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Resistência Ancestral: Os Quilombos da Amazônia e a Luta pela Vida no Andira, Jauari e Trombetas

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Raízes da Resistência: Quem São os Quilombolas da Região?

Os quilombos da bacia dos rios Andirá, Jauari e Trombetas, no Pará, são herdeiros de uma história de lutas. Entre os séculos XVIII e XIX, escravizados africanos e afro-brasileiros romperam correntes e adentraram a Amazônia profunda, criando comunidades autônomas em territórios inacessíveis. A geografia da região — com cachoeiras intransponíveis e florestas fechadas — foi estratégica para proteger esses grupos de expedições de captura. Hoje, são 34 comunidades quilombolas oficialmente reconhecidas na área, como Cachoeira Porteira (Trombetas) e São José (Andirá), guardiãs de tradições ancestrais e de um modo de vida integrado à floresta.

Dados Chave:

  • População estimada: 8.000 a 10.000 pessoas (IPEA, 2020).
  • Territórios titulados: Apenas 30% das áreas reivindicadas (CPT, 2023).

A Ferida Aberta: Conflitos por Terra e Mineração

A região do Trombetas é cobiçada por sua riqueza mineral, especialmente a bauxita. A Mineração Rio do Norte (MRN), maior exploradora do minério no Brasil, atua há décadas na área, gerando impactos diretos. Em 2021, um estudo da Universidade Federal do Pará (UFPA) revelou contaminação de igarapés por metais pesados, afetando a pesca — atividade vital para os quilombolas.

Relato de um Liderança:
“Antes, o rio era nosso mercado. Agora, tem dia que a água parece doente” — Dona Maria do Carmo, quilombola do Trombetas (Entrevista ao ISA, 2023).

Enquanto isso, grileiros avançam sobre territórios não titulados. No Jauari, a comunidade Boa Vista enfrentou três invasões violentas em 2022, com casas queimadas e ameaças de morte (Relatório da Comissão Pastoral da Terra).


Cultura Sob Ameaça: O Tambor, a Roça e a Memória

A resistência cultural é tão crucial quanto a territorial. Nos quilombos do Andirá, o Tambor de Crioula — dança circular ao som de tambores — mantém viva a memória dos ancestrais. Já o sistema agrícola tradicional, baseado na roça de toco (cultivo itinerante), garante segurança alimentar, mas é criminalizado por leis ambientais rígidas, que não consideram o conhecimento milenar quilombola.

Ironia Cruel:
Enquanto a MRN desmata milhares de hectares para mineração, as roças familiares de mandioca são alvo de multas por “desmatamento ilegal” (MPF, 2021).


A Falta que o Estado Faz: Saúde e Educação no Abandono

A maioria das comunidades só é acessível por barco, e o transporte público é inexistente. Na região do Jauari, a escola mais próxima fica a 6 horas de viagem. Durante a pandemia, 67% dos quilombolas da região não receberam auxílio emergencial (Articulação das Comunidades Negras Rurais, 2021).

Casos Graves:

  • Surto de malária em 2023 afetou 200 famílias em Cachoeira Porteira, sem apoio emergencial da SES/PA.
  • Mortalidade infantil: 18 óbitos em 2022 (dados não oficiais coletados pela Associação Quilombola Local).

Luzes de Esperança: Autogestão e Alianças

Cooperativa dos Quilombolas do Trombetas (COQUIT), criada em 2019, comercializa óleos vegetais (andiroba, murumuru) diretamente para cosméticos sustentáveis, garantindo renda justa. Parcerias com ONGs como o ISA e o Greenpeace ajudaram a mapear 12 territórios para titulação em 2023.

Vitória Recente:
Em abril de 2024, após 20 anos de luta, o quilombo Água Fria (Andirá) recebeu título definitivo de 28 mil hectares, garantindo proteção legal (Incra, 2024).



Referências

  1. Instituto Socioambiental (ISA). Relatório Trombetas: Mineração e Violação de Direitos. 2023.
  2. Universidade Federal do Pará (UFPA). Impactos da Mineração de Bauxita na Saúde Quilombola. 2021.
  3. Comissão Pastoral da Terra (CPT). Conflitos no Campo Brasil 2022.
  4. Greenpeace Brasil. Atlas da Mineração na Amazônia. 2023.
  5. Depoimentos coletados em audiência pública na Câmara dos Deputados (2023).

Chamada para Ação:
“Conhecer é o primeiro passo para apoiar. Acesse o mapa interativo dos quilombos no site do ISA e saiba como ajudar.”

👉 Esta matéria foi escrita para dar voz, não espetáculo. Compartilhe com respeito.

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