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‘Quem vai roubar seu emprego é alguém que usa IA melhor que você’, diz especialista em futuro do trabalho

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Por Laura Kotscho

Você já se perguntou se, em alguns anos, seu chefe pode ser uma máquina ou se o seu cargo simplesmente deixará de existir? Essa não é mais uma especulação futurista: a Inteligência Artificial (IA) já está transformando profissões em ritmo acelerado. De caixas de supermercado a analistas de dados, ninguém parece completamente seguro.

Nos últimos anos, ferramentas de IA deixaram os laboratórios e passaram a integrar a rotina de empresas em todo o mundo. Plataformas como ChatGPT, Grok, Midjourney e diversos softwares de automação estão sendo usados para escrever textos, criar imagens, analisar dados, tomar decisões — e até substituir funções humanas.

Um estudo do Fórum Econômico Mundial estima que, nos próximos anos, 85 milhões de empregos poderão ser substituídos por tecnologias. Ao mesmo tempo, 97 milhões de novas funções devem surgir. Mas será que estamos preparados para essa transição?

Para Michelle Schneider, pesquisadora e autora do livro “O Profissional do Futuro” (editora Buzz, 2025), o maior risco não está em ser substituído pela tecnologia, mas em não saber como utilizá-la: “Não é a Inteligência Artificial que vai roubar seu emprego. É alguém que sabe usá-la melhor do que você.”

Em entrevista ao ICL Notícias, a autora conversou sobre seu livro e analisou as tendências do mundo do trabalho.

Hipnose coletiva

Michelle Schneider afirma que estamos vivendo uma espécie de hipnose coletiva diante da revolução tecnológica. Segundo ela, muitas pessoas estão sem saber como reagir, e recorrem a um discurso de negação: “Ah, não, mas isso não vai acontecer.”

Em seu livro, a autora  faz um alerta: “Tudo indica que, dessa vez, será diferente. Estamos diante de uma transformação sem precedentes. (…) O futuro, hoje, é o ano que vem. E, no entanto, fazemos um esforço enorme para não enxergar elementos revolucionários que já existem e já determinam muito mais da nossa vida do que temos ideia. O mundo nunca foi tão imprevisível”.

O futuro da IA

A rapidez com que a IA está evoluindo também é motivo de preocupação. Michelle Schneider explica que estamos apenas “em uma fase embrionária” de uma revolução ainda maior. Segundo ela, até recentemente, a tecnologia se limitava a organizar dados criados por seres humanos. Agora já estamos em plena Era da IA Generativa, em que a ferramenta começou a criar textos, imagens, vídeos e até músicas.

A próxima etapa é chamada de Era dos Agentes Autônomos. De acordo com Michelle, esses agentes terão uma capacidade de ação multimodal, ou seja, não vão exercer apenas uma função, mas sim todas ao mesmo tempo: “Hoje, se você pedir ajuda para uma viagem a Fernando de Noronha, a IA vai dar sugestões de onde ficar, o que visitar. Mas, no futuro, o agente autônomo vai não apenas sugerir, mas realizar todas as ações para você: reservar passagem, hotel, e até fazer compras”.

Mas o futuro não para por aí: a próxima grande fronteira será a IA Geral (IAG), em que a tecnologia será capaz de realizar todas as tarefas que os humanos executam, mas de forma mais eficiente. Alguns especialistas acreditam que a IAG pode surgir ainda nesta década.

 

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Capa do livro “O Profissional do Futuro”(Editora Buzz, 2025), de Michelle Schneider / Foto: Divulgação

Ameaça ou oportunidade?

Para Michelle Schneider, não estamos preparados para essa revolução: “Definitivamente não estamos. Mas a verdade é que a gente não tem muito mais opção a não ser encarar.” Embora o avanço da IA tenha gerado discussões sobre a necessidade de desacelerar a inovação, como uma carta assinada por especialistas em 2023 pedindo a suspensão temporária do desenvolvimento, “ninguém parou, porque essa é uma grande corrida. O país ou a empresa que liderar o desenvolvimento da IA vai se tornar a grande potência da próxima era”.

Mesmo assim, Michelle não vê apenas riscos no horizonte. “Eu sou otimista e pessimista”, resume. Para ela, a IA pode ser uma alavanca poderosa para acelerar a resolução de problemas em áreas como saúde e segurança: “É uma oportunidade imensa. Para quem surfar essa onda, isso vai ser muito bom. Vai vir um mundo de oportunidades.”

