O Amazonense, manauense, Sandro Ricardo Rodrigues Viana, nascido em 26 de março de 1977, na Santa Casa de Misericórdia é um dos heróis olímpicos brasileiros e junto com Gilmar Popoca(futebol ,1984) o único representante do Amazonas no quadro histórico de medalhas. Após a aposentadoria, em 2019, Sandro Viana passou a desempenhar diversos papeis secundários nas pistas de corrida, tudo para não ficar distante definitivamente das provas que o consagraram no mundo inteiro.
Mas a história de Sandro Viana não se resume ao período em que atuou como atleta do Atletismo brasileiro. Esse abnegado esportista tem tantas histórias, que seria difícil construir um resumo que fosse fiel à realidade.
Filho da professora aposentada Marlene Rodrigues é o mais velho de dois irmãos. Viana e seu irmão, criados pela mãe no bairro Dom Pedro, Zona Oeste, onde cresceram e moram atualmente. Passou por diversas escolas públicas entre elas; Eunice Serrano e Petrônio Portela, onde segundo ele com muitas dificuldades concluiu os estudos.
“Eu e meu irmão crescemos no bairro Dom Pedro onde moramos até hoje, e nossa infância foi muito pobre, minha mãe que hoje é professora aposentada teve que trabalhar muito para nos criar. Naquela época minha mãe era camelô, e eu para ajudá-la, tive que vender mingau nas ruas do centro de Manaus. Tivemos que fazer alguns sacrifícios para que tivéssemos o esporte como meio educativo e social, que serviu como uma espécie de válvula de escape, onde proporcionou a mim e meu irmão ter a personalidade que temos hoje”, relatou Viana.
Durante a adolescência Viana além de sofrer com as mais diversas humilhações ainda foi vítima de bullying na escola, e segundo ele era uma batalha ter que ir e vir para a as aulas todos os dias. “Imagine você um garoto negro, filho de mãe solteira, com talento e cheio de sonhos querer levar uma vida normal como um menino qualquer, era quase que impossível. Então era comum recebeu diversos tipos de ataques racistas e ser privado de correr e brincar no intervalo da escola”, afirmou.
Em sala de aula era sempre o menino bom de notas e sempre além da média, tanto que aos três anos de idade aprendeu a ler e a escrever. Mas isso não era motivo para ter a atenção dos colegas nem dos professores. Ao contrário dos colegas que pediam a vez para falar na hora da aula, os professores não permitiam que se expressasse e era tratado com diferença e sendo excluído, dentre outras situações.
Durante a adolescência, aos 13 anos de idade, Sandro Viana esteve na inauguração Vila Olímpico de Manaus em 1990, permanecendo por uma década, praticando vários esportes como: natação, basquete, futsal, vôlei, jiu-jítsu, triátlon e futebol, mas foi no atletismo que ele se encontrou. Em 2001 aos 24 anos quando decidiu migrar para atletismo, apesar da idade considerada avançada para iniciar na modalidade, ele treinou ao lado de crianças conseguindo evoluir e obtendo bons resultados em um curto período.
Por muito tempo tentou ingressar no ensino superior, mas diante das condições financeiras e sociais, nem chegou a fazer os vestibulares que na época só existiam para a antiga Universidade de Tecnologia da Amazônia (Utam) e Universidade do Amazonas (UA), hoje Escola Superior de Tecnologia da Universidade Estadual do Amazonas (Est/UEA) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Em 2002 ao se destacar nos treinos na Vila Olímpica, Viana foi selecionado juntamente com outros atletas para ganhar bolsas de estudos oferecidas pela Universidade Nilton Lins (UniNiltonLins), oferecida pelo próprio empresário e professor Nilton Lins (vivo a época), para cursar economia.
Em 2004 ele planejou sua ida para São Paulo e em 2005 ela foi concretizada, percebendo que já havia passado por todos os níveis regionais ele precisava fazer um teste para saber se era capaz de competir em nível nacional e havia uma maneira, ir para a vitrine do esporte que naquele momento era na cidade São Paulo. Precisava de um treinamento de alto nível e só poderia encontrar na terra da garoa. Mas havia um empecilho, faltava patrocínio, foi então que com o apoio da família resolveram vender alguns moveis, pois precisaria de todo recurso possível para se manter na Grande São Paulo. Foi o caminho encontrado para chegar lá. Passados seis meses ele retorna para Manaus depois de participar do Campeonato Mundial Universitário na Turquia, onde conquistou a medalha de bronze (terceiro colocado), nos 100 metros, sendo um divisor de águas em sua vida.
