A pandemia causou um verdadeiro boom nos preços internacionais do ouro por conta do crescente interesse de investidores em ativos mais seguros. No Brasil, onde a cotação se beneficia da desvalorização brutal do real com relação ao dólar, e em outros países amazônicos, isso se refletiu na intensificação do garimpo. Essa atividade transcorre na maior parte das vezes sem qualquer legalidade e prejudicando não apenas o meio ambiente, mas também a saúde de indígenas e comunidades tradicionais da floresta. Gustavo Basso visitou algumas dessas áreas e escreveu na Deutsche Welle sobre o acirramento dos conflitos fundiários precipitados pelo garimpo na Amazônia.
A região de Jacareacanga (PA), tida como a capital brasileira do ouro, é um retrato fiel da situação em diversas regiões da Amazônia. A queda na fiscalização e o discurso e prática lenientes do governo federal causaram uma explosão da atividade mineradora nessa área, principalmente dentro das Terras Indígenas Munduruku e Sai-Cinza. Até mesmo grupos indígenas se dividiram em relação ao tema. A Associação Indígena Pusuru, principal entidade representativa dos Mundurukus, está no centro da disputa: no final do ano passado, Francinildo Kabá Munduruku foi eleito para a presidência da associação, mas grupos contrários afirmam que sua vitória teve o envolvimento de empresários e políticos envolvidos com o garimpo ilegal.