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Servidores da Abin suspeitam da PF em caso de vazamento de operação contra o Paraguai

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Por Cleber Lourenço

A revelação de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) conduziu uma operação de monitoramento digital contra autoridades do Paraguai provocou surpresa e tensão entre integrantes da própria agência. A matéria publicada nesta segunda-feira (31) pelo UOL, assinada por Aguirre Talento, descreve uma operação iniciada no governo Jair Bolsonaro e mantida na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a reportagem, a ação buscava obter dados estratégicos sobre o Anexo C do tratado de Itaipu, com o intuito de preparar o Brasil para as negociações sobre a tarifa da hidrelétrica binacional.

Fontes da Abin ouvidas pela coluna, sob reserva, relataram desconforto com a forma como detalhes da operação vieram a público. Para esses servidores, a suspeita recai sobre a Polícia Federal (PF), que conduz o inquérito em que as informações estavam inseridas. Eles apontam que o nível de detalhamento apresentado sugere que o material não saiu da Abin. A desconfiança tem base no histórico de tensão entre os dois órgãos e no fato de que o diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, é egresso da própria PF, nomeado mesmo diante de resistências internas na agência de inteligência.

Hidrelétrica binacional (Foto: Alexandre Marchetti / Itaipu Binacional)

Desde sua nomeação, Corrêa é visto com reservas por parte dos quadros da Abin, que preferiam um nome de carreira. A percepção é de que sua presença representaria uma aproximação excessiva entre a Abin e a lógica operacional da PF, cujos interesses nem sempre convergem. Há, inclusive, relatos de que o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, também não teria sido entusiasta da indicação, embora a relação institucional entre os dois órgãos tenha se mantido formalmente respeitosa.

A divulgação dos documentos da operação abalou esse equilíbrio. Servidores da Abin disseram à coluna que acreditavam existir uma espécie de pacto tácito de não exposição entre as duas instituições. A quebra dessa expectativa alimenta a tese de que o vazamento possa ter como pano de fundo uma disputa por controle da agência. Segundo esses relatos, a publicação pode fazer parte de uma movimentação para fragilizar a gestão Corrêa e abrir espaço para um nome mais alinhado à atual cúpula da PF.

O episódio reacende um conflito que vinha sendo contido nos bastidores. Desde o início do governo Lula, Abin e PF têm disputado protagonismo em áreas sensíveis como segurança cibernética, operações internacionais e inteligência estratégica. Embora façam parte do mesmo ecossistema de segurança do Estado, os dois órgãos operam com métodos e finalidades distintos, e a sobreposição de competências costuma gerar atritos.

Impacto das exposição da Abin

O temor agora é que a exposição pública comprometa não apenas a operação em si, mas também a credibilidade do Brasil diante de parceiros internacionais. O Paraguai, além de ser um aliado na área energética, mantém acordos de cooperação com o Brasil na segurança pública, inclusive com a própria Abin.

O uso de documentos sigilosos em uma investigação policial, mesmo quando legalmente previsto, é motivo de cautela dentro da agência. Servidores expressam receio de que informações sensíveis estejam sendo instrumentalizadas em disputas institucionais. Eles defendem que a separação entre inteligência e polícia seja mantida para proteger o interesse estratégico do Estado brasileiro.

Com a crise exposta, o governo precisará lidar não apenas com as repercussões diplomáticas, mas também com a instabilidade gerada internamente entre dois de seus principais órgãos de Estado. A situação reacende o debate sobre a governança da área de inteligência, o papel da PF em inquéritos que envolvem dados sigilosos e os critérios adotados para a escolha dos dirigentes desses órgãos. A leitura predominante entre os servidores da Abin é a de que o episódio desta segunda-feira representa um divisor de águas — e que a disputa institucional, até então silenciosa, ganhou contornos públicos e mais agudos.



Fonte: ICL Notícias

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