Sandro sempre foi um rapaz humilde, guerreiro, focado em sua modalidade e, ao seguir seus sonhos, conseguiu chegar aonde todo atleta busca estar, no topo mais alto de um pódio. Dois anos depois em 2007, Viana entrou para a equipe que conquistou o ouro no revezamento 4×100 metros nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Além disso, disputou os 200 metros, sendo desclassificado na final por sair de sua raia. Nesse mesmo ano foi finalista dos 4×100 metros no Campeonato Mundial de Atletismo em Osaka ficando em 4º lugar.
Em 2008 integrou a equipe brasileira de revezamento 4×100 metros nos Jogos Olímpicos de Pequim, onde obteve o quarto lugar. Entretanto, o jamaicano Nesta Carter foi pego no exame anti-doping, e o time jamaicano que conquistou a medalha de ouro nessa prova foi desclassificado, o que fez com que o quarteto brasileiro composto por Bruno Lins, Vicente Lenílson, José Carlos Moreira e Sandro Viana herdasse a medalha de bronze dos Jogos Olímpicos daquele ano. No entanto os jamaicanos recorreram ao Tribunal Arbitral du Sport (TAS).
Em 2011 integrando a delegação que disputou os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, chegou a ganhar o ouro na prova do 4x100m masculino, junto com Ailson Feitosa, Nilson André e Bruno Lins.
Recorde – Seu recorde pessoal nos 200 metros é 20s32 em 22 de maio de 2008, em São Paulo, quando venceu o GP São Paulo Caixa. Tem 10s11 nos 100 metros, alcançados em Bogotá na Colômbia em 24 de julho de 2009.
Em 2019, Viana foi homenageado pelo Governo do Amazonas através da extinta Secretaria de Estado de Juventude Esporte e Lazer (Sejel), pela herança olímpica alcançada em Pequim na China em 2008, ocasião em que o quarteto brasileiro formado pelo atleta, juntamente com Vicente Lenilson, Bruno Barros e José Carlos Moreira, o “Codó”, garantiram o bronze na competição, na prova de revezamento 4×100 metros. A confirmação do bronze olímpico foi divulgada no dia 31 de maio de 2019, pelo TAS, que negou o recurso do velocista jamaicano Nesta Carter, flagrado no exame antidoping quando da realização dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Aposentadoria – Após 17 anos de uma trajetória que lhe rendeu uma medalha olímpica, o velocista Sandro Ricardo Rodrigues Viana, conhecido internacionalmente apenas como Sandro Viana, anunciou no dia 26 de março sua aposentadoria. O anúncio foi realizado no local de maior expressão do olímpismo do Amazonas, o Museu do Esporte Olímpico, nas dependências da Arena da Amazônia Vivaldo Lima, no bairro Flores, zona centro-sul de Manaus.
Sandro encerrou a carreira de atleta velocista e de saltos no dia em que completou 42 anos de idade, juntamente com o aniversário de 29 anos da Vila Olímpica de Manaus, lugar em que deu início à sua carreira. O velocista deixa ainda um legado a todos os praticantes da modalidade, que sonham um dia alcançar o lugar mais alto do pódio olímpico. “Gostaria que minha história sirva de exemplo para muitos jovens talentosos que temos no Amazonas, na Amazônia, no Brasil. Muitas vezes tem talento, mas não tem oportunidade. Agradeço a Deus e minha família por ter tido tantas oportunidades”, desabafa Sandro. “Pretendo desenvolver trabalhos no esporte, principalmente no atletismo. Quem sabe eu consiga ajudar outras crianças”, concluiu.
Por fim, Sandro Viana é um exemplo de atleta sempre auto astral, alegre, otimista e de bem com a vida, que mesmo com todas as dificuldades conseguiu alcançar seus objetivos chegando ao topo do pódio.
Fotos: Divulgação/ Facebook