Garimpo no rio Madeira: uma mãozinha do narcotráfico, outra do governo Bolsonaro

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Questionado nesta 5ª feira (25/11) sobre a ação audaciosa de garimpeiros no rio Madeira, onde montaram uma verdadeira “Serra Pelada” sobre a água, com paredões de barcas obstruindo o rio, o general-vice Hamilton Mourão sugeriu que o narcotráfico pode ter envolvimento nessa situação. De acordo com Mourão, as quadrilhas estão deixando de usar a Amazônia apenas como rota de comercialização de drogas, mas também como fonte de novos (e valiosos) recursos por meio da exploração de ouro.

“Nós temos tido vários informes de que o narcotráfico, essas quadrilhas, na ordem de proteger suas rotas, subiram para lá [no Madeira, na altura do município de Autazes]”, disse Mourão. “Uma das formas de se manterem é apoiando ações dessa natureza [garimpo]. Até porque, se o ouro é extraído ilegalmente, é um ativo que eles podem trocar por droga”.

O general-vice também confirmou que a Polícia Federal e a Marinha preparam uma operação para desbaratar a atuação dos garimpeiros no Madeira. “O pessoal que estiver na ilegalidade vai ter a embarcação apreendida”. Agência Brasil, Correio Braziliense, Estadão, g1, Metrópoles e O Globo publicaram a promessa de Mourão.

A intenção do governo federal em combater o garimpo ilegal no Madeira, no entanto, vai contra todas as manifestações feitas por Bolsonaro e pelo próprio Mourão nos últimos anos, sempre em defesa dos interesses dos garimpeiros às custas do meio ambiente e dos direitos dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais. “O governo Bolsonaro não é só complacente, mas, muitas vezes, aliado do crime”, observou Míriam Leitão n’O Globo, lembrando uma fala recente do presidente em defesa da atividade garimpeira em Terras Indígenas.

No UOL, Ricardo Kotscho recuperou outra fala de Bolsonaro: “O interesse na Amazônia não é no índio nem na p*rr* da árvore, é no minério”. Para ele, a defesa bolsonarista da destruição ambiental é herdeira direta do legado do infame Sebastião Rodrigues da Moura, vulgo Major Curió, que fazia e acontecia em nome da ditadura militar na Serra Pelada entre os anos 1970 e 1980. “É esse cenário [devastação] que Bolsonaro agora quer espalhar por toda a Amazônia”.

Também no UOL, Chico Alves foi fatalista: a ação explícita dos garimpeiros é um atestado da desmoralização do poder público no Brasil atual. “Os bandidos podem ficar tranquilos. Assim como estão tranquilos os mineradores que invadem Terras Indígenas, como as reservas Yanomami, deixando rastro de devastação e contaminação dos rios por mercúrio, sem que qualquer autoridade os incomode”.

O professor Pedro Luiz Côrtes questionou no UOL: “Se o governo não consegue coibir garimpo sendo feito nessas dimensões, praticamente uma ‘Serra Pelada’, quem disse que vai coibir desmatamento como se propôs na COP26?”.

Os garimpeiros do Madeira demonstram ter recursos financeiros em abundância para continuar sua operação criminosa no rio, mas reclamam da falta de “proteção política”. O Estadão teve acesso a mensagens de áudio e texto trocados pelos garimpeiros, nas quais eles manifestam interesse de ter “um representante no governo para brigar” por eles. De acordo com a reportagem, o grupo que ocupa a região do Madeira em Autazes mantêm diálogo com vereadores do município na tentativa de sensibilizar o poder público local para suas “demandas”.

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