Essas críticas são duras !!!

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Os jornalistas do Intercept estão acostumados com um certo “fogo amigo” permanente vindo dos colegas de outras redações. É comum nos criticarem pelo fato de apelarmos com frequência para nossa audiência pedindo doações em dinheiro.

Jornalista não gosta de pedir dinheiro: eu entendo isso. É difícil, mesmo. Na teoria, não é parte da nossa função. 

O jornalismo, no entanto, se acostumou a ver matérias e manchetes negociadas, “ajustadas” e até vetadas por conta dos interesses de anunciantes e investidores. Já aconteceu comigo, anos atrás, e acontece diariamente nas redações pelo país. Não parece incomodar à maioria dos nossos colegas as relações espúrias que por décadas o jornalismo brasileiro mantém com políticos, grandes empresas e governos em nome do modelo de negócio majoritário: os anúncios e os proprietários pagam a conta. 

O Intercept não funciona assim. E não só não funciona assim, como mantém todo o seu conteúdo aberto e gratuito. O TIB também não chupa dados de navegação para oferecer anúncios bizarros e caça-cliques. Para funcionar de maneira inversa à lógica vigente encontramos um caminho, inspirados em várias iniciativas de jornalismo independente no exterior: pedimos o apoio da nossa audiência de maneira explícita e recorrente. Mas mais do que isso: trabalhamos arduamente para construir um movimento, uma comunidade de pessoas que têm interesses convergentes com os nossos interesses. E quais são esses interesses? Posso resumi-los nesse tripé: jornalismo independente, jornalismo que coloca o interesse público em primeiro lugar e jornalismo investigativo que tem como objetivo gerar impacto nas nossas vidas.

Veja: quando somos criticados porque “pedimos dízimo” (sim, essa é uma piada que já fizeram), não é uma crítica como outra qualquer. Na verdade, críticas como essa miram no nosso esforço por fazer diferente, por não aceitar a lógica dos anúncios e dos investidores. O objetivo é descredibilizar o próprio modelo de negócio que estamos tentando levar adiante. 

E no lugar desse modelo de negócio que apela para os leitores sobra o quê? Grana de banco, matérias fechadas para assinantes em meio a uma pandemia, tragédias climáticas e uma guerra, dinheiro de empresários que na verdade deveriam ser investigados pelo jornalismo e uma falsa autonomia que não engana nem ao cidadão mais ingênuo. 

Quero te dizer que essas críticas incomodam, mas precisamos não ligar para elas. Não ligamos porque, de outro lado, os impactos do que produzimos não cessam e, o mais importante: ao longo dos últimos 5 anos a comunidade que criamos nos apoiou intensamente. 

Mas as coisas estão um pouco diferentes nesse começo de 2022. Talvez por isso, nos últimos dias as críticas doeram um pouco.

 

Trabalho no TIB há dois anos e estou assustada com o que vimos nesses primeiros meses. Estamos próximos ao patamar mais baixo de arrecadação mensal. Na verdade, desde que entrei, em janeiro de 2020, crescemos mês a mês, devagarinho. Agora, pela primeira vez, vi nossos números caírem por dois meses seguidos. Um retrocesso preocupante em um ano decisivo e no qual precisamos muito do jornalismo independente.

Não é a crítica que nos motiva, mas a alegria de trabalhar junto a milhares de pessoas no que acreditamos. Se isso se perde, perde-se também a essência do trabalho do Intercept e, claro, se reduz a nossa capacidade de produzir com qualidade. Sim, porque o nosso jornalismo é feito de sonhos e coragem, mas como qualquer iniciativa importante ele precisa de dinheiro e custa muito caro. 

É Quarta-Feira de Cinzas e quero acreditar, sinceramente, que o ano começa hoje, “depois do Carnaval’, como diz o clichê. Quero que hoje seja um marco: o fim desse ciclo de queda dos últimos dois meses e o início de fato dos planos que fizemos para 2022.

Táia Rocha
Analista de Arrecadação
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