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Eduardo Moreira analisa acordo EUA-China

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O acordo que dá uma trégua de 90 dias na aplicação de sobretaxas entre China e Estados Unidos, em meio à guerra tarifária deflagrada pelo presidente Donald Trump, “mantém a incerteza na mesa”, na avaliação do economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira. “Ninguém pode fazer um planejamento de longo prazo com uma incerteza desse tamanho na mesa”, disse Moreira, durante participação na edição desta segunda-feira (12), no ICL Notícias 1ª edição, programa diário no YouTube.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, relatou no domingo (11) que as duas maiores economias do mundo tiveram um “progresso substancial” nas negociações feitas em Genebra, na Suíça, no fim de semana, para apaziguar a guerra comercial. Segundo ele, ambos os países concordaram em interromper por 90 dias a escalada tarifária que sacudiu a economia mundial, o que resulta na redução de 115% em tarifas recíprocas.

A redução nas tarifas se aplica às taxas anunciadas por Trump em 2 de abril, que acabaram aumentando para 145% sobre as importações chinesas, com Pequim respondendo com medidas equivalentes na faixa de 125%. A partir do acordo, as tarifas dos EUA aplicadas sobre a importação de produtos chineses ficarão em 30% e as da China sobre produtos estadunidenses, em 10%.

As bolsas mundiais estão reagindo bem à trégua comercial entre as duas potências, nesta manhã de segunda-feira, em especial o índice Nasdaq, de tecnologia, com alta de cerca de 4%.

PIB menor

Eduardo Moreira lembrou que o tarifaço de Trump desorganizou principalmente a economia norte-americana, que vinha caminhando bem em 2024, mas que, no primeiro trimestre de 2025, apontou recuo de 0,3% no PIB (Produto Interno Bruto) em relação aos três meses anteriores, quando os analistas esperavam aumento.

“O cara [Trump] conseguiu ter um recuo na economia, só ainda não é recessão porque é preciso ter um período [mais longo] de recuo. Por que houve recuo? Por causa de um ponto que eu antecipei aqui: quando o Trump começou a fazer essas tarifas, eu falei que as empresas norte-americanas iriam fazer: vão sair importando tudo enquanto as tarifas não sobem. Quando se começa a importar um monte de coisas, isso tem um impacto na economia”, disse.

“A economia norte-americana recuou no primeiro trimestre e a gente vai ver esse efeito, porque essa confusão toda continua. As empresas que não compraram vão comprar agora que tem 90 dias de trégua. As que compraram fizeram estoque grande. Imagine a confusão para um mercado que estava estabelecido. O Trump está estragando a previsibilidade, a capacidade de planejamento da economia norte-americana, mas os mercados estão reagindo muito bem [ao acordo]”, pontuou.

Desorganização das cadeias globais

Para Moreira, o tarifaço anunciado por Trump contra mais de 180 países, em especial contra a China, “desorganizou exatamente tudo, não só na economia global”. “Acho que era o interesse dele. Sempre fui da teoria de que o Trump quer embaralhar – ele perdeu o jogo de cartas, então ele está querendo melar o jogo, embaralhar o jogo de cartas em cima da mesa para começar o jogo de novo. Mas ele desestabilizou toda a economia norte-americana”, disse, lembrando que as bolsas norte-americanas foram as que mais perderam neste começo de ano.

Pressão

O recuo do republicano, no entanto, é pelo fato de ele ter começado a sofrer pressões de todos os lados, na avaliação do economista.

“Ele teve e está tendo ainda uma resposta negativa, não só da população americana, que deu para ele a pior aprovação nos primeiros cem dias de um presidente americano desde o final da Segunda Guerra Mundial, como também dos principais donos das grandes empresas americanas. A grande verdade é que essa pressão ficou muito grande e começou a acontecer o medo de você ter um decoupling – um desacoplamento da economia norte-americana da chinesa. Por incrível que pareça, os norte-americanos estão morrendo de medo de que isso aconteça”, afirmou Moreira.

China não se curvou

De 2 de abril, quando foram anunciadas as chamadas tarifas recíprocas, até agora, o que se viu também foi uma postura firme da China, que não se curvou à pressão, até pelo tamanho da dependência da economia norte-americana da chinesa.

“Tem grande capacidade instalada na China, tem um monte de empresa de tecnologia de ponta lá, fazendo as coisas mais baratas, sendo mais eficiente. Os EUA vão falar o seguinte: ‘Ah, eu não compro mais!’. A China, então, vai buscar outros mercados: ‘Vou fazer novo acordo com a índia, com a Inglaterra, com a Alemanha’. Aí os EUA vão falar: ‘Não, não – é mentira!’. A China vai falar: “Problema seu. Já me readequei aqui’.”, disse Moreira.

A capacidade de resistir da China fez com que os Estados Unidos começassem a sentir medo. “Sem China, não tem Apple. Dell sem a China não é Dell. Qualquer empresa americana sem China não é empresa americana. Aí, de novo, os Estados Unidos voltaram atrás, e já tinham voltado com vários outros países”, completou.

Geopolítica global

A disputa entre as duas maiores economias do mundo, no entanto, não começou agora, conforme lembrou o fundador do ICL.

“Esse conflito comercial se estende já há alguns anos e vai se estender pelos anos que virão – não tenho a menor dúvida! Estamos vivendo uma troca de bastão em relação a essa liderança econômica do planeta”, pontuou Moreira.

Assista ao comentário completo de Eduardo Moreira no vídeo abaixo:





Fonte: ICL Notícias

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