Obra é baseada no poema de Edgar Allan Poe, na versão traduzida pelo escritor Machado de Assis
Um clássico em forma de ópera, uma ópera em forma de animação. O poema “O Corvo”, de 1845, do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, foi adaptado para uma ópera de câmara pelo compositor brasileiro Eduardo Frigatti e estreará no Festival Amazonas de Ópera (FAO), no dia 13 de junho, às 19h, acompanhada de um filme animado.
Realizado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e da Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural, o festival está sendo produzido inteiramente com verba da iniciativa privada, por meio do Bradesco e da Motorola, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério do Turismo e Secretaria Especial de Cultura. Conta ainda com parceria do canal Allegro HD e TV Encontro das Águas, e com o apoio do Catavento Museu de Ciências e da Importadora Carioca.
O compositor paranaense, que recentemente concluiu o doutorado em Composição pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), na Universidade de São Paulo (USP), baseou-se na versão do poema de Poe traduzida por Machado de Assis. Frigatti compôs e também escreveu o libreto da obra, que vai contar com a Amazonas Filarmônica e o Coral do Amazonas.
“‘O Corvo’ é um clássico. Nesta liquidez do mundo contemporâneo, os clássicos são ancoradouros. A obra é uma reflexão sobre o luto. Há nas sociedades atuais um culto à juventude e ao hedonismo superficial – Carpe Diem à la fast food. A pandemia nos impôs uma reflexão sobre a morte. Por isso, ‘O Corvo’, um poema clássico, que resgata elementos da cultura clássica em sua técnica formal e trata de um tema universal”, comenta o compositor, sobre os motivos para adaptar a obra.
A versão machadiana, de acordo com o compositor, foi a utilizada por ressaltar a narrativa do poema. “Há várias traduções excelentes para o português deste poema. Após ponderar entre algumas delas, decidi pela tradução (diria, recriação) de Machado de Assis. O drama é fundamental para uma boa ópera. Na tradução de Machado, o conflito interno do narrador é claro, e o crescimento de sua tensão até o final do poema é percebido com facilidade”.
O primeiro grande desafio para adaptar a obra foi criar o libreto e extrair do poema um “arco dramático operístico”, explica Frigatti. “Um segundo desafio foi encontrar uma boa síntese entre o meu estilo pessoal e as demandas expressivas do texto. Todo som tem um potencial expressivo. É uma ‘equação’ complexa encontrar os sons que exprimam a expressividade que o texto demanda e dar-lhes uma forma no tempo, que mantenha o ouvinte atento e que também demonstre a minha assinatura composicional. Foram feitos vários esboços”, ressalta.
Animação – A ópera “O Corvo” será a única a ganhar uma animação dentro do FAO. Para a adaptação do libreto, a direção do FAO convidou a roteirista Carolina Mestriner, e para a animação, Ana Luisa Anker (produção executiva e animação), Giorgia Massetani (direção de arte e desenhos), Renato Zecheto (animador e assistente de desenhos), Samantha Audi (animadora) e Fernando Chade de Grande (animador).
Eduardo Frigatti pontuou que uma referência visual para a animação foi o cinema expressionista alemão. “O filme ‘O Gabinete do Dr. Caligari’ se tornou um ponto de partida para o processo de elaboração do roteiro e dos desenhos”, afirma. “Uma vez decidido o roteiro e feito os primeiros esboços dos desenhos, continuei a acompanhar o trabalho criativo da equipe de animação a distância. Com essa liberdade, a equipe criou uma animação lindíssima, combinando desenhos e fotografias, com uma ambientação incrível. Estou fascinado!”.
Primeira obra no FAO – Esta é a primeira ópera do compositor paranaense e foi encomendada especialmente para o FAO. Para ele, a edição deste ano é especial por dar ênfase à música brasileira e contemporânea.
“É uma grande honra poder participar do FAO. É um festival único na América Latina. Não há iniciativa como esta em nenhum outro país. É algo fantástico. Fico muitíssimo feliz pela oportunidade. Além disso, para um jovem compositor como eu, é uma vitrine, uma oportunidade de alcançar um público maior e de mostrar a minha maturidade artística”, declara.
