Sociedade Brasileira de Cardiologia no Amazonas implantou primeiro Centro de Treinamento para Emergências Cardiovasculares do Norte
O agente de segurança, David Fonseca, 44, estava ao lado do irmão quando este teve um mal súbito e foi ao chão. Percebendo que o irmão não tinha batimento cardíaco, David, que já fez cursos de primeiros socorros, notou que se tratava de uma parada cardiorrespiratória e não teve dúvidas: iniciou uma massagem cardíaca enquanto aguardava por atendimento profissional.
Com o intuito de ampliar o nível de conhecimento sobre como se deve reagir em eventos como este, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) desenvolveu a plataforma TECA, isto é, o Treinamento de Emergências Cardiovasculares, uma padronização de atendimento em emergências cardiovasculares com base nas melhores e mais atualizadas práticas da comunidade científica para intervenções de urgência em casos de parada cardíaca.
De acordo com dados da própria SBC, há cerca de 14 milhões de pessoas com problemas cardiovasculares no Brasil. Destas, cerca de 400 mil morrem por ano no país. A maior parte dessas mortes poderia ser evitada, não apenas com hábitos de vida saudáveis e preventivos, amplamente divulgados pela mídia, mas também por meio de uma intervenção imediata na vítima de uma parada por meio da massagem cardíaca.
“Em um evento como um infarto, por exemplo, nós costumamos dizer que tempo é músculo. No caso, músculo cardíaco. Em uma parada cardiovascular, quanto mais tempo o miocárdio, que é o músculo do coração, ficar sem estímulo, mais células do músculo irão morrer, o que pode levar à morte do indivíduo ou gerar sequelas para o resto da vida”, explica a cardiologista titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia no Amazonas (SBC-AM), Wládia Albuquerque, uma das instrutoras do curso TECA no Amazonas. O curso é composto por seis instrutores cardiologistas habilitados para treinamento em TECA no Amazonas: Kelly Simone Castro dos Santos, Vânia Mairi Nauê, Mônica Regina Hosannah da Silva e Silva, Frederico Gustavo Cordeiro Santos e Giselle Bezerra Cordeiro.
Sobre o Teca
Implantando no estado por meio da SBC-AM, a plataforma de treinamento é dividida em três níveis. O Teca A atende ao nível avançado para médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde com os procedimentos mais atualizados na abordagem de eventos que antecedem a parada cardiorrespiratória, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), a Síndrome Coronariana Aguda e as crises de Insuficiência Cardíaca. O Teca B, voltado para outros profissionais da área de saúde, como técnicos de enfermagem e condutores de ambulâncias, tem foco no reconhecimento do mal causador do colapso e, posteriormente, na intervenção adequada. Já o TECA L é voltado para leigos e tem objetivo de preparar qualquer pessoa para realizar o atendimento que, pode salvar uma vida ou evitar sequelas permanentes no paciente cardiopata à esperta de atendimento hospitalar.
O Treinamento em Emergências Cardiovasculares já foi realizado duas vezes, no Amazonas, com cursos para o nível Avançado (para médicos), com programação para um terceiro ainda neste primeiro semestre e deve iniciar os cursos de níveis B (Básico) e L (Leigos) ainda este ano. O objetivo é ampliar o nível de conhecimento sobre como reagir em um evento como este, seja a vítima um ente querido, um colega de trabalho ou mesmo uma pessoa que sofre um colapso em um local público.
Trabalho de dois anos
A cardiologista Kátia Couceiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia – AM no biênio 2020-2021, foi uma das principais articuladoras do desenvolvimento da plataforma TECA no Amazonas. Ela ressalta que o desenvolvimento do curso no estado foi resultado de um trabalho de dois anos, salientando também que este é o primeiro Centro de Treinamento dessa natureza e complexidade implantado no Norte do País.
“É muito importante a criação desse centro, porque ele é o único do Norte, totalmente baseados nas melhores práticas e vinculado à nossa sociedade mãe, a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia). Foi um trabalho de dois anos, fruto de uma emenda parlamentar do deputado Wilker Barreto. O recurso permitiu a aquisição de equipamentos para oferecer esse curso para toda a região Norte, inclusive para que as pessoas não tenham que se dirigir ao Sudeste do país para poder ter esse tipo de treinamento que salva tantas vidas”, declarou a presidente da SBC-AM.
Vítima com mal súbito: o que fazer?
De acordo com o Treinamento em Emergências Cardiovasculares (TECA), o tempo é fator fundamental para salvar vidas e evitar sequelas diante de um evento como este. Segundo os especialistas, o primeiro passo é reconhecer se há inconsciência na vítima de desmaio: chamá-la em alto tom e de preferência pelo nome (durante a pandemia, é recomendado também o uso de máscara de proteção sanitária e contraindicada a respiração boca a boca). Uma vez que a vítima não responda, a indicação dos especialistas é a ligação imediata para a emergência.
A intervenção
É preciso colocá-la em uma superfície plana e dura (como o chão, jamais numa cama), de barriga para cima, com o socorrista de joelhos ao lado da vítima. Deve-se posicionar as mãos, uma sobre a outra, os braços esticados sem flexionar os cotovelos, em um ponto médio entre os dois mamilos da vítima, a pessoa vai comprimir o tórax da vítima, baixando-o de cinco a seis centímetros, e deixando com que o tórax retorne à posição inicial. O ritmo ideal da massagem é de 100 a 120 bpm.
Curiosamente, há um truque que remete à nossa memória musical. Quem nunca ouviu a música do Bee Gees “Staying Alive”?. Aquela “Ah, ah, ah, ah, staying alive, stayiing alive” do Bee Gees. “É exatamente esse o ritmo em que a massagem deve ser feita”, diz a cardiologista Wladia Albuquerque. É sugerido a troca de socorristas de tempos em tempos, já que a massagem costuma ser cansativa e não deve ser interrompida até a chegada da equipe médica.
Como a massagem funciona?
Ao se comprimir o tórax, você força o coração a bombear o sangue e permitir que o tórax volte à posição inicial, permite o preenchimento das coronárias que irrigam o músculo do coração. O Treinamento em Emergências Cardiovasculares, desenvolvido pela SBC é referendado pela Ilcor (International Laison Committee on Ressuciscitation), a entidade internacional especializada em reanimação, que se reúne frequentemente para atualizar os métodos de intervenção emergencial em vítimas de paradas cardíacas.
Números
– 14 milhões pessoas têm doenças cardíacas no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia;
– 400 mil pessoas morrem devido a paradas cardíacas, por ano, no Brasil;
– 90% das pessoas que sofrem parada cardiorrespiratória fora de um hospital vão a óbito, segundo a American Heart Association. Contudo, a massagem cardíaca imediata pode dobrar ou mesmo triplicar as chances de sobrevivência da vítima.