Impactos negativos da estiagem se estendem, afetando a economia

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O presidente da CDL Manaus, Ralph Assayag, diz ter enviado proposta ao governo estadual de flexibilização de pagamento de impostos para conter elevação de preços e demissões

A severa estiagem que atingiu a Bacia Amazônica em 2023 teve impacto extremamente negativo em toda a cadeia econômica do estado. Mas, ao contrário do que se esperava, a retração econômica gerada pela seca não acabou com o retorno das chuvas e a elevação do nível dos rios.

Por causa do baixo nível dos rios, a navegabilidade no Amazonas ficou comprometida no último trimestre de 2023. Os navios de grande porte, que precisam de pelo menos oito metros de profundidade dos rios para navegar, tiveram de ser substituídos por balsas, que circulam com profundidade inferior a dois metros, sendo que transportam apenas 10% de uma embarcação de maior porte. Além de serem mais lentas, as balsas tiveram que se adequar às restrições impostas pelas autoridades competentes, como não navegar à noite em alguns trechos.

As circunstâncias adversas causaram desabastecimento em um primeiro momento e super estoque num segundo momento, como explica o empresário Belmiro Vianez Filho. “Quando liberaram o transporte em dezembro, começou o fluxo lento, depois se normalizou. Tudo o que estava retido passou a chegar no pior período: primeiro trimestre de 2024 (janeiro, fevereiro e março), que representa o período de mais baixo desempenho da atividade comercial.”

As vendas baixas no final do ano em decorrência da impossibilidade de transporte dos produtos por causa da seca e os estoques encalhados no início deste ano somam-se a outro item não computado na planilha de custos dos comerciais: o frete foi reajustado, encarecendo a despesa com deslocamento. “O frete China-Manaus era US$ 6,2 mil. Ele teve uma sobrecarga de US$ 3,5 mil por cada contêiner. Elevação de mais de 40% no custo do transporte de produtos importados. No caso do nacional, o aumento ficou em 30%. Este acréscimo está previsto no contrato firmado com os armadores caso ocorra alguma anormalidade climática. Neste período, o impacto foi perto de 40% no custo de compra e perto de 25% no preço final ao computar outros agregados como os impostos”, esclareceu Vianez.

A mercadoria que os armadores iriam trazer em outubro, novembro e dezembro de 2023, está sendo entregue em janeiro, fevereiro e março de 2024. “O que estava projetado para ser transportado no primeiro trimestre deste ano ficou prejudicado porque os armadores não têm contêiner para atender todo mundo. Eles ainda estão sob o efeito da estiagem. Os transportadores e os comerciantes compõem a mesma cadeia produtiva que ainda vem sofrendo com os efeitos da estiagem. Os transportadores ficaram com suas embarcações paradas, bem como os seus funcionários. Os trabalhadores continuaram recebendo mesmo que não estivessem executando suas atividades. A Vila do Conde, porto do Pará de onde saem as mercadorias para o Amazonas, está super lotada, sem conseguir dar vazão à quantidade de carga. Este descontrole ainda não cessou”, relatou Belmiro Vianez. Em virtude disso, o valor do frete ainda não retornou à normalidade.

Demanda comércio

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDLM), Ralph Assayag, diz que o setor comercial enviou proposta ao governo do estado para discutir a possibilidade de parcelamento do ICMS apurado mensalmente pelas empresas. A medida seria uma tentativa de minimizar os reflexos ainda sentidos pelo setor.

“Temos esse pleito perante o governo do estado de dividir o ICMS, que vai fechar em março, porque a carga chegou em grande volume em janeiro e fevereiro, por conta desses contêineres que estavam paralisados. Perdemos venda, o estado perdeu arrecadação e o interior sofreu com desabastecimento”, declarou. “Se nós perdermos capital de giro, compramos menos produtos e isso se reflete no aumento dos preços e na própria oferta de emprego pelo setor”, argumentou o empresário.

Efeitos na arrecadação

O reflexo disso pode ser visto na arrecadação tributária do estado. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), o setor industrial, arrecadou R$ 560,2 milhões em janeiro de 2023 contra R$ 471 milhões em janeiro de 2024. Isso representa quase R$ R$ 90 milhões a menos do que o arrecadado em janeiro do ano anterior, uma queda real estimada em 15,92%. No primeiro bimestre de 2024, o setor industrial registra queda real estimada em 6,14% na arrecadação.

Já o comércio, naturalmente estagnado em janeiro, esperava ter algum alento em fevereiro. O retrocesso ficou evidente nos dados da arrecadação: foram cerca de R$ 88 milhões a menos do que o apurado pelo estado no mesmo período de 2023. Ou seja, R$ 610,3 milhões (fev/2023) contra R$ 522,2 (fev/2024), uma queda real aproximada de -14,4% em relação ao período. No primeiro bimestre de 2024, o comércio fechou com queda real aproximada na arrecadação de 6,89%.

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