FAO 2021 – A 23ª edição do FAO será realizada de 6 a 20 de junho, com óperas e concertos gravados, recitais transmitidos ao vivo, webinars e masterclasses on-line, entre outras atrações. Adiado por conta da pandemia de Covid-19 em 2020, o FAO será totalmente dedicado a compositores e intérpretes brasileiros.
Seguindo os protocolos de segurança e prevenção contra o novo coronavírus, o FAO tem uma produção inovadora este ano. As orquestras dos Corpos Artísticos gravam, em dias alternados, áudio e vídeo das obras em Manaus, no Teatro Amazonas, e os solistas gravam as vozes em São Paulo, onde também é trabalhada a parte cênica. O material é, então, reunido e editado para dar vida às óperas e aos concertos. Os grupos de músicos também são reduzidos, em formato de câmara, para evitar aglomerações e facilitar o distanciamento social.
De acordo com Luiz Fernando Malheiro, o FAO não exaltará apenas os compositores contemporâneos, mas realizará um panorama de 165 anos de repertório brasileiro.
“É importante salientar a filosofia desta edição do festival de priorizar nossos artistas. Muitos sofreram e foram prejudicados por conta da pandemia, e por isso decidimos trabalhar apenas com profissionais brasileiros e também com repertório brasileiro. Teremos obras desde o século 19 até os dias atuais”, assinala o diretor artístico.
Óperas – O FAO 2021 terá três estreias: “Três Minutos de Sol”, de Leonardo Martinelli; “O Corvo”, de Eduardo Frigatti; e “moto-contínuo”, de Piero Schlochauer. Todas foram encomendadas especialmente para o Festival.
”Três Minutos de Sol”, de Leonardo Martinelli, abrirá a programação no dia 6 de junho, às 19h (horário de Manaus). Ópera de câmara, com libreto de João Luiz Sampaio, aborda os relacionamentos em tempo de pandemia. Narra a história de três pessoas que estão em lugares diferentes, cada uma em sua casa, que convivem e se relacionam por meio das mídias sociais. O nome da ópera faz referência ao tempo que uma das personagens fica perto da janela esperando o sol bater diariamente, por apenas três minutos.
Obra de Eduardo Frigatti, “O Corvo” será apresentada no dia 13 de junho, às 19h. Baseada no poema de Edgar Allan Poe, traduzido por Machado de Assis, a ópera será uma ilustração de 20 minutos que narra a visita perturbante de um corvo a um homem que acaba de perder sua amada, e que vê a ave como uma mensageira sobrenatural.
Já “moto-contínuo”, de Piero Schlochauer, encerrará o festival no dia 20 de junho, às 19h. Com libreto de Beatriz Porto, Isabela Pretti e Piero Schlochauer, a obra conta a história de uma inventora que recebe um pedido para construir um moto-contínuo que leve um homem viajante ao espaço.
Recitais e concertos – Os recitais serão apresentados em transmissões ao vivo do Teatro Amazonas, nos dias 7, 9, 10, 16 e 17 de junho, às 20h. No repertório estarão canções de Carlos Gomes, Ronaldo Miranda, João Guilherme Ripper, Chiquinha Gonzaga, Almeida Prado, Ernani Aguiar, Osvaldo Lacerda e Francisco Mignone.
O programa também terá canções amazonenses, com temáticas ou compositores regionais como Waldemar Henrique, Lindalva Cruz, Adroaldo Cauduro, Ronaldo Barbosa, Ketlen Nascimento, Celdo Braga, Osmar Oliveira, Candinho, Altino Pimenta, Claudio Santoro, Pedro Amorim e Arnaldo Rebelo.
Os concertos, que são gravados com produções em Manaus e São Paulo, serão exibidos nos dias 11, 12, 14, 15, 18 e 19 de junho, também às 20h, com obras de Fernando Riederer, Laiana Oliveira, Tatiana Catanzaro, Vinicius Giusti, Paulina Luciuk e Willian Lentz.
Webinars e masterclasses – O FAO também terá ações educativas e formativas com a realização de webinars e masterclasses on-line. As webinars acontecerão nos dias 6, 8 e 12 junho, com os temas “A ópera hoje, no Brasil e no Mundo”, “Teatros de Ópera e a Economia Criativa no Brasil e na América Latina” e “A profissão do compositor erudito no Brasil: formação, divulgação, interesse, futuro”.
