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Por Paulo Eduardo Dias e Isabela Palhares
(Folhapress) – Imagens das câmeras corporais de policiais militares que atiraram contra Gabriel Ferreira Messias da Silva, morto a tiros pelos agentes em novembro de 2024, mostram um dos PMs pedindo para que o colega virasse o corpo para que a ação não fosse gravada.
Imagens mostram o momento da ocorrência que resultou na morte do jovem. Os policiais envolvidos estão afastados temporariamente.
Gabriel foi morto durante uma abordagem dos policiais na Vila Císper, na zona leste de São Paulo. Ele foi abordado pelos agentes quando saia de um posto de combustível. Segundo os PMs, ele teria fugido e foi baleado durante a perseguição.
Ainda segundo a versão dos PMs, eles atiraram para se defender, alegando que o jovem teria apontado uma arma para eles.
As imagens das câmeras mostram que os primeiros disparos aconteceram quando os policiais ainda estavam dentro da viatura. Eles depois descem e vão até o jovem, que está ferido no chão, e questionam se a moto é roubada.

Arma supostamente implantada na cena do crime. — Foto: Reprodução/ TV Globo
Testemunhas relataram que Gabriel foi atingido pelos tiros durante a perseguição. Ou seja, sem ter tempo para ter sacado a suposta arma, que os policiais alegam que estava em sua posse.
Gabriel responde que não e, minutos depois, um dos policiais vira para o colega e diz: “vira, vira, vira”. À TV Globo, a Defensoria Pública afirmou que é neste momento que os agentes alteram o ângulo das câmeras.
Ainda segundo a defensoria, as imagens não mostram nenhuma arma, além das dos próprios policiais. Elas captam apenas o sargento Ivo Florentino dos Santos chutando uma arma no chão segundos antes de ela ser localizada próxima ao corpo de Gabriel.
Relato dos PMs sobre abordagem
De acordo com a versão dos policiais, o jovem teria sacado uma arma ao se levantar, o que teria motivado o disparo, que o matou. As imagens, no entanto, mostram Gabriel pedindo ajuda e dizendo que é trabalhador.
“Sou trabalhador, senhor. Para que fazer isso comigo, meu Deus? Me ajuda, por favor”, diz o jovem enquanto está no chão.
O relatório da defensoria aponta que as imagens das câmeras corporais dos próprios agentes indicam que não havia arma na cena imediatamente após o disparo.
A Defensoria Pública alertou o Ministério Público sobre as inconsistências do caso, o que levou a Promotoria a pedir o afastamento dos policias envolvidos.
“As imagens sugerem a ausência de arma nas mãos da vítima no momento do disparo, além de indícios de possível manipulação da cena, com a inserção post mortem de objeto que justificaria o uso letal da força”, diz o pedido da promotoria.
“No que tange à conduta dos policiais Ailton Severo do Nascimento e Ivo Florentino, as imagens apontam participação ativa na suposta fraude processual, seja na sugestão de plantio de arma, seja no disparo efetuado de dentro da viatura em movimento prática contrária aos protocolos operacionais da Polícia Militar”, continua.
O Tribunal de Justiça de São Paulo acatou o pedido do Ministério Público e afastou os policiais. Segundo a decisão, é preciso aprofundar a investigação.
“Embora, aparentemente, tais imagens não captem o momento exato do disparo, por tudo quanto exposto até aqui, relevante o aprofundamento da sua análise via exame pericial para elucidação dos fatos, sobretudo em razão do teor do relato da testemunha no sentido de que populares teriam afirmado que Gabriel foi alvejado ainda quando estava conduzindo a sua motocicleta, sem que tivesse sacado arma de fogo contra os policiais”, diz a sentença.
Gabriel trabalhava como entregador. A morte dele é investigada pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil, onde a mãe atua como recepcionista.
A Secretaria da Segurança Pública informou, por nota, que a Polícia Civil investiga o caso sob sigilo e que o inquérito da Polícia Militar foi concluído e encaminhado. A pasta afirmou ainda que não compactua com desvios de conduta e que pune com rigor comportamentos excessivos.
Fonte: ICL Notícias
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