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O deputado e líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, está convencido de que boa parte da população brasileira e até mesmo muitos deputados ainda não conhecem a história completa da tentativa de golpe de Estado que culminou com a violência e a depredação dos prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023. O
julgamento no Supremo Tribunal Federal, diz ele, será a grande oportunidade para revelar os detalhes sórdidos dessa trama. Dentro do Congresso, e nas mídias sociais, ele tem feito esse trabalho de esclarecimento da população, e dos políticos.
E diz ao ICL Notícias que os métodos empregados na preparação do golpe tem o DNA de Jair Messias Bolsonaro e dos ditadores que ele admirava. As bombas do passado, do fim da ditadura militar, têm ligação direta com as bombas do presente.

Golpistas do 8 de janeiro querem anistia
ICL Notícias – Por que o senhor diz que o projeto de anistia, que a direita tenta fazer tramitar na Câmara, é a continuidade da tentativa de golpe?
Lindbergh Farias – Por que é uma agressão às instituições. Na verdade, uma depredação simbólica do Supremo Tribunal Federal. O projeto que está lá é um projeto amplo, não está ligado ao 8 de janeiro, ele anistia o Bolsonaro, o Punhal Verde e Amarelo, o plano de assassinato do Lula, do Alexandre de Moraes… Tem um parágrafo, o oitavo, que na verdade quer anular até as condenações eleitorais do Bolsonaro.
Não é razoável que os deputados, depois que o país enfrentou, apresente um projeto inconstitucional e que significa o novo ataque violento às instituições e ao próprio Supremo. Ele quer anistiar quem não foi julgado! É muito grave e os deputados têm que entender.
O principal motivo de prisão preventiva é quando se quer de alguma forma obstruir uma investigação. Aqui já não é mais uma investigação. Aqui houve uma denúncia. Eles vão ser julgados. É uma obstrução do julgamento. Isso é muito grave. Os deputados têm suas prerrogativas parlamentares, mas não para cometer crime.
Eu acho, sinceramente, que os deputados que assinam isso, que participam disso, eles estão se associando àquela organização criminosa que tramou, que tentou um golpe de estado em vários momentos. O 8 de janeiro foi a última tentativa. Se essa turma não for julgada e condenada pela primeira vez na história do Brasil, essa história se repete. A gente já viu isso.
O senhor faz uma correlação entre a tentativa de colocar uma bomba no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal, e o passado recente da história do Brasil. Qual é a conexão?
Eu descobri agora que aquela bomba do dia 24 de dezembro, no aeroporto de Brasília só não explodiu porque o motorista do caminhão tanque, com 6 mil litros de querosene, achou um objeto estranho e chamou a polícia às 8 horas da manhã. A Polícia Civil, quando chega, chama o esquadrão antibombas e eles desarmaram os explosivos às 13 horas. O cara ia entrar com aquele tanque, com uma bomba que saiu do acampamento, feita pelo Jorge Washington.
Então, veja os detalhes das investigações. E para entender tudo isso, só tem um jeito: ir na história do país porque senão a pessoa não entende, porque acha fora de sentido. Lá no governo do Geisel, o Golbery e o Geisel decidem, depois das vitórias do MDB em tudo que é eleição para o Senado no Brasil, do movimento estudantil ressurgindo em 1977, eles decidiram que era preciso haver uma abertura. E quem era a linha dura ali?
Para entender Bolsonaro, tem que entender isso. A linha dura era o General Silvio Frota. Ele que organizava essa turma dos porões. Ele foi demitido pelo Geisel numa quarta-feira. Esperaram um feriado. Geisel articulou com os comandantes dos principais regimentos militares, e demitiu o Silvio Frota, comandante do Exército. Ele quis resistir e dar um golpe em Geisel. Quem foi o cara que, no dia em que ele foi demitido, tentou interceptar os comandantes para irem a uma reunião com Silvio Frota? Brilhante Ulstra. O ajudante de ordens era o general Heleno. De 1978 a 1987 explodiram mais de 70 bombas no Brasil. Bombas em bancas de jornal, bomba na sede da OAB que matou dona Lyda Monteiro, teve aquela do Riocentro, foram vários episódios.
