Desconhecida da maioria da população, a especialidade médica de cirurgia de cabeça e pescoço, tem se mostrado eficaz no combate a diversos tipos de câncer, promovendo não só o tratamento curativo nos estágios iniciais, mas também as abordagens cirúrgicas preventivas, para pacientes com alto risco de desenvolvimento da doença, que se diagnosticada precocemente, tem as chances de cura elevadas para até 90%. Já nos diagnósticos tardios, pode cair para 16%, afirma o cirurgião especialista na área, Dr. Fábio Bindá.
O assunto foi abordado em live realizada pela Liga Amazonense Contra o Câncer (Lacc), no Instagram, em alusão à campanha ‘Julho Verde’, desenvolvida com foco na conscientização sobre os fatores de risco da doença, e que teve Bindá como convidado. A conversa foi conduzida pelo cirurgião oncológico voluntário da entidade, Manoel Jesus Pinheiro Júnior.
Na ocasião, Fábio Bindá procurou alertar sobre a importância de se buscar ajuda médica em casos de aftas e úlceras que demoram mais de quatro semanas para cicatrizar, feridas na boca e lesões repetitivas provocadas, por exemplo, pelo uso inadequado de próteses dentárias. “Caroços no pescoço, inchaços e lesões na língua com cor branca ou avermelhada, que se tornam permanentes, merecem atenção e devem ser investigadas por um especialista, pois têm grande risco de estar associadas a doenças malignas (câncer)”, frisou.
Segundo o cirurgião, o câncer de cabeça é o 5º na tabela de incidência no Brasil e representa quase 10% dos casos totais, o correspondente a 65 mil novos casos/ano. Médico da FCecon (Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas), unidade terciária considerada referência no tratamento do câncer na região, Fábio Bindá explica que, apesar de existirem medidas preventivas, os casos que chegam à unidade para tratamento, em sua maioria (quase 70%), estão no estágio avançado, o que requer uma abordagem mais invasiva e muitas vezes, mutilante.
Campo de atuação
“A área de atuação do cirurgião de cabeça e pescoço inclui as neoplasias malignas localizadas na boca – mucosa jugal, glândulas salivares/sublinguais -, orofaringe, amígdalas, laringe e pescoço, especialmente a região que abriga a glândula tireoide”, destacou o especialista. Cada área tem a influência mais forte de fatores de risco específicos. Na boca, laringe e faringe, por exemplo, os maiores influenciadores são: cigarro (o principal deles), etilismo, higienização inadequada, uso de próteses dentárias mal ajustadas e o HPV (Papilomavírus Humano). Já na glândula tireoide, o câncer pode ser esporádico, já que não tem fator de risco bem definido ou predominante.
Ainda no caso da tireoide, Fábio Bindá destaca que há o tratamento cirúrgico, que na fase inicial é bem eficaz, mas que pode necessitar de complemento, como a iodoterapia (administração por via oral, de iodo radioativo); e o preventivo, que trata da retirada cirúrgica da glândula, mesmo não havendo tumor ou nódulos, levando em consideração o histórico familiar/hereditariedade. “Há famílias em que três ou quatro pessoas desenvolvem esse tipo de câncer. Por isso, opta-se por remover a tireoide, quando o estudo genético apontar o risco hereditário. É o caso do câncer denominado ‘medular, que tem relação direta com a hereditariedade”, explicou. O tratamento é indicado, por exemplo, para o caso de irmãos.
Onco-Check Up e rastreio
De acordo com o médico, como no Brasil não há um programa de rastreio e seguimento para o câncer de cabeça e pescoço, o ideal é inserir no onco-check up anual, exames como a ultrassonografia de tireoide, a visita regular ao odontólogo e, no caso das políticas públicas, garantir uma vacinação eficaz contra o HPV em crianças e jovens que ainda não iniciaram a vida sexual, além de investir em campanhas que tratem dos malefícios do tabagismo e do alcoolismo.
“Outra medida simples, que pode fazer toda a diferença, é o autoexame. Assim como as mulheres são orientadas a apalpar as mamas, em busca de possíveis alterações, a população em geral também pode criar o hábito de, durante o banho, deslizar as mãos na região do pescoço. Com a ajuda do sabonete, é possível notar, por exemplo, caroços, inchaços e outras alterações indolores e, assim, buscar uma investigação médica mais aprofundada, que possa descartar ou detectar de forma precoce, a presença de uma neoplasia maligna”, explicou.