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O documentário “Folha Corrida”, dirigido pelo premiado Chaim Litewski, de “Cidadão Boilensen”, com produção da Terra Firme, revela que o jornal “Folha de São Paulo” abrigava, em sua sede, agentes da ditadura que que “torturavam de manhã e trabalhavam no jornal à tarde”. O primeiro episódio foi exibido gratuitamente no canal do ICL Notícias.
Na live de exibição do documentário, as professoras Flora Daemon, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e Ana Paula Goulart Ribeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). falaram sobre o trabalho de pesquisa que resultou em “Folha Corrida”. O diretor Chaim Litewski também esteve presente.

Live do ICL exibiu gratuitamento o primeiro episódio de ‘Folha Corrida’. (Foto: Reprodução/ICL)
Folha Corrida foi produzida com base na pesquisa “A responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura: o caso Folha de S.Paulo”. Além de Flora e Ana Paula, contribuíram André Bonsanto Dias (UEM), Joëlle Rouchou (FCRB) e Lucas Pedretti (UERJ).
Em entrevista com o fundador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Eduardo Moreira, e o jornalista Leandro Demori, as pesquisadoras revelaram detalhes sobre a relação entre o Grupo Folha e a ditadura militar. Segundo Flora Daemon, a Folha empregava agentes do regime em setores da empresa e perseguia jornalistas ligados à esquerda.
“Tinha agentes da repressão em muitos cargos diferentes (na Folha), tinha jornalistas que eram também policiais ligados à repressão, tinha gestores, pessoas que trabalhavam na segurança. Tinha uma equipe lá dentro. Nós temos documentos que mostram, por exemplo, como essas pessoas faziam vigilância dos jornalistas”, revelou Ana Paula Goulart. “A atuação deles era muito diversa, estava em todas as empresas do grupo e em cargos e funções muito variados. O Grupo Folha funcionava como um braço do aparato repressivo da ditadura”.
“Na nossa série, a gente caracteriza que a própria Folha perseguia e monitorava internamente seus funcionários, muito possivelmente através da presença de policiais que estavam espalhados em setores estratégicos dentro da estrutura da empresa”, disse Flora Daemon.
O documentário revela, ainda, que o Grupo Folha, em seus jornais à época, publicava fotos e dados pessoais de militantes políticos que se opunham ao regime militar instalado no Brasil. “Quantos não foram torturados e mortos por consequência disso?”, questionou a professora Ana Paula Goulart Ribeiro.
“A Folha conclamava a população para perseguir os militantes, colocando fotos, nomes. Em certo momento, a Folha reproduz um inquérito sobre militantes do Partido Comunista, ela usa quatro páginas colocando dados pessoais, nome completo das pessoas e nome dos pais. Tornavam essas pessoas absolutamente vulneráveis e conclamava a população a denunciar. Era um disque denúncia”, disse Ana Paula.
“A Folha fez isso, inclusive, com jornalistas da empresa, eles foram presos pelo Dops, pelo Doi, estavam sendo torturados e a Folha estampa em suas páginas os nomes, sobrenomes, endereços e carateriza aqueles jornalistas como terroristas”, completou Flora Daemon.
A série em quatro episódios reúne depoimentos, documentos e arquivos que tratam da colaboração editorial e operacional da Folha de S.Paulo — com destaque para o jornal Folha da Tarde — com a repressão militar. O jornal foi questionado sobre esses fatos, mas nenhum de seus representes se pronunciou.
Folha Corrida
Ao longo dos quatro episódios de Folha Corrida, são apresentados elementos que indicam que a atuação do Grupo Folha durante a ditadura militar foi além do posicionamento editorial. A série detalha como estruturas da empresa foram utilizadas de maneira prática por órgãos de repressão, além de abordar como o conteúdo publicado e a política interna do jornalismo também acompanharam a lógica do regime.
“Folha Corrida” é uma série investigativa de 4 episódios que foca no apoio do Grupo Folha ao regime ditatorial e os aparatos de repressão durante os 21 anos de chumbo no Brasil (1964-1985). O Grupo, de acordo com o documentário, deu sustentação editorial, financeira e operacional à ditadura.
Todos os episódios de “Folha Corrida” estão disponíveis na plataforma do Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Clique aqui para se tornar membro do ICL.
Reações e tentativas de negação
Otávio Frias Filho, filho do fundador do Grupo Folha, em sua biografia, afirma que os caminhões da empresa foram usados por agentes do DOI-CODI, mas sustenta que isso teria acontecido sem o conhecimento da direção: “Tenho convicção de que isso foi feito à revelia do meu pai.”
Para os pesquisadores envolvidos na série, os dados coletados indicam o contrário.
“Não era um caso isolado. Era um modo de operação”, afirma Ana Paula Goulart, coordenadora da pesquisa.
Fonte: ICL Notícias