro do grupo das hortaliças, uma vez que faz parte da dieta brasileira, em conjunto com outras espécies, como integrante das saladas. Dentre todas as hortaliças, o tomate destaca-se entre as mais consumidas, depois da alface, associada, principalmente, às principais refeições diárias ou nos lanches e fast-food.

Foto: Eduardo Pinho

 

Republicado de EMBRAPA.BR
Eduardo Pinho (MTb 1.073/GO)

Embrapa Hortaliças

Contatos para a imprensa

Telefone: (61) 3385-9113

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui