Morre em Manaus o MAIOR garçom da boemia amazonense

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Por NAILSON CASTRO – JORNALISTA
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Conhecido como Montanha, o PEQUENO gigante do Bar do Armando, morreu na ultima segunda-feira.

Ele não estudou para ser doutor. Homem de baixa estatura, 1,50m no máximo, sem posses financeiras, foi sendo levado pela vida, sem tempo para reclamações, aprendeu a viver sem luxo e sem garantias. Apenas sendo levado e vivendo com intensidade o clima de cada estação.  A vontade de crescer o levou para o halterofilismo. A dedicação em busca dos músculos o transformou em instrutor, da famosa e extinta academia Ifilt, de Manasseh Barbosa, na rua Dona Libânia. O tempo passou e ele passou por diversos locais e serviços. Nos anos 90, já adepto da noite, passou a ser garçom.

Durante muitos anos, noite a noite, ele serviu os clientes do Bar do Armando, o mais tradicional da capital amazonense, no centro da cidade. Ficou notavelmente conhecido como Montanha. Incansavelmente dava patadas nos clientes antes de servi-los e depois afagá-los. De acordo com alguns intelectuais que ali passaram, Montanha virou atração. Rivalizou com o sanduiche de pernil e com a cerveja gelada, caprichos do velho português.

Ecoavam no salão do Bar do Armando os berros :“O QUE É QUE TU QUER ?”;  “FAALA PORRA!”. E ao pé do ouvido, pouco antes de destampar a cerveja e servir os clientes: “Tu sabes que é brincadeira! ”.  Essas foram algumas das pérolas do nosso personagem, inúmeras vezes a citado pelos contadores de causos, jornalistas e historiadores, quando falavam da confraria da rua 10 de julho. E assim como a criatividade precisava da companhia do vento inspirador do Largo de São Sebastião, a boemia amazonense necessitava da cerveja gelada servida pelo Montanha. Ou para matar a sede, ou para rir, ou para ser desafiada na paciência. Uma irritação que se transformava em gozação, na maioria das vezes.

Durante pelo menos duas décadas, carregou consigo uma verdade, sem dividir com ninguém. Em silencio soube se aproveitar da lendária participação dos desafios de luta (televisionadas em Manaus pelas Tvs  Ajuricaba, Baré, Educativa e posteriormente Tv Amazonas do fim dos anos 70 até o início dos anos 80). Alguém um dia o abordou: “Fala Mini-Maciste”.  Tal personagem, semelhante ao Montanha na altura e nos músculos, foi um dos grandes lutadores de luta livre da capital amazonense, chegando a protagonizar grande confrontos  contra os demais personagens da época como Demolidor, Lobo Selvagem, Cabeleira, Bala-Rápida, Lothar, Aquiles entre tantos outros. E dessa fama de bom de “porrada”, Montanha nunca tentou se livrar.

Foi na casa dos amigos Eglantina e Candido Rondon, que Montanha em um almoço de domingo, após ter trabalhado a noite inteira, decidiu desafiar todos os presentes a comerem os dois copos de pimenta malagueta,  recém apanhadas, e que aguardavam o momento de virarem molho em cima da mesa:  “Aposto uma grade quem come mais. Se ninguém aceita, eu como tudo sozinho”, disse ele antes de iniciar a mastigação. A ardência, vermelhidão e soluço de Montanha, rendeu a ele a gozação pelo resto da vida: “QUER UMA PIMENTINHA?!”, repetiam os amigos durante anos. Aliás, muitas e inéditas histórias podem ser contadas pelos irmãos Mônica, Sérgio, Junior, Sandro e Monique Rondon, no conjunto Vista Bela.

Assim como os incontáveis amigos conquistados, como a família Nunes Rondon, a vida como garçom garantiu ao Montanha, muitos e muitos goles de cerveja e consequentemente, problemas. Foi nessa facilidade diária que ele passou a ser um dependente do álcool. O que era alegria dos fins de noite junto aos clientes, passou a ser um problema já no início da jornada de trabalho, trazendo consigo toda a inconveniência que um garçom não pode ter. O desentendimento com Armando, sempre paciente e compreensivo com Montanha, demorou mais aconteceu. Montanha deixou de ser oficialmente garçom do bar do Armando, embora depois disso, ainda tenha frequentado durante anos o antigo local de trabalho, sempre bancado pelos amigos e clientes do bar.

Seus últimos anos de vida, já sem a antiga resistência física, foram marcados por muitos porres. Morou na Joaquim Nabuco, centro de Manaus, em uma casa cedida, quase em frente à residência do Arcebispo. Para sobreviver, trabalhou como guardador e lavador de carros em frente ao Colégio Brasileiro, mas contando também com a ajuda de muitos amigos que gostavam dele.

Na última segunda-feira, 09 de novembro, correu em Manaus a triste notícia de que Montanha havia falecido após ter sido encontrado desacordado com diversas marcas na cabeça e de ter sido levado ao atendimento médico. Os gritos, os desafios, os copos quebrados… Agora Montanha não é mais um incômodo.  Mais uma vez, levado pela “vida”, assumiu o lugar de vulto histórico do maior Bar da Zona Franca de Manaus. Nas palavras de Armando, o antigo patrão com quem já deve ter se encontrado, JOSÉ PALMARES CORDEIRO, o Montanha, foi nessa terra um pobre, coitado, barulhento e de bom coração.

Quem quiser colaborar com a homenagem feita a JOSÉ PALMARES CORDEIRO, pode mandar imagens e histórias para o                              redacaoajuricaba@gmail.com

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