Então já existia um método desde aquela época.
O Bolsonaro já existia nesses anos 80. Esses eram os heróis do Bolsonaro. Essa era a cabeça que dizia: deviam ter matado mais de 20 mil, tinham que ter torturado mais. Bolsonaro, para defender a questão do salário, tentou colocar uma bomba no Guandu. Ele não é Geisel, nem Golbery, um ditador. Ele era a turma barra pesada dos porões. Por isso aquelas homenagens ao Brilhante Ulstra. Só nessa cabeça doentia…
Não houve justiça de transição no Brasil e eles voltaram. O grande partido do Bolsonaro é esse. Um partido de extrema direita incrustado com força nos militares, desde lá de trás, com pêndulos e ações terroristas em sua formação. Ninguém foi preso e eles voltaram ao poder com o Bolsonaro.
As pessoas normais não entendem isso, a psicopatia do Bolsonaro que vem dessa ligação histórica. E os deputados perguntam: mas matar (Lula e Alexandre de Moraes)? É isso mesmo. É aquela cabeça.
Até hoje, dentro do Congresso, existem deputados que não acreditam que houve essa trama, não acreditam na investigação da Polícia Federal que revelou o plano Punhal Verde e Amarelo?
Eu converso com vários deles e eles dizem que é exagero. Que não pode ser tão louco. Acho que o julgamento vai ter uma coisa, e por isso eles querem melar o julgamento, porque essa história vai aparecer. Esse plano do Punhal Verde e Amarelo é desconhecido para a grande maioria da população brasileira.
Até hoje não conhecem? Não entenderam?
A pesquisa Quaest mostra que 56% dos brasileiros são contra a anistia. E tem uma coisa que pega com o povo que é essa coisa sórdida de um presidente que disputa contra o outro, perde a eleição e imediatamente começa um plano de execução de assassinato do outro que ganhou. Isso é uma coisa dramática, que tem que ser contada. É uma coisa violenta, sórdida, de traição, de ódio.
E como fazer com que o julgamento no STF se torne conhecido da população, para que entenda o que está acontecendo ali?
Nada é tão forte quanto a operação do Punhal Verde e Amarelo. Eu li toda a denúncia. Eles criaram uma operação chamada Copa 2022. Cada um tinha o nome de um país. Eles estavam certos de que não seriam descobertos. Falavam pelo aplicativo Signal mas foi tudo recuperado. Os deslocamentos deles, as antenas dos celulares.
Tem todo o trajeto daquele cara que chega na casa do Alexandre de Moraes no dia 15, dizendo que está a postos. Tem a operação sendo abortada às 20:59 do dia 15 de dezembro. Foi o dia da última reunião com os líderes militares quando o Freire Gomes ameaçou prender. Tem tudo isso. Com riqueza de detalhes. É uma história para assombrar o país. É tenebroso. E acho que vai chocar.
Voltando ao projeto de anistia, a direita conseguiu os votos para o requerimento do pedido de urgência. Vai ser votado?
O Hugo disse que quer os projetos tramitando nas comissões. Mas vai levar para o colégio de líderes nesta quinta-feira, dia 24, e está criado o impasse porque nós não vamos aceitar. Nós, o PDT, o PSB, o PCdoB, acho que o MDB. O PP é que teve assinatura do líder, mas o PSD não. O Hugo não vai pautar porque ele é presidente da Casa legislativa. Estão pedindo demais do Hugo Motta. Estão pedindo para ele criar uma crise violenta com o STF porque o projeto é uma coisa louca.
E quem vai convencer um número razoável de deputados que essa é uma aventura sem precedentes?
Eu acho que todo mundo ali sabe. Nessas assinaturas, tem os deputados que têm medo de perder o voto do eleitor. O Brasil está muito dividido. Eu ouvi um deputado de Roraima que me disse: no meu estado, se eu fizer isso (negar a anistia) eu estou morto!
Muita gente sabe que é uma loucura pautar isso. O presidente da Casa não vai pautar. Você pode pedir solidariedade pra tudo, menos para uma coisa como essa que compromete o trabalho dele como presidente e vai abrir uma crise com o Supremo, o que não é qualquer coisa.
Fonte: ICL Notícias