No entanto,  a transformação não será fácil para todos. “Para muita gente, vai ser muito desafiador.” Por isso, ela reforça dois passos fundamentais para atravessar essa mudança com mais preparo: o primeiro é se conscientizar desses avanços: “Acho que a maioria das pessoas, infelizmente, não tem ideia do que está acontecendo no mundo.” O segundo é agir: “A gente precisa se preparar para estar nesse lado otimista, para se beneficiar das oportunidade”.

Com isso, Michelle Schneider destaca que o profissional do futuro precisa desenvolver justamente aquilo que a IA ainda não é capaz de oferecer: criatividade, empatia, pensamento crítico e capacidade de adaptação.

“A tecnologia é uma ferramenta. Quem souber usá-la com inteligência vai se destacar”, afirma a autora.

Como se preparar?

Baseada no estudo mais recente do Fórum Econômico Mundial, Michelle elenca 4 habilidades essenciais para os profissionais que querem se manter no mercado de trabalho, que será cada vez mais competitivo.

A primeira delas é a “mente inovadora”, destacando a importância da curiosidade, do aprendizado contínuo de a criatividade. “A velocidade da mudança será tão intensa que será necessário aprender a abandonar métodos antigos e abraçar o novo rapidamente”, explica Schneider. “Um estudo do Fórum Econômico Mundial afirma que 65% dos alunos que estão hoje no ensino médio vão trabalhar em um emprego que ainda não existe”, exemplifica em seu livro.

Em seguida, vem o “letramento tecnológico“, que consiste na capacidade de entender, utilizar e avaliar criticamente a tecnologia. Seja no jornalismo, na medicina ou na educação, a colaboração entre humanos e IA será o novo normal. “Não vamos ser substituídos por uma IA, mas por alguém que sabe usá-la melhor do que nós,” diz a pesquisadora. Para ela, entender a tecnologia e como usá-la com inteligência, será determinante para se manter no mercado de trabalho. “Eu considero que aprender a usar a IA é crucial para continuar inserido no mercado de trabalho”, reforça.

A “inteligência emocional” também se destaca como habilidade-chave. Michelle alerta que, enquanto a IA pode superar os seres humanos em tarefas cognitivas, o que nos tornará únicos será o quociente emocional.

“Se grande parte do nosso desempenho vinha do QI, e agora a IA pode realizar essas tarefas cognitivas com mais eficiência, o diferencial será humano: autoconhecimento, empatia, escuta ativa, motivação. Saber gerenciar emoções e se relacionar com os outros será, portanto, tão ou mais importante que o conhecimento técnico”, explica.

Por fim, a “saúde mental” também é considerado um aspecto fundamental para o profissional do futuro. “A pressão psicológica será intensa. O mundo nos empurrará para um lugar onde será necessário cuidar da nossa saúde mental para enfrentar os desafios do trabalho”, alerta. Com o Brasil liderando índices de ansiedade e burnout, o autocuidado será um diferencial importante para aqueles que quiserem sobreviver e prosperar nesse novo cenário.

Regulamentação é uma saída?

Muitas pessoas acreditam que a regulamentação pode ser um “farol da esperança” para  evitar o fim de tantos empregos e a intensificação da competitividade trazida pela IA, mas essa não é uma saída tão fácil.

Michelle Schneider esclarece que os países têm legislações diferentes e visões próprias sobre o que é certo ou errado, o que torna a definição de regras um processo complicado e controverso. “Cada país vai começar a ter a sua [lei], de acordo com sua própria moral, ética e valores”, afirma a especialista.

Ela ainda destaca que existe uma linha tênue entre estabelecer proteções para a sociedade e não barrar a inovação. Uma regulação excessiva de um país pode fazer com que empresas fiquem limitadas, enquanto uma regulação mais flexível de outro país, como a vista nos Estados Unidos e na China, pode facilitar para que as empresas saiam na frente na corrida pela inovação. 

Com a competição global entre grandes potências, a definição dessas regras também traz um elemento de poder imenso. “Quem está definindo essas regras está com um poder muito grande”, diz Schneider.

No fim das contas, o maior trunfo do profissional do futuro talvez esteja justamente naquilo que a IA não pode replicar: a essência humana. “Não há indícios de que as máquinas serão capazes de sentir, sonhar ou questionar o propósito nesse planeta. Então, se é isso que vai nos diferenciar dos robôs, precisamos investir nossas fichas no desenvolvimento da consciência humana”, afirma. “O profissional do futuro é um especialista naquilo que nenhum robô jamais conseguirá superar: em ser gente”, finaliza Michelle em seu livro.

 



Fonte: ICL Notícias

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