As masterclasses serão realizadas entre 16 e 18 de junho, com os temas “Novas linguagens, streaming – até que ponto ajuda ou prejudica a ópera” e “A arte do canto na ópera contemporânea – especialização?”.
Raio-X da ópera – A programação contará ainda com uma série de vídeos dedicada a explicar as profissões artísticas e técnicas da ópera para crianças e adolescentes.
Bradesco e a cultura – Com centenas de projetos patrocinados anualmente, o Bradesco acredita que a cultura é um agente transformador da sociedade. Além do Teatro Bradesco, o banco apoia iniciativas que contribuem para a sustentabilidade de manifestações culturais que acontecem de norte a sul do País, reforçando o seu compromisso com a democratização da arte. São eventos regionais, feiras, exposições, centros culturais, orquestras, musicais e muitos outros.
Assim como o Teatro Bradesco, muitas instituições e espaços culturais apoiados pelo banco promoveram ações para que o público possa continuar se entretendo – ainda que virtualmente – durante a pandemia da Covid-19. O banco também lançou o Bradesco Cultura, plataforma digital que reúne conteúdo relacionado às iniciativas culturais que contam com o patrocínio da instituição. Acesse em http://banco.bradesco/cultura.
Óperas (19h Manaus / 20h Brasília)
6 de junho
“Três Minutos de Sol”
Ópera de Leonardo Martinelli / libreto de João Luiz Sampaio
Amazonas Filarmônica
13 de junho
“O Corvo”
Ópera e libreto de Eduardo Frigatti
Coral Do Amazonas e Amazonas Filarmônica
20 de junho
“moto-contínuo”
Ópera de Piero Schlochauer / libretto de Beatriz Porto, Isabela Pretti e Piero Schlochauer
Amazonas Filarmônica
Concertos (20h Manaus/ 21h Brasília)
11 de junho
“Duas Flores”
de Fernando Riederer
12 de junho
“Vox Populi e Vírus Verbal em Quatro Miniaturas”
de Laiana Oliveira
14 de junho
“Sans Rien Dire e Spaziergang”
de Tatiana Catanzaro
15 de junho
“Dire è Fare”
de Vinicius Giust
18 de junho
“Ária dos olhos”
de Paulina Łuciuk, poema de Alphonsus de Guimarães
19 de junho
“A Máquina Entreaberta”
de Willian Lentz
Recitais de canto e piano (20h Manaus / 21h Brasília)
7 de junho
Canções de Almeida Prado – Francisco Mignone – Ronaldo Miranda
Dhijana Nobre, soprano
Joubert Júnior, barítono
9 de junho
Canções de Almeida Prado – Ernani Aguiar – João Guilherme Ripper – Osvaldo Lacerda – Ronaldo Miranda
Carol Martins, soprano
Thalita Azevedo, mezzo-soprano
Enrique Bravo, tenor
10 de junho
Canções de Chiquinha Gonzaga
Mirian Abad, soprano
Marinete Negrão, mezzo-soprano
Jefferson Nogueira, tenor
Joubert Júnior, barítono
Roberto Paulo, baixo
16 de junho
Canções de Carlos Gomes
Raquel de Queiroz, soprano
Aurean Elessondres, mezzo-soprano
Juremir Vieira, tenor
Luiz Carlos Lopes, baixo-barítono
Emanuel Conde, baixo
17 de junho
Canções Amazonenses
Carol Martins, soprano
Samanta Costa, mezzo-soprano
Wilken Silveira, tenor
Miquéias William, tenor
Josenor Rocha, barítono
Roberto Paulo, baixo
Webinars
6 de junho (20h Manaus / 21h Brasília)
“A ópera hoje, no Brasil e no Mundo”
8 de junho, (16h Manaus / 17h Brasília)
“Teatros de Ópera e a Economia Criativa no Brasil e na América Latina”
12 de junho, (16h Manaus / 17h Brasília)
“A Profissão do compositor erudito no Brasil: formação, divulgação, interesse, futuro”
Masterclasses (16h Manaus / 17h Brasília)
16 de junho
“Composição de Ópera: Novas linguagens, streaming – até que ponto ajuda ou prejudica a ópera”
18 de junho
“A arte do canto na ópera contemporânea – especialização?”
FOTOS: Marcos Hermes (compositor Eduardo Frigatti) e Giorgia Massetani (ilustrações)